Harpa

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Ao voltar do trabalho, um pouco mais tarde que o usual, andava puta pelas ruas da cidade. Meu chefe havia me mandado ficar até cinco e meia da tarde fazendo absolutamente nada no escritório. Eu estava explodindo em estresse. Eram seis da tarde e eu caminhava pelas ruas já conhecidas, com uma cara de cu. Aparentemente, nada poderia me acalmar naquele momento.

Até que, uma música invadiu meus pensamentos. Era tocada por uma harpa, estava perto, apesar do som parecer um pouco abafado pelas vozes que ecoavam no trajeto. Por um momento, perguntei-me se não estaria imaginando aquele som.

Continuei caminhando e o som foi ficando cada vez mais perto, até que, passando por uma rua, eu tive certeza de que ele vinha de um dos prédios daquela passagem. Parei e fiquei ouvindo por um momento. Como era lindo.

Quase todo o estresse do meu corpo havia sido mandado embora, mas eu tinha que continuar indo para casa. Desfoquei minha atenção do som e lembrei-me da vida cotidiana.

Dei um suspiro e voltei a caminhar para casa.

...

No outro dia, meu chefe mandou-me sair mais tarde, de novo. Fiquei, não podia fazer nada, apenas pedi aos céus para que, no trajeto, aquela música pudesse encher meu corpo de calmaria.

Enquanto voltava para casa, a música voltou à adentrar meus pensamentos. Decidi ficar parada por uns instantes na esquina daquela rua. Ouvindo a harpa tocando tão perto, permiti-me viajar para diversos lugares que o estresse do dia a dia proibia-me.

Durante uma hora e meia, aquele que tocava harpa não parou por um momento, e eu só soube agradecer.

...

Nos outros dias, meu chefe não me pediu para ficar até mais tarde. Eu, porém, não voltava imediatamente para casa, ficava rondando na praça ou até mesmo adiantando trabalhos, apenas para ouvir a harpa que tocava todos os dias, às seis da tarde, enquanto voltava para casa.

Fiz isso durante algumas semanas, era até engraçado o sentimento de exclusividade que eu sentia quanto aquele som. Parecia que todos da rua escutavam, mas o som tinha única e exclusivamente a função de chamar minha atenção. Pelo menos, era nisso que eu queria acreditar.

...

Depois de algumas semanas, meu amigo Owen havia me chamado para um festival que teria na cidade. Eu não estava tão animada para ir, mas do mesmo jeito fui. Precisava de alguma diversão por tanto estresse passado nos últimos tempos.

...

O festival era incrível, havia uma diversidade gigantesca de comidas e jogos. Além de apresentar informações sobre o país de origem daquela festividade. Era lindo. Eram seis da tarde quando o som da harpa invadiu de novo minha mente. Olhei para Owen assustada, perguntando se ele também estava ouvindo. Ele, felizmente, disse que sim.

Vendo que eu estava muito interessada pelo som, ele me dirigiu até a origem daquela música.

A música vinha de um pequeno espaço com um chafariz. Sentada em um dos bancos, uma mulher de cabelos loiros reluzentes tocava sua harpa.

"Um anjo"- foi o que pensei, enquanto admirava aquela cena. A luz do sol deixava a atmosfera terrestre roseada, era quase um sonho.

De repente, um vento me despertou e notei que Owen já não se encontrava mais ali, eu também não estava mais no festival. A mulher que tocava a, tão conhecida por mim, harpa, aparentava nem ter notado minha presença.

Continuei admirando aquilo, por uma hora e meia.

Quando ela acabou, continuou de costas, passando as mãos pelas cordas de seu instrumento, fazendo com que o atrito se transformasse em um som leve e fantasioso.

Senti algo molhando em meu rosto.

"Lágrimas?"- pensei enquanto enxugava meu rosto.

"Não importa quantas vezes eu toque para você, no final, de alguma forma, você lembra da tristeza"- a mulher da harpa disse.

Olhei ao redor, não havia ninguém. Ela estava falando comigo.

"O que quer dizer? Você já tocou para mim antes?"- perguntei um pouco assustada.

Ela emitiu um som parecido com uma risada.

"Todos os dias"

Fiquei perplexa com tal afirmação.

"Mas como? Eu nem a conheço"- disse bem assustada.

"É incrível, sempre que chegamos nessa parte, você faz questão de esquecer tudo"- ela disse se ajeitando e olhando para mim.

De repente, o ar começou a faltar. Era como se eu começasse a afundar em águas invisíveis. A mulher levantou e chegou bem perto de mim, com as mãos em meu rosto começou a falar.

"Jamie, por que você não consegue superar? Não importa quantas vezes eu toque, você sempre da um jeito de esquecer. Não se lembra, amor. Eu não estou mais aqui, eu já toquei uma última vez para você. As últimas uma hora e meia antes de nunca mais tocar. Por favor, se lembre."- depois disso, ela voltou para o banco e recomeçou a tocar sua harpa.

Seis história de amor- DamieOnde histórias criam vida. Descubra agora