Se eu, não tivesse vivido tudo aquilo
Nem tivesse chorado o que chorei
Eu não saberia hoje o que sei
(Mafalda)
10 de setembro
São oito da manhã quando acordo, o que é bastante estranho tendo em conta que estou de férias. Contudo, o meu corpo está tão habituado a esta rotina de acordar cedo que nem nas férias me deixa dormir mais um pouco. Decido aproveitar que já estou acordada para ir dar uma pequena volta até à barragem, enquanto não está muito calor. Os meus pais e os meus avós ainda não acordaram, por isso pego apenas numa banana, antes de deixar a casa onde estou a gozar as minhas férias.
A aldeia onde os meus pais (e os meus avós) vivem – e a aldeia onde passei todos os verões da minha infância – chama-se Paio Mendes e fica a cerca de 4 quilómetros de Dornes, onde há a barragem e a praia fluvial, por isso eu vou de carro até à vila de Dornes, deixando-o num estacionamento de um restaurante e caminhando pelas ruelas até chegar junto ao rio. Descalço as sapatilhas e sento-me na areia, a contemplar a calma deste local, demasiado cedo para que esteja cheio de turistas e de jovens a banharem-se nas águas do rio.
Apesar destes dias estarem a ser bons para matar saudades da família, não são exatamente as férias que eu tinha planeado. Inicialmente, os planos seriam uma viagem com a Luísa, como de costume, mas este ano trocaram-nos as voltas e não conseguimos marcar férias em simultâneo para cumprir a nossa pequena tradição. Depois da conversa com o Bernardo, fiquei a ponderar seriamente comprar uma passagem para Londres ou para Manchester e ir visitá-lo, aproveitando para conhecer algumas cidades inglesas. Contudo, esses planos também acabaram por ir por água abaixo. Não que tenha propriamente acontecido algo que os tenha destruído, mas acho que eu e o Bernardo já estivemos num ponto melhor da nossa amizade.
A ida do Bernardo para Manchester afastou-nos mais do que eu estava à espera. Sabia que, inevitavelmente, isso ia acontecer, porque íamos passar a estar em cidades e países diferentes, mas achei que... Não sei exatamente o que achei, mas pensei que as coisas seriam diferentes. Ambos mostrámos a nossa vontade de manter contacto e, nas primeiras semanas, trocámos mensagens quase todos os dias e até fizemos videochamada algumas vezes, mas depois as respostas às mensagens começaram a demorar a chegar e algumas nunca chegaram, sequer. Eu sei que o ritmo de vida do Bernardo é muito diferente do meu e que ambos trabalhamos bastante, o que obviamente tem influência, mas não esperava que quebrássemos o contacto tão rapidamente e que acabássemos por nos afastar desta forma. Agora trocamos uma mensagem muito esporadicamente, só para saber se "está tudo bem", e pronto, é isso.
Tenho de confessar que esta situação me deixa triste, porque eu estava realmente feliz com a ideia de ter o Bernardo novamente na minha vida, de podermos ser amigos e, como o próprio disse, de "recuperar o tempo perdido". Achei mesmo que estávamos empenhados o suficiente para não nos afastarmos desta forma e não perdermos o contacto. Não é culpa dele, é culpa dos dois. Afastámo-nos os dois, sem um motivo específico, apenas pelas circunstâncias da vida, acho eu. Talvez tenhamos sido irrealistas ao achar que a distância não seria um entrave. Ambos quisemos acreditar que podíamos continuar a construir uma amizade forte, mesmo com quilómetros de distância a separar-nos, mas está provado que isso não é possível.
Acho que o que me deixa mais triste no meio desta situação toda foi que o regresso do Bernardo à minha vida fez com que se reacendesse uma pequenina chama dentro de mim, criou-me algumas expetativas. Sinto-me realmente grata por ele me ter dado uma oportunidade para falar, para lhe explicar o que realmente aconteceu e ainda mais grata por ele me ter perdoado e por me ter dado uma oportunidade de fazer parte da sua vida, de sermos amigos. Contudo, acho que a grande proximidade que logo surgiu entre nós, o facto de ter sido tudo tão simples e genuíno, me fez regressar aos tempos em que tudo entre nós era fácil e fluido.
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O Erro Mais Bonito | Bernardo Silva ✔️
Fanfic«Se eu não fosse atrás de mim nos teus silêncios Nem me perdesse dentro dos teus braços Talvez vivesse sem este castigo Lenta é esta lágrima que cai no chão E ainda me lembra do calor das tuas mãos Que já não me apertam contra o teu corpo (...) Tu f...