05

454 19 1
                                    

19 de junho

(Bernardo)

Depois da corrida matinal à beira-mar, eu regresso a casa para tomar um duche e para me preparar para o almoço de família em casa dos meus pais. Vão poder reunir os três filhos, o que nem sempre é possível, por isso estão obviamente radiantes. Além disso, a Maria está grávida do primeiro filho e a família está toda em êxtase com a novidade e ansiosa com a chegada do rebento, eu incluindo. Vou finalmente ser tio!

Tomo um banho e despacho-me razoavelmente rápido, por isso ainda fico um pouco pelo sofá a ver televisão antes de ir para casa dos meus pais. Vou dar uma vista de olhos às redes sociais e há uma notificação em particular que capta a minha atenção. Abro então as mensagens diretas do Instagram para confirmar a mensagem recebida.

@mafaldagribeiro: Olá, Bernardo. Eu já sei que não me queres ouvir nem ver, mas acho realmente que precisávamos de conversar. Ter uma conversa séria e civilizada como dois adultos que somos. Acho que mereço uma oportunidade para te explicar o que realmente aconteceu naquela noite há 7 anos e para clarificar o que aconteceu na noite do jantar. Acho que ficaste com ideias erradas sobre mim e eu não quero isso.

@mafaldagribeiro: Não sei se vais ver esta mensagem, mas se vires, diz alguma coisa, por favor. Fico à espera.

Após ler as duas mensagens enviadas pela Mafalda, eu fico simplesmente a encarar o ecrã do telemóvel sem saber o que responder ou sequer se devo responder. Depois de ter ficado a bater um bocado mal sobre o assunto, forcei-me a esquecer novamente sobre a existência da Mafalda (ou a tentar, pelo menos) e a parar de pensar em tudo o que aconteceu. Tentei apagar o nosso encontro da minha cabeça, assim como a forma como a noite acabou. Por isso, não estava minimamente à espera destas mensagens. Não sei o que dizer. Não sei se quero falar com ela, se quero ouvir o que ela tem para me dizer. Decido não responder nada, por agora. Preciso de refletir sobre o assunto, pôr as ideias em ordem antes de decidir dizer alguma coisa.

Decido então sair de casa e ir até casa dos meus pais. Conduzo durante quinze minutos até à casa onde cresci, aproveitando a brisa fresca desde dia de início de um verão que se avizinha quente. Quando chego, o carro estacionado à porta indica que também a Maria já chegou. Toco à campainha, apesar de ainda ter a chave, para me anunciar e segundos depois é a minha irmã mais nova, a Francisca, quem abre.

- Alô, miúda. – cumprimento-a com um beijo na testa, como de costume – Fui o último a chegar?

- Mais ou menos. – ela ri – Faltam os tios, ainda. Mas sim, foste o último filho a chegar. E eu continuo a ser a preferida. – ela goza.

- Isso é porque continuas a viver cá em casa e a receber mimos. – alinho na brincadeira, passando o braço por cima dos seus ombros, enquanto caminhamos na direção da sala de estar, onde estão todos reunidos – Olá, olá, família. – anuncio a minha chegada, cumprimentando de seguida os meus pais, a minha irmã mais velha e o meu cunhado.

- Olha o senhor desaparecido... - a Maria diz – Ligar aqui à irmã que é bom nada...

- Eu é que sou o desaparecido? Já estou em Portugal há uma semana e ainda não me foste visitar. – brinco.

- Desculpa?! Tu é que chegaste, por isso tu é que tinhas de me ir visitar. – ela finge-se ofendida, abraçando-me logo de seguida – Tive saudades tuas.

- Também tive saudades tuas, barriguda. – brinco, beijando carinhosamente os seus cabelos.

Aproveitamos o momento em família para pormos as novidades em dia e passado algum tempo os meus tios juntam-se a nós, por isso vamos até ao jardim para iniciarmos o nosso almoço.

O Erro Mais Bonito | Bernardo Silva ✔️Onde histórias criam vida. Descubra agora