Minha opinião não é a "correta" nem corresponde a uma verdade absoluta dos fatos. Todavia cabe ressaltar que tudo que é expresso aqui e nos demais capítulos são frutos de empirismo, isto é, opiniões oriundas da MINHA vivência. Isto significa que embora você possa ter tido uma ótima experiência com algo, isso não se aplica a mim e vice-versa. Discussões e comentários sempre são bem-vindos, contanto que a educação e civilidade sempre prevaleçam.
21/02/2021
Século XXI. Não é preciso se aventurar muito por aí para se notar como há muitas pessoas com histórias de suas desventuras, decepções e desilusões amorosas, talvez até você mesmo(a), caro leitor(a), tenha sido uma dessas vítimas desse tipo de enredo ou, quem sabe, o algoz de sua própria relação. É praticamente unânime a opinião de que as relações interpessoais de cunho amoroso/romântico estão se tornando cada vez mais difíceis. Às vezes tem-se a impressão de que vivemos numa Torre de Babel na qual ninguém consegue se entender. Todos querem ser ouvidos, mas quem quer ouvir o próximo? Talvez fosse pertinente mencionar as quase apocalípticas percepções de Bauman de como as relações em geral tem se tornado "líquidas", efêmeras, mas eu acredito que falar disso é chover no molhado, tem um monte de canal no YouTube e site/blog por aí que faz menção ao sociólogo e filósofo e acaba perdendo um pouco de sua autenticidade. Obviamente que a referência bibliográfica é imprescindível de acordo com o que eles se propõem, no entanto, a impressão é que é mais do mesmo, como se não houvesse mais nada de novo para se pensar. Ok, as relações são "líquidas", mas e aí? Cadê a proposta para se tentar mudar (e se devemos mudar)? Estas são algumas das minhas inquietações quando paro parar pensar em como essa temática é abordada e até mesmo quando reflito sobre como as minhas relações me trouxeram até aqui e como as vejo atualmente.
Aqui mesmo, no Wattpad, é possível notar que a maioria esmagadora das obras publicadas são do gênero romântico, quase sempre atrelados ao erotismo e fetichização. Por exemplo, tem-se o clichê da funcionária recém contratada pela empresa e que desenvolve uma relação com o CEO (Chief Executive Officer= é basicamente um diretor executivo), a moradora do morro ou uma jovem abastada/burguesa de qualquer outro lugar que se apaixona pelo traficante. Cabe ressaltar que não vou entrar no mérito de discutir sobre a responsabilidade que autores e autoras têm com a forma que essas obras são escritas tampouco acerca da qualidade que possuem. O ponto que eu quero elucidar é que especificamente no Wattpad, o gênero de romance é o mais produzido e consumido. E é justamente aqui que entra a questão paradoxal. Obviamente que a afirmação a seguir é oriunda de completo empirismo — embora eu considere fazer uma enquete no futuro para provar o ponto —, mas a maioria dos autores e autoras (a maioria é do sexo feminino) são pessoas alheias ao amor ou que pelo menos o dizem ser. Eu já tive contato com muitas dessas pessoas em grupos de divulgação em outras redes sociais e boa parte alega que se relacionar é um grande problema, que não possuem tempo, que dá trabalho, que não vale a pena. Alguns vão mais longe, até mesmo afirmando que desistiram do amor. Ora, mas por que, então, escrever sobre o amor?
Infelizmente não tive liberdade com nenhum autor ou autora para fazer essa indagação sem parecer invasivo, mas eu tenho algumas teorias. Uma delas é baseada em uma das desculpas mais concebidas sobre o porquê de alguém não se relacionar amorosamente com o próximo, que é a de que "dá trabalho". Eu tenho 25 anos de idade e acredito poder dizer que faço parte de uma geração mais imediatista, que prioriza a zona de conforto e segurança acima de tudo. Existe uma tendência cada vez mais forte de querer conquistar bens, alcançar realizações sem correr riscos. Isso tem se aplicado a todas as instâncias da vida, incluindo o amor. É claro que relações tóxicas/abusivas são um risco para qualquer casal. Que compartilhar amor, carinho e atenção demanda uma parcela de seu tempo que poderia ser usufruída de alguma outra maneira. Certamente a forma como você planejou seu futuro anteriormente acaba por mudar caso leve a sério o compromisso que tem com seu parceiro ou parceira. E isso necessariamente representaria um problema se o sentimento é recíproco? Creio que não. Há uma frase no filme O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei, o último da trilogia, que sintetiza minha conclusão acerca de todas as essas justificativas: não existe triunfo sem perda, não há vitória sem sofrimento, não há liberdade sem sacrifício. Sair de casa também tem riscos. Você pode ser vítima de um latrocínio, ser atropelado por um veículo, ser acometido pelos mais variados tipos de imprevistos e fatalidades. Ainda assim, você não deixa de sair de casa. E por que deixaria de amar?
Há ainda que afugenta o amor pelos escapismos da vida. Aplicativos de relacionamentos mostram-se um subterfúgio para aqueles que tentam suprir suas necessidades sexuais, visto que muitas pessoas tendem a acreditar que a carência que sentem muitas vezes pode ter origem desse desejo carnal, o que parcialmente pode ser verdade. Cedo ou tarde alguns se deparam com a epifania de que estão tentando preencher o vazio de suas existências com algo que o sexo por si só não é capaz fazê-lo, não pela vida toda, pelo menos. Tal como a dopamina que nos torna escravos da nossa percepção do prazer, o sexo casual acaba sendo a válvula de escape para esses indivíduos, que veem na atividade quase que um esporte, mascarando um problema que se recusa a encarar. Claro, isso não representa todas as pessoas que utilizam esse tipo de serviço e, embora ele já tenha dado origem a relacionamentos duradouros e frutíferos, é consensual que essa não é a proposta dele. Cada pessoa é livre para fazer o que bem entender de sua vida e definir o seu próprio rumo, assim como cada um tem sua própria percepção de felicidade. E talvez caiba nesse momento refletir se a felicidade talvez seja deitar-se com um indivíduo diferente por semana ou até por dia, dividindo sua própria intimidade com estranhos constantemente e sendo usado(a) de estepe emocional por outrem.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Reflexões de Ninguém
RandomUma compilação de divagações acerca dos temas mais aleatórios possíveis. Aqui não existe quaisquer compromissos com embasamentos bibliográficos, portanto, não é nem um pouco recomendado que se utilizem de minhas palavras para corroborar teorias ou p...