Minha opinião não é a "correta" nem corresponde a uma verdade absoluta dos fatos. Todavia cabe ressaltar que tudo que é expresso aqui e nos demais capítulos são frutos de empirismo, isto é, opiniões oriundas da MINHA vivência. Isto significa que embora você possa ter tido uma ótima experiência com algo, isso não se aplica a mim e vice-versa. Discussões e comentários sempre são bem-vindos, contanto que a educação e civilidade sempre prevaleçam.
21/02/2021
O título menciona o paradoxo do amor, mas garanto que não tem nada a ver com o soneto de Camões. Tem mais a ver com o desgaste do nosso próprio olhar para um sentimento tão universal, mas que ainda coloca muitas pessoas em dilemas e confusões. Não sei se isso tem a ver com a influência da literatura ou com o advento da produção cinematográfica, mas o fato é que muitas vezes obras dessas formas de arte colocam um sentimento tão comum num patamar extremamente sublime, algo inalcançável. E o resultado disso é que as pessoas passam a idealizar demais, colocar o amor num pedestal quase que transcendental. Isso nos leva a tal da Síndrome de Madame Bovary. Resumidamente, trata-se de um comportamento no qual as pessoas constantemente se sentem frustradas e insatisfeitas com suas relações devido a uma quebra de expectativa da sua figura de amor perfeito, afinal, as pessoas são imperfeitas por natureza. Madame Bovary era a protagonista fictícia de um livro que levava seu nome, escrito por Gustave Flaubert no final do século XIX. Permanece assustadoramente atual para os dias de hoje. Compreender esse fenômeno nos dá algumas pistas de como resolver — ou pelo menos amenizar — esses impasses e complicações amorosas, tais como:
1- Evite criar padrões irreais/utópicos sobre os outros: isso vale tanto para o aspecto físico quanto sentimental. Será mesmo que apenas aquele "príncipe"/"princesa" encantada da barriga tanquinho e demais atributos atléticos, da voz perfeita, com os exatos mesmos gostos que você é que te fará feliz? E se essa pessoa existir, o que garante que ela vá gostar de você? E quantos de nós atendemos a esses padrões absurdos que nós mesmos impomos? Será que a gente se olha no espelho antes de querer rejeitar alguém por ser "feio(a)"? Ser seletivo é importante, mas ser realista igualmente o é.
2- Entenda que as pessoas têm defeitos assim como você também tem: quando estamos na etapa de conhecer um ao outro, é mais do que normal querermos mostrar o nosso melhor. Só que isso não isenta ninguém de ter defeitos. A gente tem a real noção do tamanho desses defeitos através do convívio. Por ele, sabemos o quão dispostos estamos a conviver e lidar com os defeitos do outro. Isso não significa que na primeira adversidade nós devemos deixar o outro sozinho, longe disso. Cedo ou tarde, nós também acabamos mostrando o nosso pior lado ao outro e ele(a) também irá pensar se vale a pena estar ao seu lado sabendo como você é de verdade. Trata-se de uma questão de honestidade; a pessoa tentou mascarar isso de você ou foi algo que veio à tona pela ocasião? O tempo e o convívio são os melhores recursos para se descobrir uma pessoa como ela é. Caso esteja fingindo, ela não conseguirá manter o personagem por muito tempo.
3- Compreenda que a vida real é diferente da ficção: por mais que aquele romance piegas do filme que você viu ou aquela situação incrível do hot que você leu sejam tentadoras, a vida real é algo totalmente diferente. Na ficção, existem personagens, cenários e situações prototípicas, isto é, feitas para cumprir um papel específico de modo a justamente alimentar aquilo que você nutre na sua cabeça. Não me entenda mal, isso não significa dizer que a realidade é necessariamente ruim, pelo contrário. Ela não é linear como uma narrativa e o potencial de você ser ainda mais feliz que personagens de livros, novelas ou filmes é ainda maior. Todavia ser feliz não é o ponto final da vida real e o potencial de acontecer muita merda no meio do caminho também é enorme. E não é por sabermos que os problemas são iminentes na vida que deixamos de vivê-la.
4- Reflita sobre o que é realmente essencial para você: coloquemos a hipotética, mas plausível situação: um(a) namorado(a) que te ama, faz qualquer coisa por você e demonstra constantemente o quanto você é querido ou querida para ele(a). De repente, apareceram as eleições e você descobre que ele votou no candidato ou candidata X, o mesmo ou mesma que você atacava fervorosamente em suas redes sociais sempre que havia oportunidade. Para alguns, isso seria motivo para, no mínimo, uma DR ou até mesmo um término. Ou então imagine-se como um sujeito perdidamente apaixonado por futebol, enquanto que seu parceiro ou parceira simplesmente detesta, mas NÃO diminui seu gosto ou o(a) inibe de continuar com seu apreço pelo esporte. A relação se tornaria "chata" por esse motivo? Nesses dois cenários, o fato da ideologia política e do gosto pessoal não estarem alinhados entre ambos não configura desequilíbrio e sim uma simples diferença. São coisas que ambos podem conviver de maneira harmoniosa e com maturidade. Esses aspectos, ao menos no meu ponto de vista, são triviais. O que talvez valha mais a pena discutir numa relação séria e de longo prazo são questões como saber se o desejo de ter filhos é mútuo, lugar onde morar, fidelidade, demonstração de amor e afeto etc.
Para encerrar, gostaria de ressaltar que especialmente no que cerne os itens 1 e 2, não significa que a pessoa não possa ter seus critérios na hora de escolher alguém, espero que isso não seja distorcido. É claro que eles são importantes para se escolher o indivíduo com quem dividirá sua intimidade no sentido mais abrangente possível. A ponderação cabe quando, por exemplo, se sente sozinho(a) ou tem a sensação de que ninguém gosta de você, mas no fundo, é porque a tal "pessoa certa" não apareceu, quando há tantas outras incríveis mais próximas do que imagina e que você deixa de conceder oportunidade ou as vê com desdém só porque não atendem a pré-requisitos que não são importantes ou estruturantes em uma relação.
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Reflexões de Ninguém
AcakUma compilação de divagações acerca dos temas mais aleatórios possíveis. Aqui não existe quaisquer compromissos com embasamentos bibliográficos, portanto, não é nem um pouco recomendado que se utilizem de minhas palavras para corroborar teorias ou p...