Dizem que o melhor que pode acontecer em um pesadelo é o despertar, mas para mim, é aí que o verdadeiro inferno começa. O medo e o pavor ainda correm em minhas veias devido ao sonho ruim. A noradrenalina faz meus pulmões inflarem e contraírem de forma irregular e acelerada, as batidas rápidas e fortes do meu coração ecoam em meus tímpanos como trovões em meio a uma tempestade, porém, diferente de todos os filmes, eu não sento na cama e tento me recuperar, pois mesmo acordada, continuo presa em minha mente. Meu corpo tornou-se pedra, imóvel, controlo apenas minhas pálpebras, pesando entre o sonho e a realidade.
No canto de meu campo de visão, a sombra atrás da porta parecia tremeluzir como fumaça, moldando-se no que parecia uma silhueta preta entre escuridão, até que um par de olhos e um sorriso macabro cheio de dentes distinguiram-se maliciosamente do grande borrão devido a luz oscilante da lua que entrava pela janela e olharam diretamente para minha alma ecoando uma gargalhada horripilante dentro do meu ser. Logo senti um calafrio fino descendo por minha espinha, enquanto todo meu corpo berrava uma só palavra: "Perigo".
Enquanto o completo pavor por aquela figura tomava conta de mim, senti uma brisa cortante em meu pescoço e foi aí que meus sistemas entraram em choque, o terror me tomou por completo e se antes meu ser gritava "perigo", agora até mesmo esta palavra seria um eufemismo ao completo pânico instaurado dentro de mim. Quando direcionei meus olhos a figura que estava a poucos centímetros de minha pele, me deparei com uma mulher muito magra, de olhos fundos e cabelos enrolados, ambos negros como a noite de lua nova.
Assim que esta percebeu minha atenção em si, deu um sorriso largo e seus olhos brilharam em pura maldade, como se me ver naquele estado de pavor fosse a sua máxima euforia, seus lábios abriram-se lentamente e pude ver a gargalhada se formar atrás de sua garganta, enquanto esta afundava o colchão do meu lado, engatinhando lentamente como um predador se aproxima de sua presa.
Seus dedos longos e finos alisaram minha bochecha de maneira áspera enquanto subitamente seus pés gélidos subiam em minha barriga. Logo, a briga entre seu peso e meus pulmões começou a ser travada, mas infelizmente, a sorte não estava do meu lado. Me esforçava em cada inspiração, mas cada vez estava mais difícil conseguir ar. Ela, por sua vez, gargalhava cada vez mais.
Sua mão dançava entre meu corpo de modo asqueroso, as vezes parava no meu pescoço, às vezes forçava ainda mais minhas costelas, parecia ponderar qual seria a forma com a qual me mataria, qual a daria mais prazer em ver, e cada vez mais, meu corpo só conseguia pensar em um resultado iminente: A morte.
Sinto alguma coisa subindo em minha garganta rasgando-a, uma pequena bola negra escapa entre meus lábios e tremula em minha frente emanando uma aura completamente pesada. Será que ela iria comer minha alma? Será que nem ao menos na morte eu encontraria paz? São perguntas que pairam em minha mente. Sua gargalhada cessa abruptamente e seus olhos parecem hipnotizados pela orbe, apenas um sorriso vitorioso paira em seus lábios. Sua boca então se abre e se aproxima lentamente para capturar a massa escura como se fosse a melhor comida do mundo, meus olhos piscam lentamente e assim que ela fecha o maxilar ao redor desta, pisco mais uma vez e... nada.
Com uma inalação desesperada me sento na cama subitamente e olho aflita pelo meu quarto, eu estou sozinha. Completamente solitária em uma poça de suor. Meu corpo treme involuntariamente e lágrimas caem em meu rosto, eu preciso de um banho urgentemente. Vários minutos se passam até que eu me acalme, abraçada em minhas pernas, limpo meu rosto encharcado por lágrimas e suor, engatinho até a beirada da cama e ouso por meu pé no chão, não sabendo se minhas pernas já estão suficientemente confiáveis para andar.
Assim que consigo me movimentar, caminho lentamente até o banheiro e tomo um banho frio. Não é a primeira vez que essas coisas acontecem, pesadelos sucedidos de paralisia do sono têm me perseguido pelo menos desde o começo da semana. Primeiramente achei que era por conta da visita de Inês a minha mente, mas agora nem sei mais, fazem semanas desde que o corpo seco foi derrotado, Eric não está mais nem neste estado, não faz sentido ser simplesmente culpa dela.
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Solitária {Marinês}
أدب الهواةUma inimiga do passado volta a assombrar Inês, agora fragilizada pela perda de seus entes queridos. Apenas com uma certa policial como braço direito, a mulher tentará proteger a Vila Toré e as entidades que restam a todo custo, e em meio a todo o ca...