Analista de Busão

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  Todo mundo escreve por um motivo, qual o limite do que chamamos de arte, do qual chamamos de língua?
  E a lingua que se fala, até onde ela chega, onde pode ser arte, e como vai parar nos cotovelos?
  Quando falamos com os olhos é de tão digna beleza que me encantei por uma moça no ônibus, levemente estabanada, de voz perene e olhar reluzente, não precisava dizer uma palavra para que  se entendesse, poucas almas puras...
  Alguns são mais radicais, marca na pele a arte de outros, que se torna sua até o fim da vida, mas o que significa? Só quem carregar é capaz de responder, e aqueles que não marca a si, está também querendo dizer algo?
  Todos nós temos algo a falar, então como se expressar?
  Não há certo ou errado, início ou fim, pra mim, a vergonha é a única errada dessa história, que por vezes nos impede de transcrever o que está na memória, ou na nossa própria história, por medo de vagos julgamentos passageiros.
  Certo é aquele que fala, mesmo sendo ele cotovelo.
  Ao meu lado no ônibus, havia uma outra moça, estudando legislação penal, aquilo pra mim foi arte.
  Que pena dura ela tinha que pagar! Se abster de seus momentos de lazer pra saber julgar, aprender é um processo difícil, ainda mais em um ônibus cheio sentada no fundo que balança, mas me mostra que a vida é sacrifício.
  Prioridades são cruciais, várias mentalidades diferentes se esmagam diariamente nos ônibus, cada prédio e edifício, quantas mentes ativas prontas pra virar poesia?
  Mas muitos que se jogam a falta de vergonha são chamados de loucos, não é um adjetivo ruim, mas é mau quisto.
  Alguns fazem por amor, outros por dinheiro, outros por puro passa tempo. O tempo passou naquele ônibus, em poucos segundo olhando para aquele olho vibrante, que me fez vibrar os pelos do corpo e a espinha, quando vi, tinha que descer do ônibus.
  Estava eu perdido, literalmente, havia pegado o ônibus errado, torcendo pra que ela descesse no mesmo ponto que eu, pra que eu me perdesse numa conversa, ou troca de olhares, mas quando sai de seus olhos atentos, percebi que ela havia descido pontos antes de onde era minha parada pra voltar ao meu caminho de frequência.
  Talvez nunca mais a verei, talvez outro olhares iguais passaram diante dos meus.
   Fico aflito com a falta dessa comunicação pelos cotovelos de São Paulo. Um homem um banco a frente assitia a vídeo em uma rede social, sonolento, eu quase não conseguia deixar de olhar para os vídeos de cachorrinhos, lustres, carros... Então pensei: "E isso que nos cala?"
  Todos no ônibus olhavam para tela, a moça de olhar sincero não, a outra ao meu lado pagava penitência esticando seus estudos, a do meu lado esquerdo postava sobre um "rolê" com os amigos, mas será que eu só fui capaz de reparar em tudo isso, por ter pego o ônibus errado, e ficar preocupado com o ponto que tinha que descer?
  Então o ponto é: com quanta gente ao nosso redor nós importamos, e quantas delas carregamos em nossos celulares?

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