Capítulo 02

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  O despertador marca exatamente oito e meia

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  O despertador marca exatamente oito e meia. O som leve, mas repetitivo, é o suficiente para me acordar do meu próprio mundo. Desligo o alarme e verifico se o barulho acordou Akantha.

  — Ele não vai voltar nunca!? Tch.

  Coloco minhas pernas para fora da cama e entrelaço meus dedos em minhas mechas curtas e ruivas. Suspiro pensando em tudo que terei para hoje. Preciso de uma ducha.

  Meus pés andam levemente até a porta que isola o meu espaço pessoal. Assim que entro na sala avisto ele jogado no longo sofá, seu cabelo escuro junto com seus cachos me lembram uma maré travessa, seu olhar perdido faz eu me sentir sem ar, sem rumo, sem sentido.

  — Bom dia, doce. Dormiu bem?  — Virou sua atenção para mim.  — Parece bem cansada, quer que eu faça café enquanto você joga uma aguá no corpo?  — Eu não o respondo e ele fica confuso por alguns segundos.  — Ah! É porquê estou assistindo nossa série? Me desculpa doce, eu ia te acordar mas você estava dormindo tão bem que eu relutei. Mas você não perdeu muita coisa, relaxa.

  — Está tudo bem, amor  — respondo baixo e com um leve sorriso cansado.

  — Com quem está falando?  — Me observa com uma expressão neutra, onde suas leves olheiras realçam sua aniquilação de qualquer emoção.

  — Não é... Eu... Nada.  — Apresso os meus passos até a cozinha sem paredes.

  — Não deve ter dormido o suficiente para estar sonhando acordada — falou voltando a assistir o programa.

  — Sim... Sonhando.

  — Eu me sinto morando com uma esquizofrênica. — Suspirou com seu sorriso de canto.

  Ignoro seu comentário e começo a fazer meu café, quando ele não precisa mais de minha atenção eu me direciono ao banheiro exagerado que ganhei de minha mãe junto à esse flat nobre.

  [...]

  Uma xícara da minha bebida favorita, um caderno verde bem enfeitado e um celular ligado em uma pagina sobre Embriologia. Assim, eu começei o dia na cafeteria do edificio azul. 

  — Tive um imprevisto. Estou avisando para não ficar me infernizando depois, falando que eu não me importo. Não me espere acordada.  — Akantha fica em pé do outro lado da mesa tranparente. Ele ajeita seu terno e desvia o olhar.  — Pode trancar a porta, eu recuperei minha chave.

  Sinto um olhar além do dele me observar, viro-me para a mesa da frente e as meninas estão obviamente cochichando sobre nós. Eu as encaro de volta e ele observa-as curioso ao perceber, elas riem baixo e viram-se para frente.

  — Enfim, tenho que ir.  — Ele simplesmente sai e eu acompanho seus passos.

  [...]

  São seis e doze da noite, em um domingo onde não podemos contar nem com as estrelas para nos guiar. Mais nenhum canal na programação da Tke me atrai, e acho que não vou poder contar com minha força de vontade para manter minhas pálpebras levantadas. Minha visão do ambiente vai cessando lentamente, até ser despertada pelo vulto de alguém passando. Olho para a chave na estante, eu certamente tranquei a porta, não tem como alguém invadir sem eu ouvir. Uma sombra passa por trás de mim e eu apenas desligo a tv. Ando até a cozinha em busca do meu remédio para dormir, vazio.

  Vou em busca da cetamina e bato o pé no sofá quando vou correr de volta para a cozinha.

  — Fugindo de novo Mayazinha? Que covarde da sua parte.

  — Nós somos apenas coisas da sua mente, não é o que a mamãe dizia? Somos apenas sua frustação, “docinho”. — Da ênfase no apelido.

  — Pegou pesado.

  — Você acha?

  — Até parece!

  Ouço-os correrem ao meu redor. Me levanto com o remédio intacto e vou até a cozinha, onde o deixo em cima do balcão.

  — Não nos negue Mayazinha.

  — Irá nos tratar como sua mãe te tratava?  — pergunta com uma voz magoada.  — Por que apenas não acredita em nós?

  — Precisamos da sua ajuda Mayazinha.

  — Queremos ver alguém chorar — sussurram em uníssono.

  Corro para pegar o próximo ingrediente abrindo a porta do quarto bruscamente.

  — Esqueça, ela apenas faz a vontade do tal de Akantha.

  — Aquele insurpotável, você acha mesmo que ele te ama, Mayzinha?

  — Deve estar se declarando para outra agora.

  — Você também percebeu que ele se aproveita dela?

  — Como não perceber!?

  Por mais que eu me afaste, as vozes ecoam em alto e bom som, como se estivessem me seguindo, amarradas a mim, presas em minha mente. Finalmente tenho os três ingredientes, eu só preciso de um pouco dessa bebida tão desejada no momento.

  — Ela vai mesmo fazer isso?  — riem com suas vozes infantis.

  — Me deixem em paz! Não necessito de vultos repetindo os meus pensamentos! Seus idiotas, não preciso de vocês para me machucar! — Lágrimas escorrem por minhas bochechas, mas por frustação ou melancolia?

Meu telefone toca mais alto que tudo e de repente não ouço mais nada além do som estridente, ando um pouco mais rápido até o mesmo, ao pega-lo leio a palavra "mãe" largada no meio da tela. Corro para o banheiro para jogar a água corrente e gelada da bica bem no centro do meu rosto. Ela tende a ligar novamente e eu só aceito depois de respirar fundo algumas vezes.

  — Mamãe?

  — Por que demorou para me atender?

  — Estava ocupada e longe do telefone — respondo, ainda meio abalada.

  — Hum. Precisa de algo? Dinheiro, comida?

  — Não... Eu e o Akantha fizemos a compra do mês essa semana.

  — Que bom. Mal vejo a hora de você conseguir trabalho no hospital e parar de me extorquir — bufa estressada. — Maldito dia em que aquele homem presunçoso foi me engravidar.

   — ...

  Ela fala mais algumas coisas que minha mente se nega a processar. Enquanto me encaro no espelho eu observo minhas olheiras, meu cabelo bagunçado, minha roupa amarrotada... E meu olhar perdido. Olhos marrons, os mesmos que do meu falecido pai, aquele que um dia fez eu me orgulhar de tê-los, mas agora... Sinto que estou manchando sua imagem ao ter suas mesmas iris, mesmo tipo sanguineo e um dna concordante. Meu pai... Umas das únicas pessoas por quem eu quiz viver, e a outra...

  — Ela está em transe?

  — Será que o show acontecerá hoje? — indaga animado.

  Mecho levemente os meus olhos escuros para observa as duas sombras atrás mim. Minha respiração acelera, franzo a testa deixando explicita a minha raiva, minha mão treme mas não me impede de ser impulsiva. Me viro em um piscar de olhos e jogo o meu celular onde eles se encontravam, enquanto grito para me deixarem em paz. Minha respiração é o único som no ambiente, meu telefone quebrou e eu não estou sã.

  Ando esbarrando em tudo e finalmente termino o boa noite cinderela, engulo tudo de uma vez e vou direto para o quarto. Tranco a porta e jogo a chave por baixo da mesma, deito na cama sem me cobrir e tampo meus ouvidos com os travesseiros feitos de pena, abafo ao máximo todos os sons existentes no momento, apenas pressiono minhas pálpebras desejando que eu apenas deslogue desse dia, tormento, estresse, dessa realidade.

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