Capítulo 11

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Nota da autora: possível gatilho com abuso infantil, por favor, não leia se isso for sensível para você. Para aqueles que querem pular a cena, não leia o que está em itálico. Após o flashback (em itálico) a escrita segue sem gatilhos.

Boa leitura! 



***

(Storybrooke, há 50 anos)

Suas mãos estavam extremamente doloridas. Os nós dos dedos ensanguentados, as lágrimas queimavam os olhos, mas não caíam. Ele não poderia permitir que elas caíssem. Era isso, ou ter mais uma vez aquela maldita régua acertando suas mãos. A dor era tão forte, que mal conseguia sentir o que fazia. As teclas do piano lhe davam pequenos choques nas pontas dos dedos e aumentavam o seu sofrimento. Não entendia por que sua mãe o obrigava a isso. Não entendia como os adultos poderiam ser tão cruéis. Ele queria brincar lá fora, correr e se divertir como as outras crianças. Mas George não era como as outras. Ele era um príncipe.

— Concentre-se. — Seu professor o tirou de seus devaneios.

— Aumente para três palmatórias. — A voz de sua mãe, a rainha, ecoou pelo salão musical fazendo o garoto se encolher. — Caso ele erre mais uma vez a nota.

— Por favor, eu preciso descansar... — suplicou com seu timbre infantil e trêmulo.

-— Não seja fraco! – A rainha gritou, se aproximou e desferiu um tapa em sua cabeça. — Nenhuma hora a menos de ensaio, George. Eu já lhe disse que os desistentes sempre perdem antes mesmo de começarem.

— Vamos lá, mais uma vez... — O professor de bigode preto e rosto gordo indicou o som que gostaria que ele reproduzisse.

Pelo menos duas vezes por semana, as suas tardes eram verdadeiras torturas. Não só as aulas de piano e violino, mas também tinha esgrima, pelo menos duas línguas diferentes do idioma petroiano, economia, política e literatura clássica. Os castigos eram variados. Palmatórias, refeições racionadas, surras, dias sem nem ao menos ver a luz do Sol trancado em seu quarto com as cortinas fechadas e ficar ajoelhado em frente à mesa da mãe, até que ela terminasse seu trabalho. 

No entanto, a punição que ele mais temia era a que sua mãe mais lhe dava. Havia um quarto, uma espécie de armário, perto da cozinha. A rainha o trancava ali durante dois dias inteiros ou mais, apenas tomando água e saindo para ir ao banheiro. O calor ou o frio dentro daquela despensa eram extremos, dependia da estação da época e o corpo de George ia ao seu limite. Seu irmão, Leopold, por ser mais novo não tinha as mesmas penitências. Era o preferido entre os dois, e dificilmente tinha alguma responsabilidade ou tarefa a cumprir. Leopold seria rei, por isso deveria ser tratado como um nobre. Já George seria seu braço direito, o que era apenas uma desculpa para dizer que ele resolveria os problemas de Petroia, enquanto o irmão levaria o crédito, a fama e as riquezas do clã Swan.

Continuou com sua aula de piano. Não levara mais pancadas nas mãos, mas isso não diminuía a dor que sentia. Sabia que mais tarde, quando seu sangue esfriasse, iria chorar até adormecer. Seu pai tentava ajudá-lo, mas uma vez George o viu ser humilhado pela rainha. Ele sabia que não era certo, no entanto, se nem mesmo seu pai poderia se defender, o que um garoto de dez anos faria? Nada. Levantou-se após a aula e foi direto para seus aposentos a fim de se arrumar para o jantar. Deveria ficar apresentável e usaria luvas para esconder os hematomas nos dedos. Caso alguém perguntasse, deveria dizer que era um tratamento médico para problemas na articulação. Mesmo ele sendo uma criança, muitos acreditavam naquilo. 

A Leoa e a CorujaOnde histórias criam vida. Descubra agora