I

824 103 141
                                    

"— Eles são seres perigosos, meu querido neto. São fofinhos, mas porque estão fracos. Não confie neles nunca.

Eu acreditei em todos eles, porque não mentiriam para mim..."

Kim Seokjin

Quando eu era pequeno, ouvi meus pais chorando por semanas devido a morte de meu querido irmão, Kim Jun-myeon. Myeon era um caçador novato, me contaram que foi morto em combate. Cresci forçado a ser perfeccionista, no fundo mesmo, não sei bem que eu sou ou quem seria se tivesse crescido em outro lar. Segundo filho, o mais velho vivo, fui treinado, todos os dias, para me tornar o melhor de minha linhagem, baseado, apenas, em histórias que minha vó me contou quando pequenino.

O terceiro filho nasceu, uma garota, na verdade, Kim Jisoo, de pele pálida, lábios rubros, cabelos negros e finos, a pequena foi levada para ser criada nas Américas, por um lado da família que precisava de um representante. O quarto filho dois minutos depois de Jisoo, sim, um casal, Kim Jihyun, mas esse abandonou a família quando fez dezoito anos e nunca mais ouvi falar dele. 

Então, quando eu tinha sete anos, Kim Taehyung veio ao mundo. Com sua pele levemente mais dourada do que a dos outros filhos, uma pálpebra dupla apenas, lábios finos e longos, como seus olhos grandes. Sempre um garoto de feições engraçadas, Taehyung nunca foi bom em obedecer ordens.

Como irmão mais velho, sempre fui responsável por ele e treinamos juntos quando foi a idade.

Olhando para a cidade, do terraço do hotel sujo que encontrei para ficar temporariamente, penso no quanto o vi sofrer e nem sequer me importei.

'— Seokjin, como você pode ser tão nojento e frio?'

Eu sei, já ouvi isso tantas vezes, vindo dele mesmo. Taehyung partiu depois de um tempo, fez um curso de culinária escondido pela internet e sumiu para a cidade grande, tentar ter uma vida comum.

Apaguei o cigarro no parapeito de cimento, vendo o sol começar a nascer atrás de um dos prédios sujos do distrito. 

— Jin - ouvi a voz de Namjoon atrás de mim.

Kim Namjoon, meu primo e fiel parceiro de caça, anda se comportando um tanto esquisito. Desde que minha vó faleceu, e a família começou a entrar em uma crise grande, passou a fazer umas perguntas estranhas sobre o que fazemos.

Por que, como todo mundo já anda dizendo, o que fazemos é crueldade.

Minha mente se recusa a pensar sobre isso, porque se for... então... eu devo ser o ser humano mais nojento do mundo, e se eu for mesmo, prefiro morrer.

— São quatro da manhã - disse com as mãos nos bolsos. — Não dorme faz dias, andei pensando, que talvez deva começar a pensar sobre aquilo que d-

— Terapia?! - exclamei irritado. — Para com isso... como vou chegar para um terapeuta e falar que assassinei umas trinta pessoas mágicas que viram bichos?

— Então, confessa que são pessoas? - levantou uma sobrancelha e me irritei.

Vagabundo que sabe bem como mexer com a minha cabeça.

Passei a mão na minha cicatriz, lembrando do que aconteceu anos atrás... maldita marca que me lembra de um passado amargo, esse que me perturba sempre.

— Vai a merda. - respondi passando por ele e meu casaco foi puxado para trás até que ficássemos um na frente do outro. — Solta.

— Sabe, vim aqui pra avisar que eu cansei disso - me olhou nos olhos, os ventos matinais de Seul balançam meus cabelos negros e o topete loiro de Namjoon. Assim que ouvi isso, já sabia o que viria. — Olha, precisa entender, o amo como irmão, muito, mas não posso continuar nessa maluquice, sabe que só ando com você por pena, não quero deixar você sozinho...

O CAÇADOR E O FENECO: ECLIPSE LUNAR | yoonjinOnde histórias criam vida. Descubra agora