Um enorme sorriso

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- Viu! Eu disse! - A ratinha fala animada.

- Que droga... Não acredito que fiquei todos aqueles dias naquela terra assustadora, onde animais andam pelados nas ruas e não são civilizados, tudo isso para nada. Tudo que fiz foi em vão, trouxe a Alice errada. - McTwisp se lamentava, ele balançava a cabeça de um lado para o outro com uma de suas patinhas sobre sua cabeça e os olhos fechados.

- Eu disse!

- Não, fui eu quem disse! - Os irmãos recomeçam a briga.

- Eu ainda estou na dúvida... - Dodô fala pensativo.

- Eu não sou a Alice certa, por favor, me leve de volta para casa! - Olho desesperadamente para Absolem. Aquela alucinação estava durando mais tempo que o normal...

- Infelizmente eu não posso fazer isso... - Absolem fala calmamente.

- Não se preocupe, vamos levá-la para casa o mais rápido possível. - Mallymkum fala sorrindo.

Seu sorriso logo é substituído por uma feição assustada após ouvirmos um som de cavalos e passos correndo em nossa direção. Todos olhamos assustados para trás, não muito longe de onde estavamos, avistamos um homem em um cavalo, acompanhado de diversas cartas de baralho vermelhas e um bicho enorme com dentes afiados e garras.

- BANDERSNATCH! - McTwisp grita. Todos começam a correr para dentro da mata, corro atrás deles.

- ESPEREM! E-ESPEREM POR MIM! - Eu corria atrás de McTwisp.

Bandersnatch havia nos alcançado. Eu corria olhando para trás, assustada demais para conseguir desviar o olhar, bato com a cabeça em um tronco de árvore e caio no chão. Minha cabeça rodava e minha visão estava ficando turva e embaçada, estava ficando dificil acompanhar a cena que se desenrolava a minha frente. Um homem muito alto descia de seu cavalo, ele vestia roupas pretas, em seu rosto, uma enorme cicatriz em volta de seu olho esquerdo era parcialmente coberta por um tapa-olho vermelho em formato de coração. O homem agarra as orelhas de McTwisp, uma carta de baralho havia pegado Dodô, enquanto que os outros haviam fugido. Restava apenas eu ali. Vejo o homem com o tapa-olho apontar na minha direção, enquanto ordenava algo a Bandersnatch, o enorme bicho se vira na minha direção. Tento me levantar quando o vejo correndo até mim, mas estava fraca demais e não tinha forças para isso. O enorme bicho fica cara a cara comigo, seus dentes assustadoramente grandes estavam a mostra, ele parecia estar rosnando para mim. Me encolho mais, encostada com as costas na árvore. Ele se aproxima lentamente de mim, fecho meus olhos esperando, provavelmente após ele me atacar eu acordaria dessa alucinação, apesar de tudo parece bastante real, eu ainda acreditava fielmente que tudo isso se tratava apenas de uma alucinação, tinha que ser isso...

- CORRA! - Escuto a voz de Mallymkum e abro os olhos, ela estava em cima da cabeça de Bandersnatch.

Reuno toda a força que eu possuía naquele momento e me levanto assim que vejo que o enorme bicho havia se distraído com a ratinha em sua cabeça, ele rosnava para ela. Eu tento correr, mas acabo pisando em um galho fazendo barulho e chamando a atenção do Bandersnatch, ele se vira para mim, rosnando ainda mais alto, eu tento correr, mas ele me puxa com uma de suas enorme patas, suas unhas cravam em minha coxa após ele me puxar, um pedaço de meu vestido azul se rasga deixando a mostra exatamente onde suas garras haviam me ferido. Grito com a dor, meu grito é abafado com o som do urro do Bandersnatch, olho para trás, Mallymkum havia arrancado um dos olhos dele com seu alfinete. A ratinha desce rapidamente da cabeça do enorme bicho e começa a correr.

- CORRA SE QUISER VIVER. - Ela fala me deixando para trás.

Me levanto com dificuldade, consigo uma pequena vantagem graças a dor que Bandersnacht sentia com a falta de um de seus olhos, isso o distraía. Corro o máximo que consigo, até me ver em meio a mata densa, o céu já se escurecia com a chegada da noite. Olho para trás e escuto sons de cavalos e passos, me enscondo atrás de uma árvore, sento no chão enquanto esperava que se afastassem. Por sorte, eles iam para o lado oposto ao qual eu me encontrava, a escuridão da noite, juntamente com o meu tamanho, menor que o dos outros, me davam uma vantagem para me esconder. Olho para minha coxa que sangrava muito, aquela alucinação estava mais real do que deveria estar... a dor em minha perna era insuportável.

- Vejo que precisa de ajuda... - Escuto uma voz masculina, olho em volta, porém não havisto nada.

- Q-quem e-está ai? - Pergunto, com medo de ser o homem do tapa-olho.

- Não se preocupe, eu não sou alguém que você deve temer... a não ser, é claro, que você me irrite... - Sua voz era calma, olho para os lados e avisto um enorme sorriso flutuando no ar.

- O-o que...?

- Eu estava apenas brincando. - Agora era possível ver um gato, cinza com listras verde azuladas, grandes olhos azuis e um enorme sorriso no rosto. Ele flutuava a minha frente.

- Q-quem é você...?

- Vejo que algo com garras fortes lhe machucou... - Ele se aproxima de minha coxa, ainda sorrindo, apesar de parecer um pouco mais preocupado.

- F-foi um bicho, c-chamado Bander...Banders... - Ele desaparece e reaparece do meu outro lado.

- Bandersnatch? Hm... - Ele flutuava ao meu redor. A dor em minha perna parecia aumentar cada vez mais. - Parece que você precisa que alguém examine isso para você... eu posso lhe fazer este favor. - Seu sorriso se alargava cada vez mais.

- Não vai examinar não. - Olho desconfiada para ele. - Eu ainda estou alucinando, assim que acordar desta maluquice eu não terei mais este machucado. - Falo, tentando convencer não apenas ele, mas a mim mesma, imaginar que esse mundo era apenas uma alucinação estava ficando cada vez mais dificil, graças a dor que eu sentia em minha perna.

- Ao menos me deixe enfaixar para você. - Ele sorri. Faço que sim e ele desaparece e reaparece novamente, agora com uma fita grande nas mãos. - Sinta-se especial. - Ele sorria largamente. - Estou tirando isso de minha coleção especial. - Ele se aproxima e começa a passar a fita em minha coxa, a amarrando firmemente em seguida. - Agora siga-me, vou levá-la até a casa de um amigo. Ele vai ajudá-la. - Ele se afasta sorrindo.

Eu me sentia muito fraca e cansada, mas consigo me levantar para segui-lo.

- E-espere... qual o seu nome? - Pergunto tentando alcança-lo. - Para que eu possa agradecê-lo da maneira correta.

- Você provavelmente se chama Alice, não é?

- Por que todos ignoram minhas perguntas por aqui? E por que todos sabem meu nome, mas eu não sei o nome de ninguém? - Eu tentava me sentir brava, mas estava fraca demais para isso. - E-estou cansada d-disso... - Falo e logo em seguida sinto meu rosto chocar-se contra o chão, meus olhos se fecham pesadamente.

- Alice? - Escuto a voz preocupada do gato sorridente.

Recobro minha consciência por alguns segundos, eu estava sendo carregada por alguém, não conseguia abrir meus olhos, estava fraca demais para isso.

- V-vai ficar tudo bem Alice. - Escuto uma voz suave, acompanhada de um forte sotaque escoces, por algum motivo me sinto segura após escutar aquela voz, e logo volto a meu estado inconsciente.

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