Meu chapéu favorito

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Eu estava na cozinha de minha casa preparando um chá, meus dedos não paravam quietos. O fato de Alice não se lembrar que já havia estado aqui antes e achar que tudo isso não passava de uma alucinação me tirava completamente o pouco de sanidade que eu possuía. E o fato de ela claramente não se lembrar mim me sufocava por dentro...

- Preparando um chá antes das 6 chapeleiro...? - Chershire aparece a meu lado com aquele sorriso irritantemente grande, fecho a cara para ele. - O que aconteceu...?

- Você sabe muito bem o que aconteceu, você saiu do quarto e me deixou sozinho lá para responder as perguntas de Alice, mesmo sabendo que eu precisava de ajuda para enrolá-la.

- Hmm.. mas ao que parece você resolveu a situação, mesmo sozinho... - Aquele voz calma e tranquila apenas me irritava ainda mais.

- Sim, eu resolvi, por sorte, já que conheço minha Alice melhor que ninguém, eu já imaginava que ela acordaria fazendo milhares de perguntas, então lhe preparei um chá que a acalmaria rapidamente e lhe daria sonolência.

- Muito esperto da sua parte, Chapeleiro. - Ele sorria. - E o que está o deixando tão aflito então...?

- I-isso não é d-da sua conta...

- Vamos, conte-me. - Seu sorriso aumentava.

- A curiosidade matou o gato. - Olho desafiadoramente para ele.

- Eu vou arriscar. - Ele sorria convencidamente. - Afinal de contas, eu tenho mais de uma vida mesmo... - Reviro os olhos para aquelas respostas, eu não conseguiria me livrar dele.

- Alice... A-acha que tudo aqui n-não passa de uma a-alucinação... u-um sonho... - Meu peito doía ao dizer tais palavras em voz alta.

- Eu já sabia disso. - Ele sorria. - E não me importo.

- C-como pode não se importar? - Olho chocado para ele.

- O que eu acho chapeleiro, é que você tem um motivo além deste para se importar com isso... - Ele sorria maliciosamente.

- D-do que está f-falando? - Eu gaguejava enquanto colocava o chá em minha xícara.

- Eu acho, que você se importa mesmo, é com o fato de Alice não se lembrar de você, e de nem mesmo vê-lo como alguém real. - Ele sorria ainda mais, como se aquilo fosse possível. Engasgo com o chá que estava bebendo.

- O-ora, do q-que e-está falando? S-seu gato i-intrometido, n-não é n-nada disso... - Meu sotaque estava ainda mais forte que o normal e meus dedos não paravam quietos.

- É verdade Chershire? O que você acabou de dizer? - Mallymkum aparece na cozinha, seus bracinhos estavam cruzados e ela tinha os olhos cerrados para o gato flutuante.

- Está é a minha deixa. - Ele fala desaparecendo. O amaldiçoo sussurrando.

- Sobre o que conversavam, Tarrant? - Ela direciona seu olhar cerrado para mim.

- N-nada que seja i-importante Mally, n-não precisa se preocupar. - Pego meu chá e me direciono para a saída da cozinha.

- Onde está indo? - Mally pergunta me seguindo.

- Ao meu quarto.

- Alice está dormindo, eu acabei de ver, você não precisa ir lá. - Paro de andar e olho duramente a ratinha no chão.

- Por que entrou em meu quarto, Mally? Por acaso você queria dizer mais uma daquelas suas duras palavras para Alice?

- Eu apenas disse a verdade! E você sabe disso. - Ela se defende.

- Não, você não tem o direito de dizer aquelas coisas a ela. - Minhas íris estavam alaranjadas, Mally abaixou  as orelhinhas com medo. - E eu espero que não faça isso novamente Mallymkum, ou nós dois teremos um sério problema... - Continuo andando a deixando para trás.

- M-mas... nós nunca tivemos problemas... v-você está mudando, e tudo por culpa daquela idiota! - Escuto seu lamento, mas decido ignora-lá.

Entro em meu quarto e me sento na cadeira ao lado de minha cama, onde Alice dormia. Durante aqueles 3 dias eu fiquei do lado dela, não saía praticamente para nada, minhas olheiras estavam muito piores que o normal, mas eu não me importava, eu não me cansava de olhar para ela, ainda me surpreendia com o quanto era bonita...

Eu imaginava que após ver Alice meus sentimentos iriam voltar ao normal, mas o que ocorreu foi completamente o contrário, meus sentimentos estavam ainda mais bagunçados após vê-la. Eu estava ficando cada vez mais louco, meu coração havia ficado mais acelerado que nunca, apenas ao vê-la acordada esta manhã, eu estava tão animado para conversar com ela, estava tão animado que ela estivesse ali, tudo que eu queria é que ela nunca mais saísse desse mundo, que ficasse aqui para sempre. Mas eu sabia que nada disso seria possível... eu não podia contar tudo que queria a Alice, ela não poderia ficar aqui para sempre... ela precisava ir embora, antes ou depois de matar o jaguadarte, isso eu ainda não havia decidido, mas Alice não podia ficar aqui... era perigoso demais para ela, para todos nós... olho desanimado para minha xícara de chá que agora já estava praticamente vazia. A minha vontade era de jogar esta xícara na parede a quebrando em mil pedaços para aliviar meu estresse momentâneo, mas isso acordaria Alice.

Eu muitas vezes sonhava em ir matar o valete e a cabeçuda, se eu fizesse isso, Alice poderia ficar pelo tempo que quisesse, sem correr riscos, eu poderia até mesmo, quem sabe, convencê-la a ficar aqui... comigo, para sempre. Me animo com a ideia por alguns segundos, até voltar a realidade dura e cruel. Eu nunca mataria o valete, nem a rainha de copas, isso era impossível... suspiro. Agacho para pegar minha cartola do chão, analiso a mesma em minhas mãos e minha mente viaja em uma lembrança do passado.

- Olá? - Escuto uma voz feminina e olho para o lado, avisto uma linda garotinha loira se aproximando de minha mesa de chá.

- Ora, e quem seria você? - Pergunto animado, me levantando e subindo na mesa, ando por toda a mesa até chegar a ela, ela ri timidamente de minha atitude.

- Sou Alice.

- Que nome bonito! Eu me chamo Tarrant, mas pode me chamar de chapeleiro, eu faço chapéus, aprendi com meu pai, e um dia eu vou ser o chapeleiro oficial da rainha. - Falo orgulhoso.

- Eu gostei do seu chapéu... é muito bonito... - Ela aponta para meu chapéu, era uma cartola, um dos primeiros chapéus que eu havia feito sozinho. Sorrio largamente após ouvir aquilo.

- Muito obrigado, eu gosto bastante dele também. Quantos anos você tem, Alice?

- Tenho 9... e você... chapeleiro. - Sorrio largamente, ela era a primeira pessoa que realmente me chamava por aquele nome.

- Eu tenho 16. - Desço da mesa e estendo a mão para Alice. - Você já tem idade suficiente para tomar chá, você gosta de chá?

- Sim... - Ela pega em minha mão, eu a levo até uma cadeira ao lado da minha.

- Alice, deixe-me apresenta-la, está é Mallymkum e está é a lebre de março.

- E não vai me apresentar? - Chershire aparece a meu lado sorrindo.

- E este é Chershire.

- O-olá, e-eu me chamo Alice. - Todos a cumprimentam. Ela parecia bastante tímida. Puxo a cadeira para que se sentasse.

- Vamos tomar chá Alice, e eu respondo suas perguntas, caso tenha alguma.

- O sim. - Seus olhos brilharam. - Tenho várias perguntas. - Foi ali que descobri como chamar a atenção de Alice e deixá-la menos tímida e mais avontade, bastava apenas que eu respondesse a todas as suas dúvidas, e eram muitas dúvidas. Despois daquele dia eu nunca mais deixei de pensar em Alice...

Encarava minha cartola, este se tornou meu chapéu favorito desde o dia em que conheci Alice... suspiro. Coloco o chapéu em minha cabeça e sento novamente na cadeira.

- Eu gostei do seu chapéu, é muito bonito. - Olho assustado para o lado, Alice estava acordada e encarava meu chapéu com seus olhos curiosos, ela parecia se lembrar de algo...

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