Bloco De Notas

Alpha - Recorte 3

Em um quarto pequeno, com mais livros do que se cabiam organizados na estante (não que esses estivessem organizados), e com menos luz do que de costume, um garoto se levantava da cama para ver o sol se por, as cores de laranja e vermelho manchando o céu sumiam gradativamente para dar espaço a um azul que logo se juntava ao preto.
Quando a dança das cores terminava, os passos apressados seguiam do quarto até às velhas escadas de madeira e dali subiam em círculos até um telescópio.
Era um centro de pesquisa, não muito utilizado pelo fato de que uma cidade estava nascendo em suas redondezas, mas isso pouco importava para a curiosidade juvenil.
Mas naquela noite onde as previsões não indicavam um clima favorável a uma expedição as estrelas, não haviam outros aventureiros além do curioso e determinado William.
Ele se movia pelo lugar como se fosse sua própria casa, era o mais próximo de um teto que ele tinha. Sua maior aventura era nomear as estrelas, não que ele se lembrasse de todas, mas sua mente adorava observar aquilo que era distante.
Para comemorar aquela pequena vitória e para poder se gabar quando voltasse na manhã seguinte, decidiu montar um pequeno acampamento, com direito aos antigos livros, sua luminária de carvão e até alguns lençóis rasgados que haviam sido deixados para trás.
Tudo estava pronto, e agora só lhe bastava nomear o céu, pelas suas contas faltavam apenas metade da extensão do céu.
Levava a lente do telescópio de um lado a outro, de segundo em segundo observado cada novo brilho  que via logo virava um nome.
Guardiã, Torvi, Kou, Bran, dentre tantas outras que refletiam nos olhos dele, mas havia uma especial, a primeira que ele havia nomeado e que ele nunca se esquecia de voltar para dar um oi modesto com o telescópio, Alpha, um grande pontinho branco no céu que para Will era a mais bela das estrelas.
Após muito tempo de observação e anotação, o céu deu espaço para uma pequena e majestosa queda, o que costumam chamar de estrela cadente, o rasto dela passava em poucos segundos, dando um sentimento de uma curta passagem, mas era uma tradição fazer um pedido, e como tal, o jovem não poderia negar, e assim o fez.

Com os olhos já repousada sobre o céu, se deitou em sua cabana improvisada, para descansar e em poucos minutos deixou os olhos se fecharem.
Mas um leve calor seguido de uma estranha voz o fizeram acordar, parecia um sonho estanho, uma jovem quem nunca havia sido vista pelos olhos daquele menino agora gritava desesperada na escada por ele. Levaram dez segundos para que Will olhasse ao seu lado e visse a lamparina caída no chão e logo após isso o fogo ao seu redor, o desespero fez com que ele se engasgasse com um pouco de fumaça, mas ele logo se levantou e correu até às escadas, buscando desesperadamente a voz desconhecida.
Ao agarrar aquela mão que o puxava em uma dança circular até a parte de baixo do observatório, sua curiosidade n podia mais aguentar, e com a voz já prejudicada perguntou

"Quem é você? Como sabia do observatório?"

Não se ouviu resposta alguma, apenas dois pares de pés correndo em direção a porta do saída, mas as chamas logo fizeram pedaços caírem como estrelas do céu sobre a passagem.
Um suspiro calmo se ouviu, a desconhecida se virou e o o abraçou, olhou fundo em em seus olhos e perguntou em resposta a suas dúvidas:

"Você me deu o nome e sempre chamou por mim, não se lembra mais?"

Will deixou uma lágrima escorrer pelos rosto fazendo um cominho único até o chão onde se evaporou instantaneamente.

"O brilho dos olhos são idênticos... Alpha.. mas como?"

A jovem estrela sorriu e deixou que sua resposta repousasse sobre os lábios duvidosos que estavam inquietos. E pouco a pouco mais e mais estrelas caiam do teto em chamas ao redor deles, até que antes de uma delas levá-los ao céu foi possível ouvir

"Seu sorriso se realizou, agora você pode morar com as estrelas.."

E naquela noite, ao lado da estrela mais brilhante do céu, surgiu um modesto e radiante brilho.