O corpo delgado e proeminente era apoiado pelos braços agraciados de músculos pequenos, mas que aguentavam bem o peso do trabalho difícil. Preferia cavar com as próprias mãos o resto do buraco no chão, onde as sementes seriam plantadas.
— Sehun, o que está fazendo? — Kyungsoo questionou, levantando o herdeiro do dono da fazenda num rápido movimento com um só braço.
— Terminando meu serviço, Do. — Resmungou, puxando de volta o braço, soltando-se do aperto do mais velho.
— Seu pai quer arrancar sua cabeça fora, idiota! — bateu na nuca do mais jovem. Haviam sido criados juntos desde quando se consideravam alguém em vida. Era comum que agisse daquela forma. — Os homens da cidade chegaram! Você precisa se apresentar. Irá chegar lá todo sujo de terra.
— Não é como se eu me importasse em receber dois velhos ricos. — fez birra, algo que, de certa forma, moldava a personalidade dele em alguns sentidos. Não era de fato ruim, mas o Oh não superara a morte da mãe. O jeito de agir em relação a ela acabara sendo mantido como uma forma de lembrança. — Meu pai consegue lidar com ambos. Eu estar lá será só para fazer sala.
— Ele já mandou te chamarem, pirralho! Tu queres que ele venha te buscar e te leve até lá pela orelha? — apelou para o castigo. Não queria que o amigo se metesse em encrenca.
Vencido pelo desgaste, Sehun resolveu seguir os conselhos do outro, levantando-se da terra, respirando fundo, irritado, e se dirigindo até a casa grande no centro da fazenda. Kyungsoo respirou aliviado, lhe acompanhando até a chegada, em frente a porta do local.
— Teu pai reclamará contigo por se apresentar dessa forma. — avisou, tentando limpar ao menos a camisa branca do amigo, completamente suja.
— Terei de enfrentá-lo. — disse simples, coçando a nuca, nervoso.
Oh Sehun conhecia pouco do mundo. Havia apenas terminado o Ensino Médio, e tivera aulas em casa. Não lidava bem com gente nova. Não era aberto a diversas amizades. Kyungsoo era seu único e melhor amigo, e ele era suficiente. Agia como um adolescente muitas vezes, fazendo coisas que sabia que se arrependeria mais tarde. Desobedecendo o pai, apenas para receber chicotadas dele e puxões de orelha do Padre Shijun, que comandava as missas na capela da fazenda, onde todos deveriam comparecer aos domingos ou mais vezes na semana para pagarem penitências. No fim das contas, Sehun era extremamente puro em diversos sentidos, e acreditava realmente saber o que se passaria dentro da moradia.
— Boa sorte! — foi a última coisa que o amigo mais velho disse antes de simplesmente caminhar para a direção contrária.
Respirou fundo, girando a maçaneta simples, abrindo a porta e se deixando entrar sem prestar muita atenção nos detalhes lá dentro.
— Sehun, meu filho, que bom que chegou! — Sewang exclamou com um sorriso estampado na cara se aproximando de si, fazendo com que não conseguisse enxergar os mais jovens. E o que era para ser um bom sinal, fez as pernas do jovem tremerem. Aquele sorriso continha ódio. — Por que está tão imundo? Onde estava?
A garganta secou, quase que imediatamente, quando o homem segurou os seus braços e os apertou com força demasiada de forma disfarçada.
— É realmente difícil encontrar filhos de fazendeiros que coloquem as mãos na terra, caro Oh. — foi então que pôde ver o convidado do dia, segurando respeitosamente o ombro de seu pai e se deixando a vista.
Sehun respirou de forma mais forte observando a aparência do homem. Estava surpreso com a imagem so outro. Quando soubera de que seu progenitor anfitriaria um parceiro de negócios da cidade grande, imaginara que seria um velho, talvez em seus sessenta anos, ranzinza e desgastado com o tempo. Porém, em frente a seus olhos, tudo o que via era um homem um pouco mais velho e de bela feição. O rosto era másculo, mas possuía delicadeza notável, mais evidente ainda, contornada e esclarecida, pela pinta sobre o lábio superior. Era baixo, muito mais baixo que si, mas possuía ombros claramente largos por baixo do paletó branco, combinando com o chapéu em sua cabeça. Os braços eram evidentemente grossos.
— É um prazer, Oh Sehun, eu sou Kim Junmyeon. — se apresentou, curvando-se um pouco ao garoto mais jovem.
— Sois mais velho que eu, não precisa de tanta reverência. — falou, envergonhado, repetindo o ato do outro.
Junmyeon segurou sua mão ainda assim, em um claro gesto de que não se importa com aquilo.
— Isso não me é um incômodo, meu caro. — falou calmamente, e logo segurou levemente o braço do jovem que estava a seu lado. — Este é meu irmão, Kim Jongin.
— Prazer! — o garoto curvou-se com um sorriso bonito em face. Parecia mais jovem que o próprio Sehun, e mantinha a postura delicada.
Sehun estranhou a si próprio por só notar o mais novo ali após o irmão deixar-lhe evidente. Talvez o menino fosse tão quieto que não reparara nele, ao menos era o que queria acreditar. Depois de certo tempo, assumiria para si próprio que seus olhos não focaram em Jongin, pois estava absorto na face de Kim Junmyeon, encantado.
— Prazer. — retribuiu o cumprimento, desajeitado.
— Senhor Kim, não desejas ir jantar algo, enquanto os empregados arrumam seus aposentos? — questionou o velho Sewang.
— Sehun se sente confortável em jantar assim? — perguntou, tirando a poeira grudada na bochecha do garoto.
O toque inocente e rápido fez o estômago do mais novo embrulhar.
— Janto depois. Não precisa se importar comigo, Senhor Kim. — disse, rapidamente, não querendo problemas para seu lado.
O homem riu, no fundo achando as bochechas aparentemente vermelhas do outro em relação à sua fala.
— Você é importante, Sehun. Podemos esperar, não é Jongin? — questionou, vendo o mais novo afirmar com a cabeça encolhido.
Sehun anuiu, então. Aquele homem era extremamente educado a primeira vista, mas não confiava plenamente em sua pessoa. Tinha certo temor por contrariá-lo. Não desejaria ver um outro lado dele. Pessoas boas não são boas pessoas na maior parte do tempo.
— Iremos te esperar na sala de jantar, certo, Sewang sunbaenim? — sorriu para o mais velho na sala, demonstrando claro respeito e simpatia.
— Claro, Kim. — o homem respondeu, prontamente. — Pode me esperar por lá? Tenho coisas a tratar com Sehun.
O homem anuiu com um sorriso fraco, pondo o braço atrás das costas do irmão mais novo, cuidadoso. E Sehun somente conseguiu tirar os olhos dele quando mãos rudes tocaram seu rosto, apertando as bochechas redondas com força, as unhas direcionadas à pele, se fincando na carne macia.
— O que eu tinha dito pra você, Sehun? — Sewang questionou, a voz sussurrada saiu como um rugido, a vontade de gritar em repreensão sendo substituída pela de fechar um negócio que aumentaria a popularidade da fazenda e, consequentemente, maiores investimentos na área. — Tens uma mania insuportável de me desobedecer! Sabia que iríamos ter convidados, por que não se arrumou? Passou uma má impressão!
— P-perdão. — lamuriou com dificuldade, os lábios formavam um bico graças às maçãs do rosto espremidas.
— Amanhã Padre Shijun estará aqui… — sussurrou em seu ouvido, lhe deixando paralisado. — … irei contar a ele tudo de errado que andas fazendo. Sabe o que isso significa, certo?
Engoliu em seco. Padre Shijun tinha oitenta anos de idade. Era um homem extremamente rígido e respeitado na região, por seu pai principalmente. Shijun era quase que um novo messias. Tudo o que saía de sua boca era considerado como dito através da própria voz de Deus. Sendo assim, apesar de dono do local, Oh Sewang curvava a cabeça para Park Shijun. O homem era sacro. Mesmo que não fosse canonizado, Sewang mantinha consigo planos de transformá-lo em um santo quando morresse. No fim das contas, todos ali atribuíam suas curas de doenças e a salvação da fazenda de uma quase falência, pouco antes de Sehun nascer, ao velho homem que fazia rezas pesadas no local durante a época. O clérigo era extremamente poderoso. Tinha poder, inclusive, para punir quem quer que fosse. E toda e qualquer penitência que saía por seus lábios finos e secos era pesada.
Lembrou-se vagamente do dia em que ele, aos dez anos, e Kyungsoo, aos doze, resolveram brincar de luta um com o outro e acabaram derrubando, sem querer, a imagem santa do menino Jesus, estraçalhando a porcelana no chão. O homem santo fez com que ambos se ajoelhassem nos cacos do chão por dez minutos. O sangue escorria pelas peles pálidas, andavam com dificuldade, um se apoiando no outro, os cortes claramente aparentes. E, por mais que as mulheres que trabalhavam ali lhes olhassem de forma piedosa, apenas aceitavam a penitência imposta como se o próprio Cristo tivesse lhes dado.
— Eu vou ir tomar meu banho. — foi a única coisa que saiu de seus lábios depois da ameaça contida.
O patriarca soltou seu rosto, rudemente, e se dirigiu até onde os convidados repousavam, completamente alheios ao que acontecia na sala.
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𝑻𝒉𝒆 𝑷𝒓𝒊𝒄𝒆 𝒐𝒇 𝑯𝒐𝒍𝒊𝒏𝒆𝒔𝒔 | seho
FanfictionOh Sehun era apenas um garoto comum, vivendo segundo o fluxo, ao longo de seus vinte e um anos recém completados. Sem muita expectativa, seus planos se resumiam em apenas continuar exercendo seu papel como herdeiro, ajudando o pai com os trabalhos n...