❁ IV - Beijo ❁

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"Um, dois, três, um dois, três

E me tomou pela primeira vez pra si

Eu fico até sem jeito de contar, de cantar

Porque foi tão intenso, tão sincero

Que não quero que tenha fim

Mas afinal, nada é, não define

Tipo assim..."

Um, dois, três; Jota.Pê

❁❁❁

Alguém deveria ter me alertado de que nunca estamos velhos demais para ter o nosso coração partido. Eu estava com ele em mãos, completamente vulnerável, desde a primeira vez em que te vi.

— O que você faria? — você parou, voltando-se em minha direção, e a luz do poste formou um halo ao seu redor.

Falávamos sobre "Sonho de uma noite de verão", eu só tinha visto o filme, e confiava em você que estávamos no timbre certo.

— Ah — dei um trago no meu cigarro, e a fumaça subiu... subiu, como um véu entre nós. — Eu acho que acreditaria, é sempre melhor assim.

— Assim?

— Acreditar que o sonho é real pode nos fazer ver a vida com mais leveza.

Você meneou a cabeça e seus cachos sacudiram, como se estivessem vivos. Seus pés calçados em All-Stars pretos desgastados te levaram pra longe de mim, pra soleira da ponte por onde caminhávamos. Me apressei para chegar ao seu lado, e foi bom, porque você se desequilibrou.

A puxei para mim, e seu corpo bateu no meu peito, como se eu tivesse sido atingida por uma arma letal. Eu não estava blindada para o seu sorriso, nem pro calor que sua pele emanava no momento em que tocou na minha.

Você girou em meus braços, e abracei sua cintura, sentindo seus dedos mexerem em meu cabelo e seu nariz esbarrar no meu pescoço, provocando arrepios. Você era como uma vampira prestes a me atacar, pregar seus dentes em minha carne e beber tudo, levar tudo que eu tinha pra dentro de si e desaparecer pela noite. E isso era tudo que eu queria, o seu veneno e o êxtase do gozo deletério era tudo que eu precisava sentir antes de morrer.

A rua estava completamente vazia, minhas mãos tremiam como se eu fosse uma adolescente virgem e apaixonada. O ar saia em lufadas tão difíceis, e eu gemi profundamente quando seu rosto se afastou pra estar na mira do meu.

Sua aproximação fez minhas pernas bambearem, e sua boca tocou a minha como brasa. Entreabri os lábios e deixei que sua língua penetrasse e se juntasse a minha, uma dança serena, quente e molhada. Eu te apertava tanto que tinha medo que fugisse de mim, mas você não disse nada.

"Por que eu fugiria?", é o que viria a dizer no futuro, quando essa confissão aparecesse de repente, no meio de um jantar.

Mas, naquele momento, eu só conseguia sentir medo por toda aquela situação. Por que eu estava me apaixonando assim? Se apaixonar era assustador.

Cigarros • Romance Sáfico  [Sendo reescrito]Onde histórias criam vida. Descubra agora