"[...]alguns encontros, às vezes, significavam uma vida inteira."
– Nem todos os beijos têm gosto de inverno,
Yasmin Mahmud Kader.
❁❁❁
Eu nunca havia sentido borboletas no estômago.
A mulher que comemorava seu aniversário de trinta anos sozinha num bar, veja a desgraça, não estava apaixonada. Pra mim, nunca foi o fim do mundo, mas para as pessoas ao meu redor, era impraticável que continuasse desta forma.
No meu caso, na verdade, eu deveria estar na fase do amor confortável, construindo uma vida ao lado da pessoa especial e perfeita, planejando o que comeríamos no nosso aniversário, que cor de cortina escolheríamos para a sala, ou reclamando uma para a outra sobre nossos corpos flácidos que depois encolheriam em nossos dedos durante um sexo sem emoção, já conhecido.
Mas não. Esse com certeza não era meu caso.
Com você não foi amor à primeira vista, muito menos houve – a princípio – qualquer estado semelhante ao "frio na barriga". Mas o ar pareceu tremular quando chegou, os seus cabelos marsala chacoalharam ao redor de você como a nuvem de um sonho, por isso meus olhos fizeram o trajeto até te encontrar.
Você tinha o rosto gelado de alguém ferido desde muito cedo, acredito que a maioria de nós tenha, mas você era intensa demais pra esconder. O marsala ousado trazia a vida que faltava em seu olhar, e os cachos brilhavam, competindo solenemente com as luzes amareladas e fracas daquele bar praticamente falido. Eu deveria estar em casa, mas era solitário demais completar trinta anos, sua presença me salvou por um momento da angústia em que eu mergulhava. Sua maquiagem estava espalhada sob os olhos, um riso frouxo modelava-lhe os lábios vermelhos, e eu tentava falsamente esconder meu olhar que lhe analisava por inteiro.
Um riso frouxo escapou de seus lábios volumosos quando desligou o telefone, apartando a melodia de sua voz do ambiente. Você era claramente mais nova do que eu, e talvez seja isso que tenha me atraído. Sua juventude. Apesar da diferença de idade, nossa distância não era exatamente os anos – que não eram muitos – mas sim suas maneiras ao se portar de frente com a vida. O que me atraiu, a princípio, foi o fato de você brilhar como uma estrela num céu repleto de nuvens, por mais que elas se esforçassem para apartar seu brilho.
Você desviou de um vaso de plantas e das mesas vazias e veio em minha direção, desviando no último segundo, quando caiu com um baque pesado no banco ao meu lado.
— Posso fumar aqui? — você disse para o homem que apenas agitou a mão no ar num gesto permissivo. — Ei moça, tem fogo?
Tocou o meu antebraço com cuidado, e me atrapalhei quando apalpei os bolsos à procura do meu isqueiro. Eu estava acostumada a lidar com criminosos violentos, não com você. Queria responder que sim, que tinha fogo em todos os lugares, principalmente no ponto de pele descoberto onde me tocou.
— Tá aqui — estendi o objeto lilás, recebendo um sorriso sacana como agradecimento.
— Se importa se eu fumar? — Você me mostrou o cigarro e fiz que não, porque eu não poderia negar nada a você, nem mesmo se quisesse.
— Obrigada — murmurou.
Desviei o olhar, tentando rejeitar o calor que vinha até mim da garota que se sentava ao meu lado. Ouvi sua risada melódica ao fazer seu pedido, depois tudo ficou tão silencioso, e eu estava um pouco bêbada demais para discernir qualquer coisa.
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Cigarros • Romance Sáfico [Sendo reescrito]
أدب نسائي[ROMANCE SÁFICO] [DRAMA] [GIRLSloveGIRLS#1] [+16] Aos trinta anos, Maya nunca havia se apaixonado de verdade por ninguém. Sempre focada no trabalho e em cuidar dos pais, jamais pensou que poderia encontrar o amor às duas da madrugada do seu solitári...