Olfato #1

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Por Anemoniel

Ainda não vivi o bastante pra sentir o teu cheiro.
Pra minha total infelicidade eu ainda não fui capaz de sentir o seu cheiro de manhã, misturado com o aroma de café, pão quente e brisa leve. Ainda não tive a regalia de percorrer o travesseiro ao meu lado e sentir as notas amadeiradas do seu cheiro que são repletas dos aromas de mar, de floresta e de, talvez, algo como a luz das estrelas que me iluminam.
Maldição.
A busca pelo seu cheiro é um castigo, a falta do seu perfume inundando a minha pele é meu maior suplício, a inexistência de teus aromas sobre as minhas roupas é  cruel.
Eu lembro do aroma de cada uma das flores que eu já colhi, lembro do cheiro de todas as tempestades que já enfrentei, mas não lembro do seu. Ah, é. Eu não pude sentir ele.
Me contento com o aroma do frio, com a secura do ar, a ausência de vida, a falta de notas aromáticas, com o cheiro de molhado.
Persisto no aroma do vazio, de casa fechada, de corpo sem vida, da existência do nada.
Talvez eu saia para plantar flores e afastar-me da imaginação do seu cheiro, talvez eu mergulhe num lago e afunde até que eu me torne um com a água, talvez eu visite o mar e o percorra buscando um caminho até você.
Olfato sensível é uma tortura tão visível.
Quando você passar por perto, certeza que ficarei de peito aberto.
E nessa confusão toda de aromas confusos, de cheiro de chuva, do perfume de flores, persistência de dores e tristeza, eu me pergunto várias coisas.
Mas, venha cá
Chegue cá e me diga
Qual é o seu cheiro?

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