Sensações

Olfato #2

Por Vinícius Sousa

     É sobre meu cheiro. O aroma da minha história. Da gasolina e do fósforo, o cheiro da minha incineração. Da terra molhada no meu caixão, é sobre o meu funeral. O fedor de morte com a decadência das flores de um tempo que nunca foi.
     É sobre o que eu senti. Das comidas que preparei, das bebidas que enebriaram. Dos aromas que vivi, do que me compôs carne. Dos momentos que eu pude sentir de longe, chegando em frações e nuances.
     É sobre os livros que cheirei, os pequenos prazeres de minh'alma. Sobre os papiros que namorei, os escritos e a tinta que recriei, os fonemas que resignifiquei. Sobre a invasão da guache e do pincel, do óleo e da tela, da aquarela de sensações.
     É sobre os cheiros da manhã. Café, manteiga e sorriso. Chá, bolo e um abraço. Um beijo no rosto, no teu riso frouxo, no aroma de baunilha e pimenta da tua pele. É sobre sentir contigo o frescor da manhã, a paz da tarde e o poder da noite.
     É sobre morar no teu pescoço, virar menino moço e deixar que me invada o ar de um novo tempo. Deixar que meus pulmões se encham do hoje, do oxigênio do agora, e minhas respirações tragam as inspirações de uma era criada do meu ar renovado.
     Meu respirar é amar.