CAPÍTULO ÚNICO

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Desde que Sirius havia voltado de Azkaban, Remus tentava fazer o seu melhor para cuidar daquele que havia sido seu amante por tantos anos.

Ele ainda se lembra de quando eles voltaram a se reencontrarem após a noite na Casa dos Gritos com Harry. Remus havia acabado de se demitir e, sem nenhum lugar para ir após perder seus aposentos em Hogwarts, foi chamado por Sirius para ficar na casa que uma vez pertenceu à toda a família Black.

Lupin nunca havia pisado naquela casa, mas se lembra de ouvir o Sirius adolescente contando como aquele lugar era frio e mórbido. Quase vinte anos depois, ela não estava diferente, talvez apenas com mais poeira nos móveis e papéis de parede mofados.

Sirius passava boa parte do tempo trancado no quarto que pertenceu a ele até seus quinze anos. Remus não entrava lá, mas havia espiado e percebido que haviam várias fotos deles jovens. Nos poucos momentos em que o anfitrião saia de sua caverna, ele se sentava na mesa da cozinha para beliscar alguma coisa. Seus cabelos ainda eram escuros e longos, mas estavam presos num coque bagunçado, parecendo um ninho de passarinho. Seu cheiro não era agradável, mas Remus hesitou em perguntá-lo se ele vinha tomando banhos regularmente. Sirius Black estava mais acabado do que jamais esteve, e Remus não conseguia achar uma forma de fazê-lo voltar ao normal depois de tantos traumas vividos.

Naquela tarde havia sido a primeira reunião da nova Ordem da Fênix, foi como uma avalanche de emoções. Anos atrás eles também estavam desempenhando o mesmo papel, ouvindo as lições de Dumbledore, as ordens de Moody, os puxões de orelha de Molly para seus filhos. Mas anos atrás também haviam James, Lily, Peter, Marlene, Dorcas... Todos de pé em volta da mesa, sendo os mais novos e os mais corajosos.

Sirius, sentado na cabeceira da mesa, viu Harry querendo opinar no assunto feito adulto. Feito James Potter. Levantando a voz como seu pai, olhando através dos óculos com os olhos da sua mãe. A última reunião da Ordem da Fênix que Sirius se lembra de ter participado, Harry ainda era um bebezinho que chorava no colo da mãe ao ouvir os adultos gritarem entre si. Mas agora ele estava ali e...

Sirius não podia aguentar. Ele não conseguia. Se levantou quase derrubando a cadeira e subiu as escadas em direção ao seu quarto.

Todos pararam de falar ao ver a cena.

— Eu não acho que ele esteja com a sanidade necessária para participar das reuniões — opina Moody, com seu tom de voz acusatório.

— Só vem sendo difícil para ele — defende Remus. — Estar nessa casa, ter vindo de Azkaban... Ele ficará bem, só precisa de tempo.

Dumbledore parecia ter ficado satisfeito com a resposta, lhe dando um sorriso apoiador — Remus queria perguntar a ele onde é que estava tal apoio quando ele sequer ajudou no julgamento injusto de Sirius —, já Moody parecia estar entendiado.

— Eu vou lá em cima ver como ele está — completa Remus. — Eu acho melhor encerrar a reunião por hoje.

Com a expulsão já implícita na sua fala, todos deixam a casa e Remus consegue finalmente ir atrás do seu amigo.

Ele bate na porta, mas ninguém responde. Ele a abre numa brecha.

— Sirius? Eu posso entrar?

Ele escuta um murmúrio, algo parecido como um "sim", então entra. Ele o encontra ajoelhado sobre a cama, com os cabelos embolados soltos sobre seu rosto e com uma carta em mãos. Quando Remus se aproxima, ele vê a caligrafia que uma vez foi de Lily, faziam muitos anos desde que ele não via aquela carta, mas se lembra bem do dia que Sirius a recebeu. Era na manhã seguinte ao Natal, eles estavam deitados juntos na cama quando a coruja dos Potters bateu na janela com o papel em seu bico. Os dois riram ao ver a foto de Harry com a pequena vassoura que Sirius havia escolhido. Aquela memória parecia ter sido de uma vida passada.

Você é a coisa mais linda que eu já vi - Oneshot WolfstarOnde histórias criam vida. Descubra agora