Blue and Grey | Destiel

I Saw The Love In Your Eyes

Ele estava diante daquele telescópio, durante tantas eras foi sua única janela para o mundo humano. Jamais esperava receber a missão de cuidar de uma alma humana, mas aquela em específico lhe encantou.
Primeiro veio Alice. A primeira vida daquela jovem alma, uma garota meiga de cabelos pretos e belos olhos verdes, tais quais sempre transmitiam esperança para quem olhasse direto para eles. Infelizmente ela viveu pouco, a peste não foi bondosa com ela.
Após 50 anos voltará como Pietro, ele era um charmoso pintor italiano, assim como Alice tinha os olhos verdes. Talvez tivesse sido um capricho de seu anjo, mas era uma marca sua, seus olhos verdes.
Algo inexplicável começou a acontecer, o rapaz passou a ver Castiel por perto, não era certo interferir no mundo humano, porém o anjo se sentia obrigado a fazer companhia para o pobre garoto. Ele levou algumas broncas e então decidiu se afastar do pintor, que foi consumido por tamanha tristeza e acabou cometendo suicídio.
Castiel nunca se sentiu tão culpado em toda sua existência, mas fez de tudo para receber a alma do garoto bem.
Então, veio James sua penúltima reencarnação. Um príncipe mimado que nem sequer ligava para sua família ou para sentimentos. Nessa vida ocorreu algo diferente, Castiel conseguiu uma casca e passou a acompanhar a rotina de James, apesar de ser lá, no fundo, ele sentia a personalidade de Pietro e Alice em James.
O mar parecia tão raso se comparado àqueles olhos, e mesmo que ele tentasse lutar contra as ondas acabou por se afogar naqueles olhos verdes.
Mas, novamente tiraram o rapaz de seus braços. Como anjo ele não poderia interferir da maneira que estava interferindo, a casca que ele usava ficou indiferente a James de uma hora para outra.
Toda aquela evolução de se importar com o próximo foi embora com seu protetor. James se tornou um homem amargurado, não teve descendentes, esposas, nem nada. Um homem sozinho vivendo num castelo com uma única lembrança de seu anjo, uma folha da árvore da vida, era tudo que ele tinha.
O homem passou sua vida toda se questionando se ele havia feito algo a Castiel, ou se o anjo só notara que o mesmo era insignificante para todo, mal sabia ele que seu protetor nunca sairá de seu lado, mesmo que ele não o visse ou até mesmo não pudesse toca-lo, ele estava ali e mais uma vez acompanhou o desencarne daquela alma.
E por último veio Dean Winchester. O salvador, a espada de Miguel. Castiel questionou quando o mesmo ganhou o posto, sabia que seria destrutivo e provavelmente Dean não sobreviveria, mas seus esforços foram em vão.
Quando o Winchester desceu ao inferno foi a oportunidade de Castiel se reaproximar e cuidar pessoalmente dele novamente. Ele foi obrigado a se afastar do rapaz quando ele tinha apenas 4 anos, Dean também tinha alguns dons mediúnicos e apesar dele ter pensado que havia sido um sonho, não fora.
Aquele diálogo repetia várias e várias vezes em sua cabeça.

Flashback

— Mamãe eu vi um anjo, um anjo de olhos azuis.— O pequeno Dean correu até a poltrona onde Mary bordava uma manta para o pequeno bebê que esta por vir.
— Sério meu amor?— Mary abriu um sorriso e largou as coisas numa mesinha e então levantou com certa dificuldade por conta de sua barriga.— Vamos para a cama, e lá você me conta sobre esse anjo.— Os passos da loira eram lentos, mas seu pequeno lhe acompanhava com toda a paciência, ao chegar em seu quarto o pequeno se jogou na cama e com ajuda de sua mãe se cobriu.
Mal eles sabiam, que no canto do quarto estava Castiel observando toda a cena e se culpando, pois sabia que teria que se afastar novamente depois desse deslise.
— Dean, sonhar com anjos é algo lindo.— Mary sorriu e passou a mão no rosto do pequeno.— Significa que eles estão olhando por você.— O pequeno sorriu e então virou para o canto desejando com cada pedaço de si desejando para sonhar novamente.

Flashback

Tais lembranças apertaram o coração do mesmo que por hora olhava seu amado pelo telescópio. Ele realmente desistiu do relacionamento dos dois, não o julgava, muito pelo contrário, até dava razão.
Afinal, quantas vezes o anjo havia deixado ele para trás, e até mesmo deixado de cuidar dele?
Em sua visão ele merecia isso, 12 anos, haviam demorado 12 míseros anos para acabar em menos de algumas horas por uma briga boba. A verdade era que independente da escolha de Dean, Castiel sempre iria acompanhá-lo e aguardar sua volta para o paraíso, anjos da guarda são para isso.
Uma batida na porta o tirou de seus pensamentos, o mesmo desceu a grande escadaria do observatório e encontrou Charlie com o livro que havia emprestado, mas sua feição apenas deixava claro que ela estava arrumando um pretexto para entender o que havia acontecido.
— Vim devolver.— Ela sorriu de forma tímida e então entrou no observatório, um lugar tão conhecido por ela, ao subir as escadarias, notou que não havia sequer uma flanela de Dean jogada pelos cantos, ou garrafas de uísque, ou de cerveja.
— Desembucha.— Disse Charlie largando o livro na mesinha perto da prateleira dos livros.
— Mas, você não veio apenas para devolver o livro?— O anjo se fez de desentendido e então notou a ruiva colocando as mãos na cintura.
— Quem você pensa que o Dean procurou para se despedir primeiro?— A mesma arqueou uma sobrancelha.
— Charlie...— O mesmo suspirou, sequer sabia se queria conversar sobre aquilo, mas ela não sairia dali sem dar os conselhos que viera dar.
— Se importa se eu mexer nos livros enquanto você me conta?— Ela levantou e então foi para a prateleira sem sequer ouvir a resposta de Castiel, ali se iniciaria uma grande e longa conversa.