Capítulo 1 - O começo de um Fim

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"Existem várias maneiras de se sentir sozinho". Gabriel dizia isso para si mesmo todos os dias tentando esconder o fato de que não tinha muitas pessoas próximas a ele, pelo menos não alguém que entendesse como ele realmente se sentia. Mesmo que inconscientemente, percebia o quão era difícil mentir para si mesmo, pois no fundo sempre saberia a verdade. Ele não se sentia vivo, mas tampouco estava morto, pelo menos não por hora.

Às vezes pode ser difícil estar ao lado de uma multidão que não compreende o que você passa, que não se importa se você está passando por algo e que muitas vezes vê a dor do outro como um vitimismo e ao mesmo tempo uma multidão que faz você querer morrer todos os dias. É confuso, eu sei, mas é assim que Gabriel se sente, confuso, perdido, sobre quem ele é, sobre o que quer e sobre como viver, sobretudo se quer viver.

"Eu vou sorrir e será um sorriso convincente". Gabriel dizia essa frase na frente do espelho todos os dias antes de sair de casa. Ele imaginava que ia recomeçar e ser uma nova pessoa e que assim tudo mudaria. Acreditava que era o único jeito de conseguir seguir em frente, ele estava enganado? Como seria possível sorrir quando já se sente morto por dentro e tudo que faltava era apenas se entregar à morte de bom grado?

Muitos provavelmente dirão que é vitimização de Gabriel, o que comprovaria o que acabei de dizer, outros dirão que ele foi egoísta por escolher desistir de tudo, mas ele sentia no seu interior que não tinha uma escolha, para ele parecia a única e última alternativa. Em nenhum momento chegar a esse caminho foi fácil para Gabriel, na verdade, foi a coisa mais difícil de toda sua vida. Algumas pessoas, talvez até muitas, irão menosprezar a dor dele, o julgarão, mas antes de qualquer coisa tenha empatia, se pergunte se você não é um dos motivos pelos quais ele se sentiu obrigado a cessar sua vida.

Ele deixou vários sinais, vários pedidos de socorro, e não foi ouvido. Gabriel cansou, cansou de falar e não ser ouvido, de dar atenção a quem simplesmente o ignorava, de se esforçar pelos outros e tentar mostrar para as pessoas suas qualidades, ele simplesmente cansou e começou a se fechar para o mundo. Ele ficou em silêncio e o silêncio sempre era ensurdecedor.

Por mais que Gabriel fosse jovem ele sempre acabava se colocando na situação de comparação com outras pessoas da sua idade e até mesmo com pessoas mais velhas, isso fazia ele não conseguir se sentir bom o suficiente. Gabriel Martins tem vinte e três anos e está desempregado há mais de um ano, por diversas vezes ele ia a entrevistas, mas nenhuma delas dava retorno e isso o colocava em uma situação de se sentir inútil. Ele tem uma doença e precisa tomar remédios todos os dias por conta dela, mas ultimamente ele parou de tomá-los. Sua vida, no geral, não está na melhor fase, desde a faculdade, a vida amorosa, trabalho e problemas pessoais, tudo parece estar desabando e mesmo o menor dos problemas parecem pesar uma tonelada.

Na maioria das vezes Gabriel não se sente bonito, ele não se acha feio, mas ao encarar o espelho ele simplesmente não consegue gostar do que vê e não se sente bem consigo mesmo. Ele se tornou o tipo de pessoa que necessita da aprovação de outras pessoas para poder gostar de algo em si mesmo, o problema é que há algum tempo ele não estava recebendo essa aprovação e se outras pessoas não enxergam e mostre para ele sua beleza e qualidades, ele também não conseguia percebê-las.

Caso ainda não tenha notado, Gabriel é um garoto negativo, ele tem consciência de que não é nada otimista, mas de acordo com ele "é muito melhor ver a vida como ela realmente é: uma bosta". As coisas ruins pelas quais ele passou o tornaram assim, porque para ele era muito mais prático estar sempre para baixo do que sempre se frustrar com expectativas.

Tudo começou há alguns anos atrás, quando Gabriel estava no ensino fundamental, para ele era um pouco complicado conviver com as outras crianças, crianças podem ser muito más quando querem, às vezes ele se sentia muito deslocado, como se fosse de outra espécie. Recebia muitos olhares de canto de olho, mesmo sem nunca entender o porquê, mas sentia que sempre havia algo nele que não agradava as pessoas à sua volta.

Cartas Para Um SuicídioOnde histórias criam vida. Descubra agora