O clima daquela manhã poderia ser comparada a um daqueles comerciais de protetor solar, onde o sol, nuvens e até mesmo a areia era perfeita. Infelizmente não estava numa praia mas pelo menos eu tinha a areia, eu estava sentada numa caixa cheia dela sob a sombra de uma figueira-brava que com a ajuda da brisa refrescava aquela manhã.
Não fazia idéia porque estava ali mas a única coisa que sabia era que eu tinha a minha frente um monte de areia com uma marca de uma pegada e uma vontade imensa de chorar. Não sabia o motivo mas me entreguei a sua vontade e entre ranhos e soluços chorava o mais alto que podia.
Olhei a volta a procura de alguém que fosse me consolar pelo meu drama exagerado mas não vi ninguém por perto. Coloquei minha cabeça entre minhas pernas e comecei a chorar mais forte até que uma lambida no meu braço me chamou a atenção.
Ao levantar a cabeça me deparei com um filhote de vira-lata com um sorriso maior que a cara lambendo meu rosto todo animado sendo segurado pelo Felipe.
- "Aqui, olha como ele é bonitinho, a perna dele tá machucada por isso que ele tava chorando." Ele disse enquanto virava o cachorrinho e mostrava a pata traseira dele que estava um pouco mais flexionada contra seu corpo que as demais.
Eu afastei meu rosto um pouco dele e tentei olhar com mais atenção o filhote que por sua vez começou a lamber minha cara toda me deixando toda babada. Comecei a rir de nervoso com as suas investidas molhadas e quando percebi ja tinha agarrado o cachorro da mão de Felipe. Aproveitei que agora dominava a fera e tentei prestar atenção melhor nela.
Agora um pouco mais calmo consegui reparar suas características, seu corpo magro e sujo trazia pêlos brancos com uma mancha escura em na sua orelha esquerda, olhos castanhos e uma cara de bobão e pra fechar com chave de ouro era um vira-lata.
- "Vou dar o nome pra ele de mingau por que ele é todo branquinho." Falou o Felipe enquanto acariciava o cachorro que retribuía o seu novo nome com lambidas o balanço agitado do seu rabo.
Olhando agora percebi que o Felipe parecia diferente, como se tivesse 8 anos de idade e olhando pra mim mesma também estava menor e com braços e pernas de criança, na realidade até a minha antiga roupa de criança, um macacão de morangos todo rosa.
E por mais engraçado que fosse eu nem senti estranhamento, é como se fosse tudo real, dei uma olhada em volta e me identifiquei onde estava, era numa praça que ficava no final da minha antiga rua quando morava em Éden, aqui tinha um parquinho onde vivia indo brincar com Felipe quando era mais nova.
Eu já estava começando me situar até que tentei lembrar do que estava chorando e quando voltei meus olhos pra caixa de areia meus olhos voltaram a lacrimejar e quando coloquei as mãos pra limpar meu rosto me senti estranhamente cansada.
Limpei meus olhos e quando os abri o teto do quarto me recebeu e junto dele uma dor de cabeça gigante como se tivesse de ressaca, olhei pros lados e ainda meio zonza vi que estava no meu quarto, o que quer dizer que tinha sido tudo:
- "Um sonho." Abri a boca involuntariamente e sentei na cama me espreguiçando e bocejando, comecei a massagear minha têmpora na tentativa de reduzir a dor.
Com a vista ainda um pouco embaçada tentei alcançar o meu celular e desbloqueei a tela do aparelho sendo recebida por uma notificação da Dona Marta.
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Dona Marta 3 novas mensagens
Oi filha voce vem hoje
Felipe disse que ficou com saudade
🎤 Mensagem de voz (0:04)Abri a tela de chat com a Dona marta e vi que as mensagens tinham sido enviadas umas 8 da manhã e já eram quase 12:00.
Tentei ouvir o áudio mas a única coisa que dava pra entender era o som abafado da risada da mesma enquanto ouvia alguém resmungando no fundo, provavelmente Felipe envergonhado.
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Contos de um amor perdido
RomanceOi, esse livro será uma coletânea de contos que farei sem pretensão de extender, (ou não sei, quem sabe) divirtam-se e chorem bastante. A maioria vai ser romance mas talvez um ou outro eu mude a temática.