Café com Romance

Capítulo 1

Pra mim, o amor deve ser como café, as vezes forte, as vezes doce, as vezes só e outras acompanhado, porém, nunca deve estar frio. (Autor desconhecido)

O dia começou mal, ultimamente eu e meu despertador estamos brigados, o motivo? Bem, ele toca bem na hora do auge do meu sono da beleza, eram cinco da manhã, cedo demais para uma pessoa normal acordar mas para quem trabalha é bem comum. Meu trabalho é vender cafeína para as pessoas para começarem o dia bem ou deixá-las bem mais acordadas durante o dia, é super importante eu estar no horário certo atrás do balcão atendendo os pedidos matinais dos clientes.

Minha rotina era dormir cedo para acordar cedo, as vezes eram quebradas para curtir um pouco mais a noite. O pico entre seis da manhã até às oito eram as piores, essas duas horinhas pra mim eram a hora do pesadelo. Clientes reclamando da demora, pedidos errados, café quente demais e alguns até se queimando, fora os que derramam o café e fazem uma bagunça.

Eu trabalho em uma cafeteria chamada Café com Delicadeza, um belo nome pra uma cafeteria mas quem sou eu pra falar, o nome do meu último peixe foi telefone, que só durou um mês apenas e foi um ótimo companheiro de quarto. Saudades, telefone.

Sento na cama e coloco os meus pés para fora, olho pela milésima vez meu pequeno "kitnet" que foi meu lar durante três anos, me instalei aqui quando comecei a faculdade de arquitetura, ainda não tive coragem de contar aos meus pais que queria ser design de sapatos, quando comecei a fazer Arquitetura foi por forte influência do meu pai, ele queria que sua filha fosse uma arquiteta de sucesso e no começo eu fui fazer porque ainda não sabia o que eu queria da minha vida e fiz o curso para tentar me encontrar e talvez até gostar com o tempo mas isso infelizmente não aconteceu comigo. Descobri que queria fazer design de sapatos após ver uma batalha de sapatos na televisão, e desde então tenho feito esboços de sapatos em qualquer folha que apareça em minha frente.

Meu pais ainda pensam que estou fazendo o curso de arquitetura e que estou trabalhando meio período em uma lanchonete para bancar a faculdade, eles nem imaginam que a filhinha deles jogou tudo pro alto e que agora está atrás de um balcão vendendo café para sobreviver e não tem onde cair morta se depender da própria.

Estou juntando dinheiro que sobra e as gorjetas que recebo para pagar o curso de design, se tudo acontecer como eu planejei, daqui há um ano estarei entrando na faculdade e poderei encarar os meus pais com um diploma nas mãos. Talvez fiquem decepcionados por não ser o de arquitetura, mas pelo menos vai ser um diploma do qual eu me orgulho.

Desfaço a trança que usei ontem o dia inteiro, isso me dá alguns minutos de vantagem não preciso lutar contra minha juba matinal. Me levanto e vou pro banheiro, tomo um banho rapidamente e trato de me vestir com uma calça jeans e uma blusa de manga listrada, endireito meu cabelo, saio do banheiro e vou pra cama.  Puxo meu tênis debaixo da cama e os calço, pego minha bolsa na mesinha que há no pé da cama e por último pego meu cachecol no pendurador e saio de casa.

Poucas pessoas saem de casa para trabalhar à essa hora, metade do meu bairro ainda deve estar roncando e como eu queria fazer parte desse grupo mas tenho que lutar pelo meu sustento de cada dia, deixo de fazer corpo mole e atravesso a rua para chegar no ponto de ônibus, por sorte consegui alugar a minha caverninha a alguns metros do ponto de ônibus. Em alguma coisa eu tinha que ser sortuda, né?

Tem algumas pessoas já no ponto esperando o ônibus que ia para o centro, e se minha conta estiver certa, irei em pé como sempre. O ônibus chega vinte minutos depois, espero que o trânsito esteja de boa para eu chegar a tempo, cada desconto no salário é uma facada no peito. Como querer não é poder, perdi meia hora no trânsito, salto do ônibus e vou correndo para a cafeteria e consigo chegar sete minutos antes do meu horário, vou direto para o vestiário dos funcionários.