Eu acordo e o Harry ainda está a dormir. Para não o acordar, decido manter as calças de pijama mas visto um casaco de fato de treino... afinal de contas não estou em minha casa para andar como quero.
Pelo silêncio que está na casa acredito que a Anne ainda esteja a dormir... olho para a cozinha e percebo que não faço a mínima ideia de onde estão as coisas... na verdade nem me sinto à vontade para comer sem nenhum deles estar acordado. Talvez não haja problema se eu beber um chá... encontro o sítio das canecas e agora só tenho que procurar pelo chá enquanto deixo a minha água a aquecer no microondas. Abro uma caixinha com uns pacotinhos dentro e só peço que haja chá preto. Preciso de cafeína neste corpo... felizmente a Anne também os mesmos gostos que eu. Deixo o meu saquinho de chá de molho e deixo-me ficar a observar o jardim da Anne pela janela da cozinha. Tento abrir a porta para sair para o jardim mas ela está trancada e eu não faço ideia de onde está a chave... mas certamente que está aqui na cozinha. Fui procurando, silenciosamente, mas não encontro nada... tento abrir mais uma vez, não vá ser a minha falta de jeito, mas a porta está realmente fechada.
"Precisas de ajuda para alguma coisa?" A sua voz doce atrás de mim assusta-me e eu solto um pequeno guincho "desculpa não te queria assustar" a Anne ri baixinho
"Eu é que não estava a contar consigo..." eu digo tentando conter a vergonha "só estava a tentar ir ao jardim mas a porta está trancada..."
"Ah sim. A chave está aqui" ela abre uma caixinha com medicamentos e tira de lá a chave
"Ah obrigada!" Eu solto
"Já tomaste o pequeno almoço?" Ela olha para a minha caneca
"Não... na verdade eu só fiz um chá. Espero que não se importe..."
"Claro que não Mel! Faz de conta que estás em tua casa. Come e bebe à vontade, não há problema algum" Eu assinto tímida e a Anne percebe "senta-te aí, vou-te preparar umas torradas com doce de frutos vermelhos... as melhores que já comeste!" Ela diz
"Eu ajudo" eu ofereço
"Nem pensar" ela sorri na minha direção "tu vais ficar aí quietinha"
Eu solto uma gargalhada baixa e deixo-me a observar os seus movimentos. Como é que será viver sem a pessoa que amamos? Como é que será acordar todos os dias e pensar que nunca mais vamos ver a pessoa com quem partilhamos tantos anos de vida? A Anne é definitivamente uma mulher forte... o tempo vai curando as dores.
"Como tem estado o Harry?" Ela diz enquanto prepara o seu chá
"Hum... bem, acho eu. Teve aqueles dias mais ocupados com coisas do trabalho mas de resto tem andado bem" Ela sorri
"Tive medo da reação dele quando estivesse sozinho em Londres... sabes que a morte do Robin afetou-nos a todos... ainda que já soubéssemos que iria acontecer, nunca ninguém pensou que fosse tão cedo" eu assinto e ela suspira "e ainda para mais ele estava com aquela Taylor... insuportável. O que é que ele viu nela?" A Anne olha para mim e eu solto uma gargalhada
"Ja questionei o mesmo" eu solto e ela ri
"Eu nunca pensei que ela fosse ter coragem de vir aqui ter. Ela sabe que eu não gosto dela e tenho a certeza que ela também não gosta de mim... pelo menos fiz por isso. Ela transmitia uma sensação de que a qualquer momento alguma bomba podia explodir..." ela pousa as torradas à minha frente "tu és diferente. Fico mesmo contente que o meu filho te tenha encontrado"
"Obrigada..." eu digo super envergonhada
"Desde que vi a postura dele contigo que tive a sensação que era muito mais do que uma amizade o que vocês sentiam um pelo outro. Notava-se que havia mais do que isso... ele já me tinha falado de ti. Bem, na verdade, ele falou-me de uma rapariga que tinha começado a trabalhar na empresa e que lhe achava piada... nunca na vida pensei que fosse a filha dos meus vizinhos" nós rimos juntas "mas desde que tu entraste lá que tu lhe ficaste na cabeça... só ainda não entendi muito bem como é que ele te deixou quando a Taylor voltou..." ela olha para mim à espera que eu responda
