Estou à porta de casa da vizinha a acompanhar os meus pais. A minha mãe abraça-se logo à amiga e ambas se perdem a chorar. O meu pai cumprimenta umas pessoas que lá estavam e eu sinto o meu corpo a ficar em choque. E se eu perco os meus pais? E se nunca mais os vejo a sorrir? Se nunca mais lhes posso dizer o quanto gosto deles? Sinto o meu coração a bater rápido demais e sinto o ar a falhar-me.
Respira Mel. Não é altura para ataques de pânico.
E se eu fico sozinha neste mundo? E se eu me esqueço da voz deles?
Porque é que eu não consigo controlar isto?
Afasto-me da entrada da casa e tento acalmar-me. Respiro fundo várias vezes e dou voltas pelo passeio. Volto a minha casa e bebo água. Respira Mel. Deito-me no chão e deixo as lágrimas soltarem-se. Eu preciso de respirar! O meu coração aperta cada vez mais e eu sinto-me fraca. Mas eu consigo. Eu consigo acalmar-me. Já consegui antes."Mel!" O meu pai grita quando me vê no chão "Mel o que se passa?"
"Está tudo bem pai" Eu tento sorrir "só me senti mal"
"Diz-me o que fazer para te ajudar"
"Fala comigo. Fala-me sobre coisas bonitas que tu gostes"
Ele olha-me confuso mas não hesita. Eu sinto-me a ficar mais calma mas as lágrimas continuam a cair. O meu pai acaricia a minha face e ajuda-me a levantar. Eu abraço-me a ele com muita força... e se eu o perdesse para sempre? E se eu perdesse a minha mãe? Porque é que isto me está a afetar tanto? Eu devia ser forte e estar a dar apoio à pobre família e aos meus pais... afinal eles devem estar a sofrer bem mais do que eu. Bebo mais um copo de água e sinto que já estou mais calma.
"Tu não precisas de ir..." o meu pai diz
"Que raio de mulher seria eu se não fosse lá, pai? Eu é que vos devia estar a apoiar" a minha voz ainda falha um pouco
"Todos nós temos realidades diferentes... todos a vivemos de maneira diferente. Não tens que te sentir mal por estares mais fragilizada..."
"Eu quero fazer isto" eu digo firme "eu só pensei como seria se fosse eu a estar no lugar da filha deles..."
"Mas não estás... e nós vamos estar aqui sempre para ti" eu volto a abraçar o meu pai com força e acabamos por sair os dois de casa.
A porta de casa deles estava aberta e por isso entramos sem pedir autorização.
"Eu sinto muito Anne" digo relembrando a voz da minha mãe a dizer o nome dela com tanta dor "tenho pena de não ter conhecido o Rob, mas tenho a certeza que ele era um ótimo pai, marido e companheiro"
Estas palavras custam-me a sair da boca. É tão estranho dizer isto a alguém que está a sofrer... e esta frase é tão clichê.
"Ele era" a Anne abraça-me "Mel, pelo que a tua mãe me conta, ele iria adorar conhecer-te" ela acaricia-me o rosto "a minha filha está no jardim lá atrás... eu acho que lhe ia fazer bem ter uma companhia feminina. O meu filho está no quarto... ele não está a lidar muito bem com a situação. Quando chegares ao jardim chama pela Gemma"
Eu assinto e caminho pela casa até encontrar o jardim. Na verdade não havia mais ninguém para além da mulher a olhar para a piscina. Aproximo-me calmamente e vejo-a com os pés na água.
"Gemma?" Eu solto quase num sussurro e o seu olhar desvia-se para o meu
"Sim" ela responde seco "desculpa, mas eu conheço-te?" Ela diz pondo-se de pé
"Acho que não" eu solto um sorriso fraco "Mel. Filha dos vizinhos aqui do lado..."
"Ah sim" ela sorri "a tua mãe fala muito em como nos daríamos bem" ela sorri mas nos seus olhos eu vejo uma dor imensa
