ESCREVI

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Escrevi sobre você
todos os dias que acordei
e noites que adormeci,
se fosse para escolher
decidiria não ter opção,
o que não plantei não colhi.

Escrevi sobre seus olhos,
e de olhar já experimentei
alegria, tristeza, dor e ódio,
em todos que pude enxergar,
na penumbra do brilho que há,
vi o desejo simplório.

E tu me invades com esse par
de janelas vivas que guardam a
alma inocente e pura,
parada no final de uma rua escura,
esperando uma tocha de luz da lua.

Escrevi sobre sua boca,
e o calor do umami não
me deixou perceber,
que de olhos fechados eu
ainda podia ver,
cada ângulo e curva
do esboço da bela moça,
no movimento uniforme no céu
estrelado de sua boca.

Tu não sabes do quanto lamento,
cada dia é tormento,
e da dor não estou isento,
e a solidão sempre me dá cumprimentos,
passando pela porta,
oferecendo a mesma proposta.

Mas não aceito caridade,
não quero bens ou dinheiro,
só quero verdade: ficaste aquele tempo
por barganha ou vontade?
me destes escolha e tive lealdade,
e como tudo que vem e
que vai tem um preço,
isso não é mais do que preciso
nem menos do que mereço,
hoje morro e depois reapareço,
me afogando na paixão da
mulher que careço.

Escrevi sobre seus cabelos
e meu estômago embolou quando
lembrei dos cachos seus
amarrados na nuca.
Quase parecia um espelho,
que com tamanha beleza despedaçou, fragmentando a bela moça como nunca.

O amor é a minha troca,
já que nada tenho a te oferecer,
isso é tudo o que há de mim.
E um som alto no meu coração toca,
uma canção gentil e praiana
venho-te a conceder,
e também um momento: só eu e você.
E te deixo sentindo o mesmo que a mim, pensando em você e
escrevendo um livro que não tem fim.

O Juvenil Platônico e o Andarilho PeregrinoOnde histórias criam vida. Descubra agora