Parte 1 Quando entrou na minha vida

23 5 19
                                    

Eu tinha quinze anos quando conheci a Carla em uma aula de educação física no colégio, ela era a filha do casal mais rico da cidade, eram médicos, sua mãe neurologista, seu pai cirurgião plástico, trabalhavam muito na época. Enquanto os dois passavam a semana na capital do Rio de Janeiro, Carla morava numa cidadezinha do interior de Minas Gerais onde era criada pela avó paterna, dona Jacira, um amor de pessoa.

A rotina intensa do casal se tornou um problema para manter Carla com eles quando, alcançando a adolescência, já não podiam mantê-la aos cuidados de babás, esqueceram ela no colégio várias vezes e esse lapso, somou-se a diversos eventos que tornou impossível a permanência dela com os pais, tinham duas opções, enviá-la para a avó ou um colégio interno.

Por isso, quando fizemos amizade, nosso laço foi tão intenso que dona Jacira me convidava para pernoitar na casa dela por várias vezes a fim de que a neta não se sentisse sozinha. Carla era tão simples, tão humilde, que ao lado dela eu não me sentia somente a filha do dono do mercadinho local, ela me tratava por igual, fazendo uma tola como eu, adolescente rebelde que se envergonhava por não ser rica, orgulhar-me dos pais e seu ofício, admirá-los e amá-los por estarem sempre comigo.

Em alguns finais de semana, quando seus pais estavam em casa, faziam churrascos em volta da piscina, eu era a única convidada, então preciso contar a primeira vez que o vi.

Eu jamais imaginaria quem era aquele homem!

Aquele cara lindo de bermuda azul e óculos escuro perto da churrasqueira dançando uma música qualquer e rindo exibindo lindos dentes e maravilhosas covinhas simplesmente tirou meu ar quando atravessei a porta de vidro, seu abdômen perfeito sob um peito musculoso num corpo totalmente ajustado. E eu sei que ele notou a reação que causou em mim, pois ainda que estivesse com óculos escuro, não havia ninguém mais naquela direção em que ele olhou, somente a mim, então ficou imóvel, como se paralisado ao me olhar, ou curioso eu não sabia dizer.

Meu corpo inteiro reagiu, um frio na barriga e as pernas tremendo, mas eu soube disfarçar, sorri abertamente olhando para Carla que estava dentro da piscina e mesmo sabendo onde deveria colocar minhas coisas, sendo a única pergunta a vir na mente, perguntei:

_ Onde coloco minha bolsa?

Foi então que, para meu desespero e decepção, Carla gritou para aquele monumento grego que tanto mexeu comigo:

_ Pai, coloca a bolsa da Nicole no quarto por favor?

Eu voltei a olhar aquele homem lindo, que agora tirava os óculos e vinha em minha direção sorrindo e esticando a mão direita enquanto segurava o copo com bebida na mesma mão que mantinha os óculos.

_ Olá, então você é a famosa Nicole? Carla fala muito em você.

Sorri segurando sua mão e senti seu aperto firme por um breve momento, ele tinha uma voz linda e um tom extremamente simpático e educado, dava para perceber de onde Carla puxava tanta simpatia.

_ Sim, sou eu... espero que ela fale bem. - Falei rindo, pegando a mochila de meu ombro, ele apontou para o quarto suíte ao lado da piscina dizendo:

_ Vou colocar ali, se precisar pegar algo, fique a vontade.

Eu já havia usado a piscina diversas vezes na ausência dele, sabia onde era o quarto, mas assenti como se fosse minha primeira vez ali.

Depois daquela ocasião, houve várias, porém víamos pouco a mãe da Carla, ela sempre estava ausente, e vou pular a trágica época em que eles se divorciaram e Carla descobriu que a mãe já tinha outro homem.

Eu acompanhei a depressão dela, tanto pela traição da mãe quanto por ver o pai arrasado. Estive perto quando sua mãe não apareceu para sua festa de aniversário e quando íamos para o Rio visitá-la, mas desmarcou dando uma desculpa qualquer na última hora.

Meu sonho de InfânciaOnde histórias criam vida. Descubra agora