capítulo 3

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-Joalin cadê o tio? - Ela deu de ombros.

- Não sei, mano, achei que estava com você. - Ela se aproximou, mas logo parou e fez uma careta.

- Josh você está fedendo. - Ela fez cara de nojo, Sorri.

Pela segunda vez no dia, uma mulher reclamava do meu cheiro. Isso era comum. Por causa do meu trabalho eu vivia na companhia de porcos, vacas, ovelhas e até coelhos. Normal de vez em quando cheirar como eles.

- Até você, pequena? - Comecei a correr atrás dela.

Jo odiava que eu fizesse cócegas em sua barriga, e eu adorava torturá-la. Joguei minha prima no sofá e comecei o ataque. Quanto mais ela pedia para parar, mais eu continuava, rindo das caretas que ela fazia.

- Sorte sua que estou de bom humor hoje. Te deixar em paz vai ser minha segunda boa ação do dia - eu disse, me afastando.

- Ah, é? E qual foi a primeira? Ajudou uma vaca a atravessar a estrada?

Mesmo com a respiração falha pelo ataque de cócegas, Joalin conseguia fazer piada.

- Não, ajudei com as malas da sua pupila. - Ela arregalou os olhos e pulou do sofá rapidamente.

- Merda! A garota não chegaria só amanhã? - perguntou enquanto entrava em seu quarto.

Caminhei até a cozinha e peguei uma banana da fruteira.

- Acho que o pai resolveu despachá-la antes! - gritei para que jojo pudesse me ouvir do seu quarto, enquanto descascava a fruta.

Voltei para a sala e aguardei.

- E como ela é? - Enquanto perguntava, sua cabeça apareceu na porta.

Comecei a me lembrar da garota mimada. Fechei os olhos e era como se a visse em minha frente novamente. Seus cabelos estavam molhados de suor, e alguns fios grudavam no rosto. Ela estava com as bochechas vermelhas pelo esforço e tinha uma boca que me fazia pensar em coisas. Senti algo endurecendo dentro da calça. Não acredito que estou ficando excitado por aquela nojentinha.

- E então? - Me assustei com sua voz. Ela estava sentada embaixo do batente da porta, calçando as botas.

- E então o quê? - perguntei, pois os pensamentos que estavam em minha cabeça tinham me feito esquecer a Joalin.

- Como ela é, Josh?

- Ah! - eu disse, tentando ganhar tempo para uma resposta. - Ela é como um cristal.

- Como assim? - Jo perguntou, sem entender.

- Nada. Agora anda logo, tenho que ir até o Noah antes de voltar para a cidade.

Joalin deve ter achado que eu estava ficando doido, pois me olhou de um jeito estranho, mas logo percebeu que se ficasse para discutir comigo se atrasaria ainda mais para receber a princesinha, então não perguntou mais nada.
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- Noah, eu estou te falando, essa garota só vai trazer problema - comentei com meu amigo.

Ele estava na cabine de uma máquina que mais parecia um disco voador de tão grande.

- Cara, faz meia hora que você está falando dessa menina. Quer dar um tempo para a minha cabeça? Estou trabalhando.- Ele pulou lá de cima. Realmente aquele trambolho era alto pra caramba.

Noah é engenheiro agrônomo. O melhor da região. Somos amigos desde a faculdade. Na verdade tudo começou com uma briga em um jogo de cartas. Até hoje ele jura que eu roubei. O que é uma calúnia, nunca roubo no truco. Então, depois que ganhei um olho roxo, e ele, um nariz quebrado, acabamos nos aproximando na enfermaria do campus. Desde então ele é o meu melhor amigo e meu companheiro de jornada.

Antes de ir ver o Noah, deixei a Jo na fazenda, pois ela seria paga para ser a dama de companhia da filha do Simon. A menina ficaria aqui por um tempo e o pai não queria que a donzela ficasse sozinha. Quando zombei que ela seria dama de companhia, minha prima se irritou e ficou quase um dia inteiro sem falar comigo, o que foi um recorde, mas logo fizemos as pazes.

Meu amigo trabalhava em uma plantação de soja nas imediações e por isso estava em cima daquela colheitadeira do demônio. Velhas rivalidades nunca terminam. Não sei como foi que escolhi um agrônomo para melhor amigo.

Eu devia estar louco.

- Cara, só estou dizendo que a Joalin vai ter que ficar grudada nela o tempo inteiro. E isso quer dizer que nós dois estamos ferrados. A garota é difícil de engolir.

Tentei explicar meu ponto de vista, mas acho que Noah teria que ver com os próprios olhos a menina que era como um cristal. É assim que eu a imagino: como um cristal. Lindo, brilhante, mas muito fácil de quebrar, praticamente intocável.

- A Jo vai ter que dormir na sede com ela? - A voz do meu amigo tirou aqueles olhos castanhos do meu pensamento. Talvez ele tivesse razão: eu estava pensando demais naquela garota. Precisava mudar o rumo da conversa, e sabia bem para onde seguir.

- Urrea, por que será que, de tudo o que eu falei, você só se interessou em saber da minha prima? - perguntei com um tom de voz mais ameaçador.

Ele conhecia a minha prima havia muito tempo, mas eu não estava gostando do jeito possessivo com que se referia a ela. Noah tinha a minha idade, ou seja, velho demais para minha pequena.

- Só estou curioso, uai. - Ah! Eu me esqueci de mencionar que Noah é mineiro. Seu sotaque carregado sempre fez sucesso com a mulherada, embora fosse muito tímido.

Deu um trabalhão ajudá-lo a se enturmar durante a faculdade, mas, quando se enturmou, comprovou o que dizem sobre os mineiros: come quieto.

- Entendi - respondi dando a ele um olhar mais duro, mas Noah simplesmente fingiu que não era com ele.

- Mudando de assunto, tem cover country no bar da Diarra amanhã. Você vai?

Noah deu de ombros e respondeu sem nenhum interesse:

- Não sei, ando meio cansado. Sabe como essa época de safra acaba comigo. Tô mortinho da Silva!

- Tudo bem, eu tenho que ir: prometi a Jo que a levaria para dançar. - Assim que eu disse o nome da minha prima, Noah mudou a expressão e endireitou o corpo antes de falar.

- Acho que posso aparecer por lá também - disse, desviando o olhar. Ele sabia que eu estava pensando merda, por isso não me encarava.

- Sério?! - Arqueei uma sobrancelha. - Só tenho uma palavra para você, Urrea: DEZOITO. - Dei ênfase à idade da minha pequena para ele entender de uma vez por todas que Joalin não era para o bico dele.

- Deixa de ser idiota, beuachamp. Essas caraminholas na sua cabeça ou são muito sol ou falta de sexo - ele disse, tentando mudar de assunto.

Rio das suposições dele, pois falta de sexo com certeza não era. Diarra tinha me deixado muito satisfeito naquela manhã. Sem querer prolongar o assunto, me despedi e peguei o caminho de volta para a cidade.
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Enquanto dirigia, comecei a escutar Country Boy, uma das minhas músicas preferidas.

'Cause I'm a country boy, I've got a 4-wheel drive Climb in my bed, I'll take you for a ride "Country Boy" - Alan Jackson

Comecei a cantar junto. O tempo que passei no Texas me fez amar o estilo country. Mesmo depois que voltei para o Brasil, nunca deixei de escutar minhas músicas preferidas.

 Mesmo depois que voltei para o Brasil, nunca deixei de escutar minhas músicas preferidas

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𝟾 𝚜𝚎𝚐𝚞𝚗𝚍𝚘𝚜- 𝙱𝚎𝚊𝚞𝚊𝚗𝚢Onde histórias criam vida. Descubra agora