I - Místico

1.8K 78 26
                                    

Beatrice Portinari
22:24, base da Ordem

Hoje é meu primeiro dia, e eu estou completamente exausta com o que está acontecendo. Justo no dia 31 de Outubro. Justo no dia das bruxas foi a minha iniciação, mas não importava, porque eu conheci um grupo de pessoas legais, que eu posso finalmente contar para todos os momentos! E tem um, um que era diferente. O Tristan. Ah, o Tristan, como eu posso falar dele? Pensa em um surfista do Rio de Janeiro com queimaduras de segundo grau e uma jaqueta de um sulista no inverno, que ele nem usa. É, esse é o Tristan.

— Bea! - ele grita em minha direção, enquanto eu estava pensando no que havia acabado de acontecer. — Hã? - eu respondia, e quando eu percebi, ele jogou um saco de comida na minha direção. — A-AH! - eu estendo as minhas mãos para tentar pegar, mas falho, com o saco caindo no chão, se espatifando. A única coisa que eu conseguia ouvir após, foi os sons de risadas e tosses acompanhadas de um grande sorriso. — TRISTAN! - eu dizia, e ele arqueava as sobrancelhas, — Ué, que que foi, novata? Tem que moscá não! Presta atenção! - sua voz engraçada dizia, juntando a um tom cômico. — NÃO!..não é engraçado. - eu respondia, quase me exaltando. — Claro que é! HEH! - ele dizia de longe. Eu conseguia ver as ataduras ensanguentadas por todo o seu corpo, mas lá estava ele, em pé, sorrindo como um verdadeiro guerreiro. — Agora eu vou ficá sem comida? - eu dizia a ele, colocando minhas mãos em minha cintura. — Vai! E se reclamá fica sem comê por um mês - ele respondia, com um grande sorriso em seu rosto, enquanto andava até mim. — É serio, Tristan. - ele colocava suas mãos para cima, como se estivesse sendo assaltado — Aí, ai, chefia! Tá me prendendo aqui! - ele gritava a todos da sala, e logo me olhava — Relaxa. Eu tenho uns pão de queijo aqui comigo. - ele respondia, em um tom mais baixo e calmo, diferente do seu tom de comediante e barulhento. — Ok. Obrigada.. - eu respondia, e esperava ele pegar os pães para mim. O Orpheu, do lado do meu ombro, apenas ficava calado, observando a situação como se ele fosse uma estátua, assim como sempre foi. Eu fazia um carinho no biquinho dele, e via o Tristan mexendo em algumas sacolas de um supermercado, com uma expressão relaxada em seu rosto. — Ahh..ele é um gatinho. - eu sussurrava para o Orpheu, — Né? - eu buscava aprovação dele, mas como sempre, nada. — É..acho bom mesmo. - eu respondia, sorrindo de canto. — AÍ! - ele gritava das mesas, com o saco para cima, — VAI UM KETICHUPE AE, NOVATA?! - ele balançava alguns saquinhos de ketchup, — Veio com o lanche do ifood! - ele terminava. — Quero, quero sim! - ele sorria novamente com a minha fala, e começa a preparar as coisas, se arrumando para me entregar os pães de queijo, com os ingredientes que ele queria colocar. — Heh.. - eu ria baixinho, e me sentando em uma cadeira, cruzando minhas mãos e mantendo meus pés firmes um no outro, com minhas botas sujas de sangue e meu rosto manchado com sujeira. — Latesem'ua, cherie.. - ele aparecia, colocando uma bandeja com 7 pães de queijo na minha frente. — E o que isso significa? - minha pergunta parecia fazer ele se perder nos pensamentos, mas logo ele os recobrava — Nada! É só um jeito engraçado de falar! Maaas..o chérie é senhorita!..eu acho. - ele se sentava na minha frente, comigo segurando a risada. — Tristan! - eu socava o ombro direito dele, mas com pouca força, enquanto que com a outra mão pegava um pão de queijo. — AU, AU! - ele dizia, com a mesma expressão engraçada e um tom risonho — Só fiz pra te agradá! - ele responde com um sorriso, e na hora que ele processa a fala, para de rir, mas mantém uma expressão descontraída. — Você ía dizendo? - eu falo, notando a falta da risada e da subita diferença de posicionamento que ele dá. Não sou burra, ele queria me agradar. — Né nada não! Aproveita teu lanchezinho ae! - ele se levanta abruptamente, e anda como se estivesse machucado para a enfermaria. — Hehe.. - eu rio, e como os pães de queijo.

Beatrice Portinari
1:03AM, Base da Ordem.

Eu estava com minhas mãos encostadas no meu queixo, observando a situação. Joui e o Kaiser estavam discutindo com o Dante, a respeito do orfanato, a onde ele poderia ser o único a nos guiar para lá, já que eu não me lembrava. Fernando e Erin estavam tentando apaziguar a situação. Eu não consigo mais ficar naquele ambiente, por toda a discussão, toda a briga, intriga. Eu só queria paz, e eu só acharia paz em um ambiente a onde ninguém falaria absolutamente nada. Me levanto, e sigo em direção a enfermaria. — Ah.. - eu dou uma respirada e um som de cansaço, enquanto lágrimas começam a escorrer minhas bochechas. Lágrimas quentes, caindo em minhas roupas e no chão. — Não..não. Dante..não. - eu olhava para a bancada, e a Marcela não estava alí. Provavelmente estava conversando com o cientista da Ordem, — N-não.. - eu coloco minhas mãos contra a bancada, apertando esta levemente. — Ei.. - eu ouço uma voz. Uma voz, que antes exaltada, risonha e cômica, agora se mostrava calma. — Ahn? - eu limpava o catarro que estava começando a escorrer meu nariz, sujando a manga da minha blusa — Cê tá chorando por que, novata? - ele estava deitado na cama, falando com a cabeça levantada para mim. — Não é nada..não é nada. - eu respondia, e olhava para o pessoal conversando na sala central. — Mas se cê tá chorando, é porque é algo, novata. - ele reepondia, agora com um tom irônico, mas ainda compreensivo em sua fala. — Não é..mas.. - eu gaguejava, — É.. - eu olhava a ele, e me aproximava, me sentando ao seu lado. — Como você tá? - eu perguntava, e ele apenas sorria, colocando as mãos queimadas e enfaixadas ao redor das minhas mãos. — Não. A pergunta é..cê tá bem? - ele retribuiu, apertando um pouco das suas mãos nas minhas. — Eu..eu tô. E-eu acho que tô.. - mais lágrimas escorriam pelo meu rosto, e eu olhava para baixo, com minha boca se contorcendo de acordo com o quanto eu pensava mais no que estava acontecendo. — Aah. Sua chorenta! Vem cá! - ele dizia rindo, e levanta suas costas com a maior dificuldade do mundo, para apenas me abraçar, e ele consegue, me puxando para a altura da cama. — Tá bem, tá bem..cê vai ficar bem. - ele dizia, fazendo carinho nos meus cabelos. Eu não conheço ele a tanto tempo, mas eu sinto que seu rosto, sua voz, seu toque, eram tudo que eu precisava. — Eu..Tristan.. - nada saia da minha boca direito. — Preciso ir lá. Com eles.. - ele ria, me olhando. — Vai lá, novata! Brilha, e volta aqui pra me beijar com esses lábios angelicais! - eu sorria, — Tristan.. - eu não conseguia fazer nada além de rir, e sentir minhas bochechas ficando vermelhas, pelando de quente. Eu me levanto, e vou em direção ao grupo.

Eu estou sentindo algo quente. Queimando, deteriorando meu peito. Ele me provoca algo estranho..ele. E somente ele.

__________________________________

Notas do autor
Não se esqueça de votar, comentar e compartilhar esta história. Colocarei muito esforço nela, assim como a de Lizago, e farei jus ao Tristan, que ele descanse em paz depois da sessão do dia 6/03.
Meu Twitter é : @It22We
Me siga para mais notificações sobre a história.

· Pedaços do meu coração - Tristrice [ +18 ]Onde histórias criam vida. Descubra agora