Impostor

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Assim que as portas metálicas se abriram, eu não consegui mais ouvir a voz de ninguém.

Eu me sentia completamente isolada dentro daquela roupa futurística, podendo sentir que meus pensamentos ecoavam pelo capacete com visor de vidro, me deixando de certa forma desnorteada.

Não posso deixar de me comparar a um peixe no aquário.

Ignoro meu estado de espírito e corro seguindo os passos de Naruto até a primeira sala.

Armazenamento

Leio mentalmente o nome da sala assim que eu e Naruto passamos pela porta.

Desacelero meus passos e me permito espiar por cima do ombro vendo que o grupo, antes formado por dez pessoas, se dispersou completamente.

Assim como Karin queria que tivesse acontecido, cada um seguiu seu caminho sem ter uma estratégia formulada. Talvez alguns, como eu e Naruto, tivessem se juntado em grupos menores, mas não é como se aquele detalhe fosse muito importante para mim naquele momento.

Volto minha atenção a meu companheiro e sinto uma vontade natural de perguntar o que ele pretende fazer, mas engulo minha pergunta ao me lembrar que do mesmo jeito que eu não podia escutá-lo, eu não conseguia me fazer ser ouvida por ele.

Seguimos a passos largos até um dos cantos da sala onde estava escrito lixo.

Naruto então aperta um botão, provavelmente para esvaziar o compartimento de lixo – que estranhamente está vazio -, mas nada acontece.

Então ele faz pressão sobre o mesmo botão repetidas vezes, como alguém impaciente que pretende chamar o elevador, mas a situação não muda em nada.

Espero ele reler o que suponho ser as instruções para completar aquela tarefa e, institivamente, olho para trás tentando ver se alguém suspeito chega perto de nós, esquecendo que provavelmente a única suspeita ali era eu mesma, eu e meu título de impostora. Porém, percebo que o silêncio nos cerca, o que me deixa ao mesmo tempo aliviada e com medo.

Dou um passo em direção a Naruto, ainda olhando para trás, ainda tentando me acostumar ao fato irritante de não poder me comunicar com Naruto nem ouvir sua voz. Meu ato impensado me faz trombar com seu corpo e, por causa do impacto inesperado, me desequilibro caindo de bunda no chão.

Ele se vira parecendo assustado, e vejo seus olhos azuis pelo visor de seu capacete laranja. Na minha cabeça, me pergunto se ele está preocupado comigo, ou me achando uma completa idiota.

Vejo sua mão ali, estendida no ar, e estico meu próprio braço a fim de deixar que ele me ajude a levantar. Porém, ao fazer força para me colocar de pé de novo, sinto um certo peso extra em minha perna direita... Como se tivesse um objeto pesado dentro do meu bolso e eu não tivesse percebido nada até então.

Por algum motivo, todas as células do meu corpo gritam para mim mesma que aquilo não podia ser uma coisa boa, afinal, ninguém havia comentado nada sobre ter algo nos bolsos; inclusive as caixas de som, nem elas haviam salientado nada relativo a um objeto extra.

Reprimo toda a minha vontade de levar minha mão até o bolso do me uniforme enquanto Naruto ainda me olha para ver se estou bem. Me dedicando apenas a seguir os passos do tripulante laranja de volta para a cafeteria.

A princípio não entendo nosso retorno ao refeitório, mas o sigo sem demonstrar nenhuma resistência ou opinião contrária. Aproveito que ele anda a passos rápidos e diminuo meu próprio ritmo de forma a deixar que uma curta distância entre a gente se forme. Sem tirar os olhos de suas costas andando bem a minha frente, enfio minha mão sorrateiramente em meu bolso sentido minha espinha gelar com o contato do que eu supunha ser uma faca de médio porte.

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