Capítulo 1 - O Primeiro Sonho

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   Corro rapidamente, me embrenhando em meia floresta, meus músculos não me fazem parar por nada, passo por algumas rosas cheias de espinhos, mas não são alguns cortes que me farão parar.

   Mas do que estou correndo? Por que não consigo parar? 

   A floresta começa a ficar escura, o Sol sumia no horizonte e eu me mantinha firme para não vacilar e deixar o que quer que seja me alcançar. Algo muda assim que o Sol se põem por completo, sinto meus instintos se ampliarem, minha visão ganha um longo alcance, meus movimentos ficam mais leves, posso sentir o cheiro de um cervo que está a mais de um quilômetro de mim e com a minha audição escuto os passos daquilo que se mantém firme atrás de mim. 

   Os sons ficam mais altos na minha cabeça, percebo um leve barulho vindo junto com os passos do meu perseguidor, um zumbido que começa a ficar mais alto e agudo, ele ressoa pela minha cabeça me ensurdecendo.

    Olho para frente tentando ignorar o som tampando meus ouvidos, mas isso se torna impossível, minha visão começa a ficar destorcida. Começo a perder meu equilíbrio lentamente.

    Dou mais alguns passos até que sou vencida pelo zumbido que se alastra por toda minha cabeça, me contorço de dor, uma dor que nunca havia sentido antes. Meus sentidos que ganhei há pouco desaparecem. Meus músculos caem como pedra e o meu corpo é recebido pelo chão estranhamente macio daquela floresta escura.

   Tento me levantar para continuar minha fuga, mas meus joelhos cedem e caio novamente no chão, percebo que os passos daquilo que me perseguia ficam mais altos, me viro para ver do que eu estava correndo esse tempo todo. Surgindo em meio as sombras um homem que mal consigo ver, por conta da minha visão prejudicada, se aproxima de mim.

   Ele seguro em suas mãos um pequena caixa, algo está escrito nela, mas não consigo ler o que quer que esteja gravado na lateral dela.

   O homem misterioso para perto de mim e se ajoelha, posso ver alguns detalhes de seu rosto. Sua aparência entrega algumas rugas, se fosse para chutar uma idade, diria que ele tem em torno de uns quarenta anos. 

  - Eu não acredito que isso funcionou - sua voz era grave e ao mesmo tempo doce, ele coloca gentilmente a caixa no chão - me desculpa, mas eu tenho que fazer isso.

  - O que? - minha voz sai fraca e estranha, como se não fosse eu mesma falando.

   Como uma resposta o homem tira de seu cinto uma adaga, nela haviam detalhes em sua lâmina, um leve brilho avermelhado cintila com a luz da Lua, esse brilho vem de um dos cristais que se encontrava na empunhadura, que a fariam ser linda, senão estivesse nas mãos de alguém que me perseguia.

  - Eu não queria fazer isso -  lágrimas escorrem de seus olhos e acabam respingando em meu rosto - mas você se tornou um monstro aos olhos deles - ele cerra sua mandíbula.

   Tento dizer algo, mas a minha voz não sai. O homem levanta a adaga acima de sua cabeça, suas lágrimas ficam mais fortes, seus dedos apertam a empunhadura com tanta força, que mesmo na fraca luz que nos ilumina vejo seus dedos ficarem brancos.

  Sinto meus olhos ficarem úmidos. Por que não consigo me mexer? Correr? Ou até gritar?

  O homem se mantém relutante, ainda segurando fortemente a adaga. Ele fecha os olhos, e então antes que eu pudesse raciocinar a lâmina atravessa meu peito, meu ar sai dos meus pulmões, a dor é cruciante, minhas roupas começam a ficar úmidas, o cheiro de sangue domina o ar. 

   Minha visão começa a escurecer, a ultima coisa que vejo é a cara de derrotado do meu assassino.


   Abro meus olhos ainda assustada com o que houve, minhas roupas estão completamente encharcadas de suor, não sei mais quantas vezes tive sonhos assim. 

   Procurei na internet sobre sentir o que você sentiu em um sonho, não havia nada concreto. Levanto da minha cama tremendo me dirigindo para o banheiro para lavar o rosto e tentar me acalmar.

  Ligo a torneira, ponho minhas mãos embaixo da água e levo gentilmente para meu rosto, esse sonho foi tão real. Fecho a torneira e me encaro no espelho, sinto uma leve pontada de dor em uma de minhas costelas da esquerda, levanto minha blusa até onde a dor se mostra incansável, percebo uma vermelhidão surgindo. Qualquer um já deveria ter se assustado, mas isso já acontece comigo a algum tempo.

   Volto para o meu quarto me sentindo exausta, deito novamente em minha cama torcendo para conseguir voltar a dormir. Em questão de segundos caio novamente no sono.


Fragmentos de um SegredoOnde histórias criam vida. Descubra agora