O que era sonho se tornou realidade

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Depois de toda aquela luta o mínimo que eu podia fazer por você era levar no hospital, heróis profissionais chegaram para limpar a sujeira e nos ajudar a sair do meio daquele caos.

Estava sentado do lado de fora da sala de cirurgia, esperando mais notícias sobre seu estado atual, afinal é bem difícil sair intacto de um ataque de um dos monstros mais procurados da cidade. Mesmo assim, eu sabia que você sairia daquela e poderíamos finalmente conversar sobre tudo que havia ocorrido, sobre esses anos que estávamos separados e a nossa relação, mas isso não importava muito, o que mais me preocupava era se você gostaria de ser meu amigo novamente, para podermos voltar aquela velha amizade e quem sabe provar que eu estava errado e que amizades eternas realmente existem.

A enfermeira saiu de uns dos quartos e anunciou que você já estava podia ser visitado. Para o meu espanto, sua recuperação estava indo muito bem, os seus olhos estavam um pouco fundos por causa do sono, mas o resto do seu corpo estava aparentemente sem nenhuma fratura. Cheguei perto da maca, mas tive medo de falar com você, me senti tão criança, queria pedir perdão. Só consegui olhar em seus olhos.

- Kachan?

- Oi.

-Que bom que você está aqui, minha mãe vai ter que atravessar a cidade para chegar, fico feliz de não ficar sozinho e ... – começou a tagarelar como sempre.

-Eu vou cuidar de você enquanto estiver na cidade, já pedi uma licença da UA...

- Você entrou na UA? Que demais!

- Sim, entrei, mas podemos falar sobre isso depois, quando você já estiver melhor. - desviei o olhar por um instante, não queria dizer nadar sobre minha entrada na UA, e sim sobre nós dois, mas sabia que ele estava muito debilitado.

- Sabe Kachan, eu não me importo por nada que a gente passou, se brigamos e desfez uma amizade tão boa, eu só quero reconstruir tudo novamente com você, não posso me ver longe de você. – seus olhos estavam cheios de lagrimas- eu sei que você pensa nisso tanto quanto eu.

Aquela frase me pegou de surpresa, do mesmo jeito que eu estava preocupada em fazer com que você me perdoasse, você estava de coração aberto para que a gente tentasse mais uma vez. Não terminei a conversa, não seria ali que resolveríamos, me despedi e sai do quarto para resolver sobre os papéis de pagamento do hospital.

Quando chegou o dia da sua alta, fui te buscar e levar para minha casa, já tinha ensaiado todo o nosso diálogo: eu ia pedir perdão de joelhos e se possível implorar para você ficar, nada de implicância e nem briga, somente uma retratação de amigos. Mas quando eu estava chegando perto da minha casa meu coração começou a bater forte, era a ansiedade tomando conta, já estava esperando o dia que poderia falar com você há muito tempo, porém meu orgulho me impedia de ligar para aquele número que estava grudado no mural do meu quarto, o seu número. Ajudei a você sair do carro, levei-o até o meu quarto para termos privacidade, minha mãe estava em casa e logo mais viria atrás de você falar sobre as novidades. Sentei-te na cadeira da escrivaninha e fiquei parado em pé.
 
- Eu não me sinto muito confortável para conversar com alguém em pé.

-Bom, mas é assim que vai ser ! - quando me toquei do jeito que falei, resolvi sentar para tentar recomeçar e repassei na minha cabeça a parte que eu ia implorar por perdão.

- Sobre o que você quer falar primeiro? Sobre o porquê eu fui embora? O porquê nós nos afastamos? Como você entrou na UA? - cada um daqueles tópicos machucava meu coração um pouco mais, sei que teríamos tempo de falar sobre tudo aquilo, mas eu achava que seu perdão era mais importante.

- Sobre nada disso... Eu queria pedir o seu perdão, sobre tudo que eu já fiz para você, como eu te abandonei por influência eu me sinto culpado todos os dias.

- Sabe Kachan, eu nunca senti nenhum tipo de raiva por você, apesar de não entender o porquê do seu completamente mudar tanto comigo, eu sempre fui acostumado com seu jeito explosivo.

- Eu quero mudar, ter meu amigo de volta, nada importa se eu não estiver com você! Eu não consigo ser um herói que eu sempre quis ser, se não estiver correndo junto a mim- lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto, não aguentava mais aquele peso de anos.

- Nada mais importa agora, só seja meu amigo.

Minhas lágrimas não paravam mais de sair, fui até seu colo e chorei, todas as minhas angústias foram saindo de mim e consegui lembrar como era confortável estar perto e receber seu carinho, até mesmo nesses momentos de fragilidade.

Passamos algum tempo conversando sobre outras besteiras até que sua mãe chegou e começou a fazer perguntas, resolvi te dar um pouco de privacidade e fui para cozinha.

- Filho, espero que tenha aprendido algo com a volta do Midoriya, nós só damos valor quando vemos algo que amamos partir, não perca ele novamente para saber que ele é importante.

- Eu sei...

Sua mãe ia passar alguns dias na cidade e resolveu ficar hospedada em minha casa para que pudéssemos ajudar na sua recuperação, eu sabia que uma hora isso ia acabar, então aproveitei cada minuto que você estava perto de mim, jogamos todos os jogos possíveis no meu PS3 antigo, a nostalgia que aquilo trazia aquecia o meu coração, queríamos esquecer que já estamos jovens com responsabilidades e curtir aquele momento. Mesmo assim, queria falar sobre um assunto delicado, o porquê você desistiu de ser herói. A resposta parecia óbvia, pela sua falta de poderes, mas eu queria saber de você.

-Izuku, eu sei que não é um assunto confortável mas ... você realmente não quer ser mais herói?

- Simples, não existe lugar para dois heróis número 1, se esse herói fosse eu, você não ficaria satisfeito com o segundo lugar - momentos de silêncio no quarto, até suas risadas soarem alto por todo cômodo- o que você quer que eu diga? Não é óbvio que eu não tenho poderes? Isso era só um sonho de criança, eu vou virar um herói de outra forma, estou estudando medicina.

- Eu sempre achei que tinha te traumatizado, por isso de você não querer mais ser um herói...

- Kachan, está tudo bem, você não me causou mal algum que eu levo comigo.

Os dias se passaram até você ter que voltar para casa, trocamos números para não perder o contato e já marcamos a próxima vez que nos veríamos novamente, meu coração quase se despedaçou quando te deixei na rodoviária, mas eu sabia que não era um adeus e sim um até logo.

- Obrigada por cuidar de mim - você falou pegando em minhas mãos e deixando lá um envelope de carta- abra quando chegar a casa.

-Certo! - Segurei as lágrimas e me despedi pela última vez.

Voltando para casa, olhei o envelope que estava escrito com uma letra um pouco ilegível “do seu fã número 1 para o herói número 1", abri e lá estavam todas nossas fotos de infância e uma pequena carta dourado com o rosto do ALL Might estampado, também havia um bilhete escrito ”para caso sinta saudades da nossa amizade". Meus olhos se encheram de lágrimas ao olhar tudo aquilo, meu ânimo para ser herói tinha voltado, minha razão de vida, que se resumia em uma pessoa só: você.

Lembre-se de mimOnde histórias criam vida. Descubra agora