Capítulo 7

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-Five.- a garota me chama do colchão em que está sentada, atrás de minhas costas. É um choque ouvir sua voz doce novamente pronunciando meu nome, fazia cinco dias que não trocávamos palavra

-Fala.- Eu não queria dar brecha para conversarmos, olhar pra ela sem imaginá-la prensada contra a parede era difícil.

-Olha pra mim.- Sua voz parecia implorar, mas não era importante o suficiente pra eu desistir de não olhar pra ela.

-Fala.- Repito, grosso. Isso parece magoá-la.

-Five?- escuto S/N se levantando e caminhando até mim, pronunciando meu nome novamente quando chega na minha frente. Ela está audaciosa hoje. Isso é extremamente perigoso. Pra ela.

-Já estou perdendo a paciência. Fala logo antes que eu desista.- Coloco as mãos nos bolsos e inclino a cabeça levemente pra trás, desviando os olhos pra parede atrás dela. Vejo de relance que seu olhar mudou de furtivo pra sedutor e determinado, S/N se aproxima perigosamente de mim, como uma cobra se aproximando bem devagar, pronta pra dar o bote. Sua mão direita vai à minha nuca, puxando os pelos daquela região, arfo ao me lembrar que aquele gesto era o mesmo que ela realizara durante o nosso beijo. Foi impossível não deixar a mente vagar para aquela noite cinco dias atrás. Estava a ponto de mandar ela parar quando sua boca foi de encontro à parte sensível do meu pescoço, ela depositou uma mordida falha no local e seu nome saiu da minha boca sem permissão. Ela se afastou quando conseguira oque queria. Um sorriso triunfante e convencido brotou de seus lábios, um reflexo perfeito do meu próprio sorriso convencido.

-Eu quero que lave minhas roupas, Five.- É isso, ela ficou doida. Perdeu completamente o amor à vida. Eu sabia que muito tempo em cativeiro acabaria danificando sua mente mas achei que os efeitos demorariam a aparecer.

-Mais alguma coisa?- Pergunto relevando a clara demonstração de total falta de um parafuso ou dois.

-Preciso de roupas novas.- Aquilo era quase ridículo, eu dera uma calça jeans e uma das blusas de lantejoulas favoritas da Dolores.

-Eu te dei roupas da Dolores.- roupas que inclusive ela não usou.

-Eu disse "Roupas". No plural. Uma blusa de lantejoulas e uma calça jeans não ajudam muito.- a garota sai da minha frente e volta para o colchão atrás de mim.- Ah, e preciso de roupa íntima também.- Tenho que me conter pra tratar do assunto com ironia e não voar na garganta dela.

-Quer um beijinho também?- S/N arregala levemente os olhos e olha para o outro lado do quarto, um sorriso idêntico ao dela de hoje mais cedo se abre em meu rosto, tomei o controle da situação. Me viro e me transporto para meu quarto, onde Dolores estava sentada na cadeira da escrivaninha.

-O quê? Nem vem com esse olhar. Roxo? Que roxo?- Me olho no espelho de corpo inteiro que fica ao lado do guarda-roupas e me deparo com uma marca roxa gigantescas no local que S/N mordera. Droga S/N.- Que é? Eu não pedi por isso. Não importa, sabe que não vou te trocar por ela. Tenho que sair agora, volto logo, meu amor.- Deposito um beijo em sua bochecha gelada e dura e rumo ao banheiro, pra me trocar e depois ir ao shopping.

Quebra de tempo

S/N vai me pagar caro por isso. Acabei de entrar nessa loja de lingerie, tive que desviar o olhar dos manequins só com roupas debaixo. Dolores me mataria se sequer desconfiasse de que eu pensei em não desviar o olhar.

-Posso ajudar, senhor?- Atendentes se reuniam a minha volta como falcões com garras afiadas, cheias de "vamos conferir as promoções" e "sua namorada vai amar esse". Arg. Isso é tortura. Dou uma boa olhada no lugar e escolho o melhor lugar pra me teletransportar depois.

-Não. Obrigado.- Saio da loja com a mesma calma que entrei, sigo direto para um bazar de roupas de segunda mão em boas condições, pego um monte de calças e blusas de vários tipos que eu não tinha certeza se combinavam, apoio tudo num único braço e me transporto para o meu quarto na mansão, deixei tudo em cima da cama e me transportei para o meio da loja de lingerie. Estar exatamente no meio de um corredor lotados de sutiãs todos apontados pra mim não era exatamente uma coisa confortável a se fazer.

Eu não sabia qual pegar, tinham milhares de tamanhos, formas e cores. A parte de baixo era mais fácil, mas ainda sim tinha uma assustadora variedade. Tentei me orientar vendo outras pessoas fazendo compras mas não entendia merda nenhuma. MAS QUE MERDA EM S/N. Naquele momento eu questionei se não trazia mais maléficos do que benefícios a S/N estar presa no meu porão.

Mas por que ela está no meu porão? Por que a mantenho presa até agora?

O pensamento me irrita e eu já não aguento mais estar ali questionando minhas próprias decisões. Pego um de cada opção. Literalmente. De todos os tamanhos, cores e formatos. Alguns extremamente reveladores ou cheios de renda me assustam, mas os pego mesmo assim. A mesma atendente que tentara me atender um pouco mais cedo percebe que tem algo muito suspeito no que estou fazendo, então ela vem em minha direção, já chamando uns seguranças do shopping. Arg, merda. Me transporto pra casa, jogando tudo na minha cama e evitando os olhares acusatórios de Dolores. Experiência traumática, que nunca mais se repita.

Desci ao porão, olhei para dentro do banker pela parte de vidro da porta, S/N cochilava, eu já a observara algumas vezes enquanto dormia, era hipnotizante. Eu não sabia onde estavam meus irmãos, fui até o porão e procurei por alguma coisa que poderia usar para S/N guardar suas coisas, achei um armário até que bem conservado, levei-o para o "quarto" da garota presa no meu porão em silêncio, um cesto para que ela colocasse a roupa suja, assim, eu poderia servir de empregada particular dela com organização. Depois levei todas as roupas lá pra baixo e coloquei em cima da cômoda (já estava fazendo mais que o suficiente, não ia guardar as roupas dela também). Me escorei no móvel e continuei a observar a menina dormir. Ela era linda.

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