Os meninos da moto

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Capítulo 4

Os meninos da moto

Cake sentiu a pressão cair instantaneamente após aquela pergunta. Em um segundo, retornou de sua projeção e tornou a perceber mundo físico que a prendia. Abrindo os olhos, se levantou rapidamente e agarrou um giz de cera que estava próximo de sua mão, desenhando um círculo no chão com as inscrições que vira. Tinha ido longe demais dessa vez, havia sido percebida. Isso nunca acontecera antes e deixava Cake com uma sensação esquisita na garganta e um frio pesado sobre o topo da cabeça. Sua pressão havia abaixado demais, passara tanto tempo que não havia comido ainda desde o começo do dia.

Ela terminou o desenho mas não o examinou. Se levantou e saiu pela porta dos fundos, a da cozinha, indo para o quintal de casa. Criava galinhas num cercadinho que havia construído para protegê-las ali. Comia da fruta que caia da grande árvore sobre sua casa para matar a fome e andava com os pés descalços no chão, indo pra fora, tomar um ar.

Nunca chegava ao fim da cerimônia. Não sabia o que acontecia com a Grande Loba, nem quem era Aya. Não entendia muita coisa mas sabia que estava no caminho certo. O zumbido ficava mais forte a cada dia que se aproximava do caminho e estava determinada a seguir os símbolos que a projeção a revelava. Mas isso daria muito mais trabalho e ela precisava de mais cautela.

Já estava cansada e não iria preparar almoço agora. Preferiu apenas se deitar por um tempo e torcer para não lhe ocorrer nenhum sonho estranho.

Cake só acordaria ao fim da tarde, quando o céu ficava rosado e a noite já cobria o teto como um véu de viúva. Nada havia sonhado, apenas fechara os olhos e a escuridão que se fez dentro de suas pálpebras permeou sua visão pelas horas a seguir. Também fora como um estalo, se levantou com a sensação de que mal dormira, como se apenas tivesse fechado os olhos e os tornado a abrir de novo.

Em seu celular diversas notificações e mensagens, a maioria de Jade.

"

14:08 Ei

14:08 Mais tarde apareço aí

14:09 vou com Egon e Pan

15:34 tive que passar na casa da minha mãe agora, ela está um saco

15:34 como sempre

16:15 tentei te ligar mas deu fora de área

16:16 daqui a pouco vou me encontrar com Egon

17:46 cake vc dormiu?

18:32 ei, a gente já comeu então não se preocupa, tá?

18:45 eeeei estamos chegando

18:50daqui a 5 minutos

19:32 mentira, a gente vai se atrasar

19:32 mas estamos a caminho

19:32 bj

19:33 vê se acorda logo e vê essas mensagens

19:33 tchau"

e tinham também mensagens dele, o contato que Cake salvava como XXXX na agenda.

"19:21 ei

19:21 pq ainda estás me ignorando?

19:21 tas com raiva ainda?

19:32 seria legal se a gente saísse algum dia

19:32 tem um parque legal subindo a serra

19:32 to com saudades"

Cake desligou a tela do celular e soltou um longo suspiro. Já eram 19:35 e a escuridão dominava lá fora. O sol sempre caia um pouco mais tarde por aqui, ao mesmo tempo que nascia bem cedinho do dia, e ainda era o fim de arte.

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