Children Of Light - Cap 5
Cake andava pelas runas. Não sabia onde estava mas reconhecia as pedras cor de osso e as formações circulares pelo chão, que brilhavam na escura noite. Sua visão meio turva a impedia de andar direito e Cake rodava em círculos, zonza, sem ter bem um referencial além do brilho que o chão emitia. A lua estava meio acessa no céu, como uma cumbuca, virada para cima, enquanto as estrelas brilhavam tímidas de longe.
O fogo de uma tocha brilhava mais a frente, no meio das formações paredosas e altas que se erguiam para dentro da montanha. Mais um passo para trás e Cake sentiu a terra acabando sob seus pés e caindo morro abaixo. Era alto onde estava e mal conseguia enxergar por que as nuvens se condensavam ali, como uma névoa espessa que refletia apenas o luar.
Seguindo o pontinho luminoso que tremulava levemente, Cake encontrou a tocha em um buraco entre as pedras, colocada ali, fixa, por alguém.
Com certeza ajudaria a enxergar melhor e clarear sua vista, então a puxou com força insuficiente para retirá-la de seu espaço. O galho de madeira com pano na ponta nem se mexeu. Percebendo o quão incrustada estava na pedra, Cake se agachou e tateou ao redor. No meio da densidade cegante, suas mãos encontraram uma pedra da mais afiada.
Num ou dois golpes, Cake derrubou a tocha no chão, a qual desencadeou a avalanche de todas as rochas que estavam ao seu redor e formavam aquela parede. Os pedregulhos caíram por cima da tocha, formando uma pilha com o fogo queimando dentro.
Rapidamente para não se queimar, Cake ficou de cócoras de novo, tirando as rochas com a mão, desfazendo que mais parecia um forno com a chama abafada dentro. A tocha nem dava sinais de que apagaria, queimando iluminava luz laranja ao redor.
Com a maior claridade e próxima do chão, Cake pudera ler as inscrições na pedra. Eram runas antigas, não se podia negar. Símbolos lunares, círculos, deltas e números que se assimilaram a números romanos porém escritos de forma altamente rústica, rasgados na superfície.
Os escritos continuavam em frente pelo solo e no que pareciam as paredes de um túnel.
"Uma passagem secreta? Um caminho revelado?" se questionava Cake, na boca da entrada que tinha um ar escuro, frio e uma passagem forte de vento que corria para dentro do buraco, uivando.
Cake agarrou a tocha, levantou-a acima da cabeça e olhou para dentro do canal. Ainda sem visibilidade alguma, adentrou aos poucos, pé após pé. Sempre ao se entrar nessas formações, deve se ter cautela. O chão esconde pisos falsos que ativam armadilhas, as paredes botões que ligam engenhocas de caça e o espaço asfixiante pode ser mortal em questão de segundos.
E com tudo isso em mente, Cake avançou vagarosamente, com medo de tocar no que quer que fosse, medo até de respirar e soltar o ar num sopro mais forte.
E então ouvi o som de risadas ao fim do corredor. Gargalhadas, risos e e gaitos infantis. Cake deu mais um passo, com cuidado mas em falso, e levou um belo escorregão. Fora aparada pelo vento e não bateu com a bunda no chão mas foi levada uns bons metros abaixo em um desnível que caia ao longo do caminho. Cake se levantou, bateu a poeira da roupa e olhou pra frente, onde a luz encandecia. Decidiu então correr e assim seguiu em frente, correndo no escuro vazio por uma reta muito longa. Vultos luminosos passaram ao seu lado, correndo também, assobiando ao vento e desaparecendo. As risadas só aumentavam e aumentavam a medida em que outra tocha apareceu na parede. Antes mesmo que pudesse chegar perto, Cake avistou essa criança encapuzada, de vestes de pano marrom e cabelos lisos, cortados de forma que cobria a testa.
A criança pega a tocha, olha pra Cake com olhos luminosos e some no ar, deixando apenas uma explosão luminosa no lugar onde estava. Cake atravessa sua essência e continua a correr sem parar. Então a mesma criança aparece no corredor, esperando mais a frente; Ela segura a mão de Cake e corre numa velocidade incrível. Cake não está mais correndo quando, de fato, seus pés nem tocam mais o chão de pedra branca. A criança de luz vai abrindo caminho e iluminando a passagem à medida em que elas finalmente irrompem pelo túnel em uma saída.
O grande vão é muito mais ventilado que aquele espaço minúsculo e Cake pode sentir a brisa vindo de todas as direções, das montanhas e morros ao seu redor. Está tudo escuro ainda porém o céu aberto faz com que se possa ver os arredores de alguma forma, num jogo de sombra e luz. A mão de Cake está colada na tocha, que permanece acesa e com um brilho mais forte ainda.
A criança de luz pega a mão de Cake e a puxa para pular o precipício. Indo na frente, ela dá um pulo e permanece no ar, pulando mais e mais no vazio, flutuando até uma base de terra, que surge como um degrau numa escada de morros terrosos flutuando a frente. Os pés de Cake tocam na grama verde e se impulsionam junto com a criança de luz a medida em que elas flutuam mais alto até o próximo morro. E assim seguem até que chegam no último morro, o mais alto. Olhando para trás é possível de se ver daonde viam, a porta do túnel e a parede enorme de pedra que se impõe acima deles, de onde saíram.
No último morro, lá no alto, um portão gigante dourado sobe e desaparece entre as nuvens. Sons de sinos, trompetas, pêndulos e balanços enchem o ar. A criança de luz não diz nada. Apenas vai em direção ao portão, onde um corpo pequeno e agachado em si brilha numa cor marrom escura. É uma outra criança, vestindo uma capa igualmente esfarrapada nas costas e com o cabelinho trançado cheio de miçangas. A criança respira levemente e seu brilho é fraco. Vapor sai de sua cabeça pois seu corpo ainda emana algum calor. Numa ação instintiva, Cake entrega a tocha para a criança que, para sua surpresa, se solta de sua mão após tanto tempo presa como que magneticamente a ela. A tocha é agora segurada próxima ao peito da criança, que parece aliviada.
A criança dourada emite algum tipo de som agudo impossível de decifrar para Cake enquanto aponta para uma constelação no céu. A constelação de Ursa. "Qual seu nome? Meu nome é Cake." A criança nada responde, apenas olha para Cake e só inclina a cabeça para um lado, como um pássarinho. "Bom, acho melhor eu lhe arranjar um nome. Como vou lhe encontrar novamente sem nem saber como se chama?" A criança emitiu o mesmo som e apontou novamente com a unha afiada para a constelação no céu.
"Você tem cor de madeira. E um brilho muito característico. Ivory. Ivy. Será meu apelido para você. Okay, Ivy? Você pode me chamar de Ca."
Mais um piado.
Uma implosão de energia faz com que Cake busque se proteger por um segundo. O rojão de luz esplandece e, ao esmaecer, revela a criança de cabelos trançados agora de pé, com os olhos abertos emitindo luz. Redemoinhos e ventanias ao seu redor giram sem parar e ela segura a tocha na mão direita. Ela experimenta correr ao redor, iluminando o canto que vai com um rastro de luz que emana. Um trovão canta no céu, seguido da claridade. No horizonte, o vermelho sol se aproxima, dando os sinais de um dia que está para nascer e por fim a uma madrugada. Ivy pega a mão da criança mais baixa, que olha para Cake e dá a mão a essa. Juntas, andam em direção aos portões dourados e imensos. A primeira a passar é Ivory, sendo o braço que segura a mão da pequena o última a atravessar. A segunda criança segue em frente, transpassando um fino campo energético e trazendo Cake consigo. Um raio rasga a noite e começa a chover imeditamente. O som surdo da chuva se mescla às música que o portão emite e a luz dourada brilha mais perto do rosto de Cake a medida em que seu braço esquerdo perpassa o véu energético e começa a formigar, quente. Cake está quase toda atravessada na barreira quando uma gota de chuva cai em seu braço e metade do seu corpo é pega fora do campo luminoso, que a expulsa para longe dos portões e de volta à grama molhada, enquanto as grades se fecham e tudo fica escuro.
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Deusa
FantasiaCake é uma menina negra não binária que mora na casa da árvore no topo da montanha. Ela cresceu naqueles arredores e sempre morou ali, brincando com as crianças que estudavam por perto e subiam o morro para brincar. E assim ela cresceu, pela florest...