Capítulo 2 O acaso e o café nas calças .

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Era mais uma manhã de outono infernal  eu estava em meu segundo emprego meio período  em uma Starbucks. Clientes  irritantes  e expressos, um jeito incrível  de se aproveitar o que a Europa tem de melhor. Ao menos divido meu turno com Emilly Dust uma jovem estudante de direito  que divide uma casa vitoriana assombrada no norte de Londres já  tive a oportunidade de ser assombrado pelo fantasma da casa o que foi de fato uma experiência incrivelmente assustadora, perguntei a Emilly o motivo  de ainda permanecerem na velha casa, ela apenas respondeu:  dinheiro  Hélio, somos quatro  garotas falidas, o fantasmas  de Lady Whitewood que se acostume  com nossa presença.
Emilly é realmente uma pessoa peculiar, a única  amiga que eu havia feito em terras britânicas que não havia  me perguntado o quão  exótico era o lugar de onde eu vinha. Talvez Emilly Dust tivesse suas perguntas, mas o bom senso era maior que a curiosidade  em saber do lugar tropical  de onde seu amigo havia vindo. Quando o relógio marcou meio dia, Tyson Thomas e Maya Sash chegaram para a troca de turnos, peguei meu casaco e acompanhei  Emilly até  a estação. O frio do inverno já  se debruçava sobre nós, o céu  estava encoberto por nuvens fofas. 
Estávamos  caminhando a três  quadras da cafeteria  quando me dei conta de que havia deixado  meu celular sob a mesa da sala dos funcionários, me despedi  de Emily e voltei correndo para a loja Maya me olhou com espanto quando entrei de súbito pelas portas de vidro.
- Esqueceu novamente - disse Maya calmamente  enquanto  entregava o café  nas mãos  de uma senhora de cabelos grisalhos  e óculos.
Apenas fiz que “sim” com a cabeça  e atravessei o salão  indo em direção  a sala do funcionários  a porta atrás  de mim se abriu e um novo cliente havia entrado. Não  vi quem era,  apenas segui para a sala dos funcionários e lá  estava  o celular  com  sua tela trincada  sob a mesa. 
Com o celular de volta acabei por me distrair  quando  a tela se acendeu  em uma chamada e não  vi o que ou quem estava à minha frente acabei  esbarrando   no cliente  que havia entrado logo após a minha ida a sala dos funcionários, o copo  virou derramando um expresso  fervente  em suas calças  muito provavelmente  escaldado o seu pinto. 
- Mil perdões  senhor.... disse ao ouvir o grito do homem.
- Ted Hugh? Falei,  o rosto do homem estava vermelho  como um tomate, iria ser despedido  tanto do café  quando da firma de faxina.
- Ilio, o que faz aqui? E porque  não  presta atenção  por onde anda.
Minha única  reação  naquele momento foi começar  a abanar com as mãos a calça  de Ted.
- Mil perdões, senhor Ted falei quando dei um passo à frente e escorregando  no café  que havia se espalhado pelo chão. 
O impulso me fez empurrar o Ted que caiu sentado no chão.
Ai meu Deus pensei, muito provavelmente estou desempregado  Ted já estava de pé seu rosto ainda estava vermelho.
- Está  tudo bem com o senhor ? Falou Maya, seus olhos escuros emanavam uma preocupação, se o insuportável do nosso gerente Jesse Eisenberg soubesse ele iria me demitir em questão  de segundos.
- Está  tudo bem - disse ele indo em direção  a saída. 
Eu o acompanhei. 
-Olha senhor Hugh....
Ele me interrompeu, eu já lhe disse Ilio, senhor Hugh é o maluco do meu pai que está  na Escócia, me chame de Ted.
- É Hélio, H-É-L-I-O, Ted e mil perdões por queimar seus países  baixos  com um expresso.
- Tudo bem, eu entendo  que foi um acidente e não  irei me queixar  com o gerente se é isso que está  pensando. E em quantos  lugares você  trabalha?
- Tecnicamente  dois, mas dou aulas de português pelo Skype também 
- Isso é surpreendente - disse ele caminhando para o carro.
- Não  é não  Ted, eu não  tenho vida praticamente. E desenvolvi uma aversão  ao cheiro  de café  e olha que eu sou professor, pelo menos  no Brasil eu era.
Ele me olhou sem entender erguendo uma sobrancelha e voltou  sua atenção para a calça  ainda manchada de café 
- Acho que você  precisa  trocar  de calça, falei.
- Eu também  acho, então até  mais ele disse dando a partida e indo embora.
Permaneci um instante parado olhando o carro vermelho  sumindo em meio ao trânsito  das duas da tarde.
O celular em minhas mãos  começava  a vibrar.
Era a minha adorável mãe. 
- Por que não  me atendeu  da primeira vez?
- Porque eu estava ocupado tentando não  perder o emprego. 
- Eu nem vou perguntar o motivo. Eu preciso  que você me mande algo já que não  faz questão  de me ligar ou vir me visitar.
- Mãe, eu  não  tenho dinheiro para te enviar ou para pagar uma passagem  e ir aí, pelo menos não  agora.
- Ok então, vou desligar  tchau Hélio.
A mulher me liga toda semana  pedindo dinheiro, não  me entendam mal por  favor, eu mando  sempre  que posso, mas estou juntando uma grana para me mudar para Portugal e dar início a  meu próprio negócio a vida na Inglaterra não  é Fácil, talvez  seja para alguém como Ted Hugh por exemplo. 
Caminhei devagar sentindo o vento frio que se misturava a pequenas gotas de água  da chuva que caem das nuvens pesadas sob a minha cabeça  a estação  não  estava tão  cheia quando o trem parou devagar na estação  as portas se abriram silenciosas ao meu lado sentaram-se um casal jovem que trocavam  carícias  isso me deixava  meio deprimido, não  que a alegria dos outros me irritasse, mas me deixava desconfortável  pois eu não  tinha aquilo, alegria  eu vivia em estado constante de limbo e auto piedade que me fazia querer odiar relacionamentos e os perfis de do Instagram  dos famosos. Até  certo ponto eu desejava aquilo e ao mesmo tempo sabia que aquilo era até  certo ponto artificial  e montado. 
Quando  enfim cheguei  a meu apartamento sentei-me no sofá  retirando  o casaco grosso e o jogando sob uma cadeira liguei  a TV  e esperei  as horas se passarem o cansaço fazia meu corpo ficar dolorido minhas juntas estalavam com a ajuda do frio 
-O que eu estou fazendo da minha vida disse Eu. Enquanto  me virava no sofá  afundando meu rosto no estofado  velho e gasto.
Deixei uma vida para trás, tentei me refazer aqui distante  de tudo que havia fracassado no Brasil  e via o fracasso novamente  ao meu redor.  Naquele dia adormeci no sofá, minha coluna na manhã  seguinte estava em completa desgraça.


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