Nocaute - Vinnie Hacker

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Acordei com preguiça, sem vontade alguma de levantar da cama. Talvez tudo isso que está acontecendo esteja começando a me afetar

Desliguei o despertador e coloquei uma almofada no rosto soltando um grito seguido de um suspiro

- É, as coisas não são tão fáceis quanto parecem. Vamos Olivia, não se deixe vencer pela preguiça

Levantei da cama contando até três. Não iria correr hoje, apenas caminhar pelo parque. Coloquei apenas uma calça e continuei com o casaco

Peguei meu celular colocando uma música e fui, mesmo sem vontade.

Na metade do caminho encontrei um banco entre umas árvores, fui até ele me sentando e abaixei a cabeça pausando a música por alguns minutos. Uma lágrima pingou no chão então pisquei para afastar outras

- Tá tudo bem querida? - olhei pra cima ao sentir uma mão quente nas minhas costas e vi o casal de velinhos que sempre encontrava por aqui

- Ah, ta sim

- Então porque uma jovem tão bonita como você está com uma carinha tão triste? - os dois se sentaram ao meu lado - Olha que dia lindo está hoje, deveria aproveitar

- É - olhando em volta - Tá um dia bonito mesmo... - acho que vou aproveitar a oportunidade e tirar uma duvida - Posso perguntar uma coisa?

- É claro

- A quanto tempo vocês dois estão juntos?

- Creio que a 7 décadas - meu Deus é muito tempo, tempo demais

- Uau, quanto tempo

- Nos conhecemos na escola, eu tinha 17 e ele 18. Ele era do time de futebol e eu líder de torcida - isso é realmente bem clichê

- Que legal. E como a senhora soube que ele era a pessoa certa?

- Ah meu bem, a gente nunca sabe, a gente só sente aqui - Colocou um dedo enrugado bem no meio do meu peito - O amor foge de todas as explicações lógicas, se esperar entende-lo para se apaixonar, nunca vai amar de verdade

- Como vocês.... sobreviveram tanto tempo junto?

- Uma vez minha mãe, que Deus a tenha, me disse que a pessoa certa nunca vai enjoar ou desistir de você, e quando você cuida bem de algo, dura pra sempre

- É, acho que a senhora tem razão...

- O amor é simples, as pessoas que são complicadas. Mas se não capturar a pequena marca de loucura de alguém... não pode gostar desse alguém

- A senhora não acha que a minha geração já não está louca demais?

- Mas é por isso que a senhorita tem que valorizar as poucas pessoas que aceitam se molhar na chuva contigo, que trazem luz pros dias tão sombrios

Vi seu marido a chamar tocando em seu braço e em seguida começarem a conversar em libras

- Desculpa a indelicadeza mas, ele sempre foi deficiente auditivo?

- Não. Depois que ele saiu do colégio ele foi chamada pra participar da guerra, e acabou estourando os tímpanos com o barulho das bombas

- Nossa. E quando ele estava lutando vocês já namoravam?

- Sim, esperei para que ele voltasse todos os dias, trocávamos cartas mesmo que algumas não chegassem. Ah, que saudade desses tempos - suspirou olhando pro horizonte como se estivesse voltando no tempo - Hoje em dia só vejo pessoas vidradas em pequenos aparelhos como se não percebessem que a vida acontece fora deles