7. Particularidade

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O fim de semana chegou e, com ele, a mistura de ansiedade e nervosismo para a primeira aula particular com o professor de poções.

Admito que fiquei levemente arrependida pelo pedido, visto que o fiz sem pensar muito. Quem age por impulso tende a cometer erros, e eu estava com medo daquele ser um.

Durante o dia, eu estudei um pouco com Hermione na sala comunal da Grifinória enquanto esperava a hora de ir às masmorras. Aproveitei o momento para me preparar mentalmente para uma série de perguntas que viriam quando ela descobrisse meu destino.

Olhando para o relógio na parede, vi que já estava na hora de ir. Silenciosamente, fechei os livros e levantei da cadeira, mas, aparentemente, não fui cuidadosa o suficiente quando percebi que havia chamado a atenção de Hermione. Muito cedo.

- Aonde vai? - ela perguntou, me fazendo parar - Começamos há pouco tempo.

- Eu... - olhei para qualquer outro ponto, evitando-a - preciso sair agora. Resolver algumas coisas.

- Aposto que vai ver o Malfoy. - ela riu - Vocês estão bem próximos agora.

- Não é isso, na verdade. - suspirei, me preparando - Eu tenho aula.

- Aula? - ela franziu as sobrancelhas - Mas hoje é sábado.

- Uma espécie de aula particular, sabe? - comecei a brincar com os dedos, nervosa.

- Aula particular? - ela fechou o livro - Por que não me avisou? Com quem?

- Professor Snape...

- Professor Snape? - seus olhos arregalaram um pouco - Mas ele não é do tipo que dá aulas particulares.

- Eu meio que pedi... - criei coragem o suficiente para olhá-la.

- Você pediu? - ela juntou as sobrancelhas mais uma vez, pensando - Pensando bem... você, de repente, ficou interessada por poções.

- Eu preciso ir agora, é sério. - saí antes que as perguntas continuassem, deixando para trás uma Hermione confusa.

Eu sabia que aquele não era o fim do assunto, mas, naquele momento, havia algo mais importante precisando da minha atenção. Durante o caminho, me enchi de dúvidas. O que ele planejou? Como está seu humor? Será que ele já se arrependeu?...

Chegando às masmorras, bati na grande porta de madeira com os nós dos dedos, e ela abriu quase instantaneamente para mostrar a figura alta e sombria bem à minha frente. Seu feição irritada foi suavizando quando ele me reconheceu.

- Srta. S/s. - ele cumprimentou.

- Professor Snape. - respondi no mesmo tom.

Ele saiu da sala, fechou a porta e começou a caminhar, me deixando para trás. Foi difícil acompanhar seus passos longos, mas, ainda confusa, o segui.

- Aonde vamos? - perguntei, tentando olhá-lo.

- Meu escritório. - ele respondeu em um tom seco, sem desviar o olhar.

- E o que há no seu escritório? - à medida que andávamos, ainda que fizesse poucos segundos, minha respiração ficava mais difícil.

- Sem perguntas, S/s.

Não demorou para chegarmos, porque era perto da sala de aula. Um lugar aparentemente destinado à maioria dos seus momentos, pois ficava um pouco distante e reservado, longe do barulho. Algo que ele parecia gostar, sem dúvidas.

Quando entramos, ele foi diretamente até sua mesa e eu fiquei reconhecendo o local. Era assustador, mas ainda assim fascinante. Haviam várias estantes com recipientes de vidro contendo coisas estranhas, mas uma estante em particular chamou minha atenção.

De longe, pude notar vários livros com capas escuras e, por ser uma das coisas que eu mais gostava, não pude evitar minha curiosidade e fui até o local no canto da parede. Fiquei surpresa quando, diferente do que eu esperava, encontrei alguns livros trouxas. Meus olhos ficaram fixos nos livros de poesia que estavam perfeitamente enfileirados de acordo com sua categoria.

- Gosta de poesia? - ele perguntou, me fazendo notá-lo ao meu lado.

- Não te imaginei como um homem de Shakespeare, professor. - sorri, ainda olhando para os livros. - Eu o acho fascinante.

- De fato, um gênio. - ele levantou sua mão para tocar o livro.

Não pude evitar de acompanhar seus dedos com os olhos. Ele traçava os detalhes do livros cuidadosamente, me fazendo perceber, pelo brilho em seus olhos, a devoção que havia pela literatura e, essencialmente, pelas palavras. O nosso primeiro ponto em comum.

De repente, ele se afastou e voltou à mesa, e eu entendi o seu pedido silencioso para acompanhá-lo. Chegando lá, fiquei ao seu lado, observando os ingredientes à nossa frente.

- Você reconhece esta poção? - ele perguntou - Pode adivinhar pelo que está aqui?

- Sim. Eu a fiz no ano passado.

- Com muita precisão, devo afirmar. - ele respondeu, me fazendo sorrir com orgulho. - Monste-me se ainda é capaz de fazê-la.

Olhei para os materiais à minha frente, procurando algo específico.

- Sem livro, S/s. - ele disse, se afastando e ficando do outro lado da mesa - Use apenas sua mente. O preparo de poções vai além de ler e seguir instruções.

- Certo. - respondi, insegura.

Olhei novamente para o que estava na mesa, repassando os passos da poção na minha mente e escolhendo cuidadosamente o que pegar. Minha mão estava entre dois ingredientes, e, ao olhar para cima, vi que ele estava atento aos meus movimentos, como se esperasse e julgasse cada escolha.

Tentei não me afetar com aquilo, demonstrando confiança. Quando encostei no trevo e o coloquei no caldeirão, olhei para ver que nos lábios dele havia um pequeno - e quase imperceptível - sorriso. Eu estava indo bem, aparentemente, e isso me encorajou.

Não demorou muito para que eu estivesse mexendo uma última vez e chegando ao ponto ideal. Ao se próximar do caldeirão, ele se abaixou e cheirou a poção, em seguida avaliando-a com os olhos.

- Bom trabalho, S/s. - ele disse, ainda olhando para a poção.

- Obrigada, senhor. - sorri, satisfeita.

- Suponho que queira continuar, apesar dos bons resultados. - ele se virou e ficou de frente para mim - Mesmo horário, amanhã?

- Te vejo amanhã, professor. - respondi, quase não ficando intimidada pelos seus olhos que me encaravam impiedosamente.

Ele assentiu, me levando até a saída e, ao sair, não pude evitar de ficar satisfeita com a particularidade, não só daquela aula, mas também daquele momento.

𝑭𝒊𝒙 𝒀𝒐𝒖 | Severus SnapeOnde histórias criam vida. Descubra agora