16. Sentimentos

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Nota: parece que ninguém acreditou na minha capacidade de atualizar rápido, não é mesmo?

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Dizer que eu estava enfurecida era um eufemismo. Não por causa das suas palavras - também por isso, talvez -, mas quando percebi o porquê de tudo aquilo.

- Então este era seu objetivo, não é? - finalmente falei, me virando para olhá-lo.

O contato repentino entre nossos olhos foi intenso, quase paralisante. Mas não permiti que minha postura vacilasse, apesar de cada detalhe dele parecer ter duplicado seu efeito sobre mim agora que tudo estava esclarecido.

- Como? - franziu a testa, confuso.

- Provar seu estúpido ponto.

- Eu te falei que o sétimo ano faria a poção em breve - continuou quase inexpressivo. - Mas acho que tenho o direito de saber se seus sentimentos por mim são profissionais.

Manter o controle estava se tornando uma tarefa quase impossível, principalmente por ver que ele não parecia nada afetado com suas ações, então o tom da minha voz se tornou um pouco mais elevado.

- Ah, profissionais, é claro! Mas ser invasivo é completamente profissional, não é?

- Espero que você entenda que eu fiz isso porque nossa relação deve ser apenas de professor e aluno, como é com qualquer outro.

- Não, você não me trata como qualquer outro aluno - neste momento, minha voz oscilou e soou mais alta do que o esperado. Não me importei -, porque você teria deixado sem nota qualquer um que explodisse um maldito caldeirão em sua sala!

- Espero que você se controle, ou terei que te dar mais detenções.

- Ótimo! - comecei a me afastar dele, sem um rumo específico, minha raiva cada vez mais notável em minhas expressões. - Aposto que na próxima vai me fazer escrever poemas de amor e lê-los em voz alta para você. Se seu objetivo era me humilhar por causa de coisas que eu não tenho culpa de sentir, então eu espero que esteja satisfeito.

Só parei de andar quando senti algo rígido bater em minhas costas, percebendo que era uma prateleira contendo alguns materiais para preparo de poções nas aulas. Me senti encurralada, na defensiva, mas cruzei os braços.

- Você não está me entendendo - começou a se aproximar, lentamente.

- Estou entendendo, sim - passei a evitar olhá-lo. - Prometi que seria sua amiga, se era isso que te deixava confortável, mas aqui está você procurando motivos para me afastar.

- Não podemos manter esse tipo de amizade, S/n - sua voz estava mais calma e ele continuava a se aproximar.

- Por que? - apesar de baixa, ainda havia fúria em minha voz. - Você é incapaz de manter alguém por perto?

Naquele ponto, ele já estava de frente para mim, não havia mais para onde correr. Eu estava tão colada à prateleira que tinha certeza que encontraria marcas depois. Mas não importava, nada importava. Eu só conseguia pensar no quanto tudo aquilo era injusto. Estávamos indo tão bem, mas eu precisava estragar tudo com sentimentos estúpidos.

Eu queria respostas, mas ele permanecia em silêncio. Quando eu decidi insistir uma última vez, olhei para notar seus olhos já em mim. Tão intenso. Ele envolveu meu pulso com sua mão e eu fechei os olhos na mesma hora, suspirando. O frio da sala pareceu sumir quando passei a sentir o calor da sua respiração e do seu corpo próximo ao meu.

- Apenas deixe-me lidar com isso e eu vou superar, e será extremamente fácil por saber que você nunca vai sentir nada por m...

Inesperadamente, seus lábios estavam colados aos meus. Frios e rígidos, quase desconfortáveis com o toque, mas ainda tão suaves. Ele se afastou após toda a eternidade que aconteceu naqueles únicos três segundos.

Ele colou sua testa na minha e sua mão se afastou do meu pulso até encontrar minha cintura, tocando-a tão levemente que era como se tivesse medo de me quebrar. Sua respiração era um pouco pesada, como se ele estivesse se contendo.

- Não podemos manter esse tipo de amizade... - sua voz estava rouca, seus olhos ainda fechados - porque eu ficarei tentado a fazer esse tipo de coisa.

- Então apenas faça - sussurrei.

Puxei seu rosto novamente, aproveitando sua fragilidade. Eu não queria exigir muito dele, mas era difícil quando tinha seus lábios tão acessíveis. Não esperei para colá-los novamente aos meus. Parecia tão certo e encaixava tão bem.

Minhas duas mãos estavam em seu rosto, impossibilitando-o de fugir. Não dessa vez. Seus lábios tornaram-se menos rígidos quando ele finalmente pareceu se entregar, e passaram a se movimentar num ritmo lento junto aos meus.

Era como o nosso primeiro beijo. O primeiro beijo certo, sem todo o caos. Calmo de modo que não o assustasse, como o lugar que sempre seria seguro para ele. Era a minha incapacidade de negar todos aqueles sentimentos, mas também de deixá-lo escolher até onde estava apto a suportá-los.

Eu seria capaz de conter meus desejos mais intensos apenas para deixá-lo se aproximar lentamente, reconhecendo áreas do meu corpo com o mais suave dos toques.

Movi minhas mãos para seus cabelos quando seus lábios encontraram meu pescoço, traçando-o lentamente com beijos molhados e fazendo-me quase suplicá-lo por mais. Mas, não o fiz. Apenas o deixei no controle de tudo, do meu corpo, dos meus sentidos.

Fiz um último movimento para beijá-lo novamente quando notei o primeiro sinal de que seu corpo iria recuar. Ainda que contra todos os meus instintos, o beijei calmamente, reunindo toda a vontade que eu não sabia que guardava.

Lentamente, como se não quisesse partir, ele afastou seus lábios, assim como seu corpo. O frio retornou no mesmo instante e foi inevitável sentir um vazio. Apesar de estar consideravelmente perto, eu não o tinha mais em meus braços.

- Eu... - ele começou, olhando em meus olhos.

- Você está proibido de falar qualquer coisa sobre profissionalismo, até porque foi você quem me beijou - ergui uma sobrancelha, mantendo um certo tom de sarcasmo. - Ou você vai ter coragem de discordar?

- Não, não terei. Eu te beijei.

Seus lábios se contraíram no que pareceu uma projeção de sorriso, ainda que só quem passasse muito tempo com ele pudesse perceber isso. A particularidade dos seus traços.

Me permiti rir, baixo e de modo discreto, feliz com o clima leve que estava na sala. Parecia piada ter tentado fugir dele minutos antes.

Estar com ele era nunca saber quando seria a última vez, então me permiti aproveitar cada detalhe daquela pequena pausa, até porque eu sabia que em algum momento ele abriria sua boca para agir como o grande teimoso de sempre.

- Há coisas que você não sabe - disse, me trazendo à realidade.

Mais cedo do que eu esperava...

𝑭𝒊𝒙 𝒀𝒐𝒖 | Severus SnapeOnde histórias criam vida. Descubra agora