02. Through the Dark

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       Em que momento havia perdido Louis? Imaginou que teria ouvido caso o pequeno tivesse caído atrás de si. Harry podia jurar esse tempo todo ter escutado passos juntos de si e a respiração ofegante do garoto há poucos metros da sua. Se fechasse os olhos, ainda podia ouvir a respiração rápida.
"Louis?" chamou num sussurro sem entender o motivo. Manteve os olhos cerrados, parecia ser mais fácil ouví-lo assim. "Louis, você está bem?"
Não obteve resposta alguma. Um farfalhar de sapatos pôde ser escutado ao longe, Harry girou o corpo na direção do som e esperou. Sabia que ele estava próximo, os passos indicavam a aproximação. Ainda estava de olhos fechados, mas gostava da sensação, então manteve-se no escuro. Não precisava pensar quando estava no escuro. Podia apenas existir.
A cada respiração de Harry, ouvia-se a do outro. Passos lentos, passos arrastados. Inspirou o mais fundo que conseguiu e prendeu a respiração. Lembrou-se de uma das brincadeiras que fazia com sua irmã quando estavam na piscina, ainda crianças. Ganhava quem aguentasse mais tempo de baixo d'água.
Passos podiam ser ouvidos cada vez mais claramente. Chegando perto, cada vez mais perto. Tão perto que Harry já podia sentir o ar quente expelindo do segundo corpo tão rente a si. Talvez pudesse contar a Louis sobre sua brincadeira, Harry sabia ser persuasivo. Louis aceitaria participar.
       O canto da boca do de olhos verdes subiu sutilmente, refletindo a adoração que sentia por experienciar um jogo sem regras.
Regras o prenderam, regras estragaram tudo que Harry lutara para manter.
Por anos aguentara as regras impostas. Talvez estivesse cansado, talvez não visse mais sentido nas regras daquele jogo. Ou talvez o jogo em si não fizesse mais sentido.
A essa altura sabia que se abrisse os olhos daria de cara com a tonalidade de azul que mais gostava. Mesmo de olhos fechados conseguia visualizar as íris brilhantes. 'Deus, como eram lindas!'
Não sabia quanto tempo se passara desde que travara sua respiração. Harry sentia que sua garganta estava sendo esmagada por mãos invisíveis que ele nem ao menos conseguia sentir o toque em sua pele. Havia alguém respirando em sua nuca, esperava ser Louis.
Importaria-se caso não fosse Louis? Constatou que, naquele momento, poucas coisas lhe importavam. Sentiu um toque leve em seus lábios, mas não conseguiu reagir. Estava tão exausto.
Aqueles lábios não eram os de Louis. Harry não saberia identificar com clareza se ao menos eram lábios que pressionavam sua boca. Gelados como o concreto que o cercava, gelados a ponto de causar dor.
Com o rosto dormente, o coração começou a martelar em seu peito. O corpo do garoto parecia saber algo que sua mente ainda não descobrira. Cada batimento soava como um aviso e cada pulso descompassado, um grito por socorro.
O toque maciço tornou-se mais intenso. Harry queria dar alívio aos pulmões, mas não era capaz. Sentia-se preso. Apertou seus olhos lacrimejando com a ironia de estar, mais uma vez, preso num jogo no qual ele mesmo havia se colocado.
Ouvia seu nome sendo chamado ao longe, imaginou ser sua mãe chamando ele e Gemma para dentro de casa antes que escurecesse. A escuridão que o cercava era densa, bem como as águas de sua memória distorcida. Sua garganta ardeu, pedindo passagem para uma respiração que não veio.
Harry.
Harry.
Não podia ir para casa agora, estava quase ganhando.
Harry.
A força em sua traquéia pareceu aumentar ao que o nome soava mais alto. 'Que voz melodiosa', pensou sem reação imediata. Estava tão em paz naquele momento que parecia flutuar. O peso em seu peito ansiando por ar fresco quase o fez deixar de sentir os dedos firmes em seu pescoço. Sentiu-se tremer com um pavor repentino.
'Louis' o nome pareceu gritar em sua mente. Harry precisava encontrar Louis. Não suportava a ideia de algo ter acontecido com o menor.
Precisava tanto de ar, mas as coisas seriam tão mais fáceis se ele pudesse vencer aquele jogo de uma vez por todas.
"Harry, por favor!"

Abriu a boca de forma desesperada em busca de ar, os olhos esbugalhando-se ao fazê-lo. Sentiu suas costas arquearem com o movimento de seus pulmões maltratados. Cada músculo de seu corpo tensionado pela falta de oxigenação.
"Harry, por favor olhe para mim" reconheceu a voz de Louis ao pé do ouvido. "Está tudo bem, respire".
O menor aninhava o corpo do maior em seus braços. Os olhos verdes tentaram focalizar em algo que não a dor em seus pulmões. Um de seus braços caiu ao seu lado com uma batida seca no concreto. Estava no chão?
Louis levou a palma de sua mão a testa de Harry, estava frio. Completamente frio, mas ainda via-se pingos de suor escorrendo em suas têmporas.
       Palavras não eram suficientes para descrever o sentimento que invadiu o menor ao que observou H arfar por ar, após minutos estático em seus braços.
Os olhos azuis lutavam para conter as lágrimas de alívio. Assim que a respiração do maior tornou-se estável, limpou distraidamente uma gota que deslizara em seu rosto sem permissão.
"Onde você estava?" Harry perguntou pausadamente, ainda tentando estabilizar seus batimentos cardíacos.
"Como assim, onde EU estava?" Louis parecia a beira de um ataque de nervos. "Estive atrás de você o tempo todo até que você tropeçou e caiu" balançava rapidamente a cabeça. "Esperei que levantasse, mas... Você não respirava mais e eu..."
Harry não deixou Louis terminar. Tomou seu rosto nas mãos, os polegares determinados em afastar mais lágrimas que faziam a face do menor corar numa tonalidade cada vez mais forte. Com os indicadores, delicadamente colocou mechas do cabelo liso atrás das pequenas orelhas, um lado por vez. Louis suspirou audivelmente.
O toque era suave a ponto do mais velho desejar poder fechar os olhos para apreciá-lo por completo. Harry aproximou seu rosto do dele e, por um milésimo de segundo, Louis permitiu-se  imaginar como seria poder inclinar o rosto apenas um pouco mais. Repreendeu o pensamento apertando firme os olhos, Harry não corresponderia.
Tão preso em suas próprias inseguranças, Louis não notou o olhar fixo do mais novo na curva de seus lábios. Muito menos ouviu sua respiração entrecortada ao roçar inconscientemente os dedos no maxilar delineado.
"Pegue seu celular" Harry afastou-se com o susto. Louis soava tão recomposto que o maior sentiu-se tolo por seus devaneios.
Tateou os bolsos em busca do aparelho, desistindo após alguns segundos. Xingou baixo enquanto levantava-se do chão acompanhado pelo menor.
"Não está comigo, devo  ter deixado na sala em que estávamos" respondeu frustrado. "Pelo menos você ainda está com o seu" apontou o aparelho nas mãos do pequeno.
"É... exceto que a lanterna consumiu toda a minha bateria" Louis tocou o Android com a mão espalmada. "Estamos fodidos".

♠️ Devil in my Brain • larry •Onde histórias criam vida. Descubra agora