>>> A narração abaixo pode ser sensível por descrever superficialmente uma crise de ansiedade, caso não se sinta bem para ler pode pular esse capítulo :)
Liam bateu as mãos em punho no metal frio à sua frente. Como pudera ser tão desatento? O balançar característico indicou estarem em movimento, mais uma vez. Apesar disso, Liam pressionava freneticamente o botão de número três. Precisava buscar Zayn, não gostava da ideia de deixar o garoto sozinho num cômodo escuro como aquele.
Especialmente tratando-se de um espaço rodeado de piscinas e poças de água suja, temia que a ansiedade aflorasse no moreno ao que se visse perdido dos demais. Zayn nunca gostara muito de estar tão próximo da água, aquilo não lhe faria nada bem.
Niall parecia sentir-se tão culpado quanto, praguejando ao esfregar o rosto com força. Ambos ouviram o nome chamado pelo amigo com o fechar das portas. Safaa.
Liam tinha certeza de que a irmã mais nova de Zayn não assistiria o show daquela noite. Costumava ser ele mesmo a conseguir ingressos para a família do namorado e sabia que Safaa estava há milhares de quilômetros de distância.
Junto de suas amigas iria comemorar o Halloween em Bradford, na Inglaterra. Enviara uma mensagem a Liam dias atrás com sua fantasia. Não existia a remota possibilidade de a garota ter viajado até Belfast, na Irlanda do Norte apenas para ver o cunhado.
Se não fora Safaa que Zayn avistara no terceiro andar, quem mais poderia ser?Balançou a cabeça para afastar as besteiras que insistiam em rodear seus pensamentos. O que havia de errado com ele? Sempre tão centrado e, ao menor sinal de algo não correndo como o planejado, desesperava-se daquela forma. Respirou fundo escorando-se contra a parede fria da caixa de metal.
Não havia motivo para ansiedade, deixaria Niall no segundo andar assim que as portas se abrissem e voltaria para buscar Zayn. Seria bem simples. Baixou os olhos satisfeito em ter encontrado uma resolução rápida para o problema.
"Zayn sabe para onde deve ir, tenho certeza que vai nos encontrar" Niall comentou, os braços cruzados em defesa. Saia que Liam estava frustrado.
"Não importa, vou buscá-lo" a resposta veio determinada. "Não me sentiria bem em deixá-lo sozinho nesse hotel dos infernos".
"Esse apagão não ajuda em nada" Niall bufou após um instante de silêncio. Não podia acreditar no que faria a seguir, mas sabia ser o correto. "Certo, buscamos Zayn e vamos de uma vez encontrar os garotos".
Liam olhou-o de canto. Niall assustava-se tão facilmente quanto Zayn, todos sabiam disso. Exigia muito do garoto oferecer-se para acompanhar Liam, principalmente envolvendo a permanência do loiro num ambiente fechado e abafado como aquele. Sorriu contido e deu-lhe um aperto nos ombros em agradecimento.
As portas escancararam-se com um ruído alto. Niall lutava contra o impulso de, prontamente, deixar o elevador a passos largos. Imaginava que, se estava sentindo tremores por seu corpo, Zayn estaria sentindo-os dez vezes mais intensos. Pensando nisso, grudou os pés ao mármore e apoiou sua destra no fino corrimão dourado na parede dos fundos.
Nenhum deles dizia nada enquanto aguardavam o fechamento das portas. Honestamente, Liam sentia o coração bater como um tambor em seu peito e jurava que, de onde estava, Niall poderia ouvi-lo. O pulso forte em sua jugular pareceu aumentar ao que as placas maciças encontraram-se com um baque metálico.
Alguns segundos se passaram sem que mais nada pudesse ser escutado. Nada além das respirações descompassadas, contribuindo para o bafo quente sentido por ambos os garotos.
Olharam-se, confusão espampada nos rostos. Não haviam saído do lugar. Por que o elevador estava parado?Liam estava ficando sem paciência. Tocou mais uma vez o número três no painel e aguardou o menor sinal de movimento. Não obteve resposta. Pressionou, então, qualquer outro botão na esperança de que ao menos as portas voltassem a se abrir. Nada aconteceu.
Niall concentrava-se na sensação familiar da barra fria contra sua pele. Se pudesse manter sua mente focada em uma única coisa, talvez não restasse espaço para o pânico que ameaçava aflorar-se em seu corpo.
Certo, iria funcionar. Liam estava tentando consertar os pequenos botões, confiava nele. Foco. Sentia as palmas cada minuto mais escorregadias. Observou a cena determinado em narrar mentalmente tudo que seus olhos registravam.
A pele pálida do dorso levava uma tonalidade diferente em função das luzes de emergência. O pulso fino exibia veias saltadas pela força aplicada na barra. As juntas dos dedos mostravam-se esbranquiçadas contra a fina camada da epiderme. Suas palmas tocavam o metal. Era frio, mas constante. Isso parecia suficiente para estabilizar o garoto naquele momento.
O tom acobreado refletia os filetes de luz acima. Niall via seu reflexo. O medo crescente gritava através de seus olhos, por mais que evitasse externá-lo. Queria tanto ignorá-lo. Apertou as pálpebras, piscando firme duas ou três vezes. Voltou o olhar para seu reflexo, sua expressão parecia estar indo de mal a pior.
As íris azuis estavam quase encobertas pelas pupilas dilatadas, precisando apertar os olhos para enxergar com clareza. Estava tão sensível. Ouvia Liam resmungando baixo, como se houvessem fones em seus ouvidos, apenas ruídos abafados chegando até si. Imaginou estar submerso em um líquido que ganhava densidade a cada lufada de ar. Era difícil respirar daquela forma.
A tensão em seus músculos servia como um aviso de que seu corpo estava entrando em curto-circuito. Conhecia bem os sintomas e percebeu estar à beira do precipício, apenas aguardando a queda. Voltou toda a sua atenção novamente para a barra cor de cobre. O metal já estava morno sob suas mãos. Morno como o ar que entrava em seus pulmões cansados. A superfície já não brilhava mais, ficara opaca.
A imagem a qual Niall desesperadamente mantinha-se focado estava distorcida. Via apenas olhos esbugalhados numa face avermelhada. Era a personificação do medo, bem alí.
Era aquilo que o encarava de volta ao olhar-se no espelho. Apenas um garotinho assustado, com traumas que impediam-no de seguir em frente.
O pensamento foi o suficiente para que emitisse um som seco ao fundo de sua garganta. Estava sem ar.
Liam virou-se ainda mais aflito ao se dar conta do que acontecia. Adentrou o campo de visão do amigo, tomando cuidado para não tocá-lo em momento algum. Sabia que o toque o faria assustar-se e piorar a crise. Já havia lidado com momentos semelhantes àquele, conhecia o procedimento. Exceto que o procedimento exigia que o garoto pudesse sair do ambiente que o fez sentir-se enclausurado.
"Niall, olhe para mim" disse e logo recebeu o olhar petrificado do menor. Liam podia jurar ter sentido seu coração contrair-se com a visão. "Vamos sair daqui, acredite em mim"
"Ar..." Niall começou mas sua garganta pareceu fechar-se no mesmo instante. Lutou contra o aperto e finalizou dizendo "Preciso de ar. Agora".
Liam não esperou mais nem um segundo, levantou-se já em direção à porta. Ele tiraria Niall daquele elevador, nem que forçasse sua saída.
Olhou ao redor buscando algo que assemelhasse-se a um cano ou peça achatada. Iria arrombar aquelas portas.
Suspirou frustrado ao dar-se conta que o interior do local era construído por peças maciças, tanto as paredes quanto o chão. Não poderia arrancar uma das tábuas ou quebrar o mármore apenas com os punhos. Levou as mãos aos bolsos das calças, deveria ter algo que pudesse ser usado alí.
Celular, cartão de visitas do hotel, goma de mascar, recibos de compras que ele não lembrava de ter feito, parecia estar de mãos atadas. Afundou os dedos no último bolso, não contendo o suspiro de alívio ao tirar de lá suas chaves de casa.
Agradeceu silenciosamente, já tocando o painel no canto esquerdo. Caso fosse possível desprendê-lo da parede, poderia usá-lo para forçar as portas. Enquanto afrouxava dois dos parafusos que mantinham a placa colada à superfície, vislumbrou Niall escorregando até atingir o chão claro.
Por Deus, como doía vê-lo naquele estado. O contraste com a personalidade doce e divertida com a qual estava acostumado deixava-o ainda mais desolado. Precisava ajudá-lo.
Um dos lados cedeu ao puxão dado por Liam, um pequeno espaço entre as placas sendo aberto com dificuldade. Não perdeu tempo, com os próprios dedos a agarrou e trouxe-a para si, causando um estrondo que fez Niall pular em seu pequeno espaço junto ao mármore.
Se achava que o elevador estava quebrado antes, agora tinha certeza. Não importava-se nem um pouco com aquela maldita caixa abafada.
Encaixou a ponta da placa bem na fenda entre as portas e empurrou-a usando todo o peso de seu corpo. Escutou a respiração ofegante de Niall ao que um pequeno vão abriu-se diante de seus olhos. Continuou a empurrar até que houvesse espaço suficiente para suas mãos e, em seguida, largou o painel a seus pés e manteve o movimento com as palmas suadas.
Niall sentiu braços ao seu redor e permitiu-se ser arrastado até que ar fresco preenchesse seus pulmões. Ao tocar o carpete sob seu corpo, sentou-se arqueando os ombros enquanto dava o que seu corpo tanto desejava. Segurou firme o pulso de Liam ainda ofegante ao seu lado.
"Obrigado" sorriu gentil ao deixar leves apertões no braço do amigo. "Muito obrigado".
"Não me assuste dessa forma de novo" Liam riu baixo ao responder. "Ainda bem que o dinheiro investido em academia está valendo a pena".
Sentindo a própria respiração estabilizando-se, Niall riu alto, o que fez com que acabasse tossindo ao final. Levantou-se junto a Liam.
"Vá para o anfiteatro, encontro você e os garotos lá" Liam achava que aquilo seria melhor para o amigo. Não gostaria de vê-lo passar por nada parecido uma segunda vez. "Vou atrás de Zayn" finalizou, já acenando para o menor.
"Sozinho você não vai" cabelos loiros caíram sobre a testa suada ao que o garoto apertou o passo para alcançar o amigo. "E nem pense que eu andaria sozinho por esse hotel, então veja isso como uma via de mão dupla".
Liam não tentou contra-argumentar. Provavelmente, permanecer juntos era o melhor para os dois. Encontraram as escadas de emergência em pouco tempo. Girou a maçaneta, mas a porta larga permaneceu fechada.
"Talvez esteja trancada" Niall comentou enquanto tentava o mesmo movimento. 'Portas de emergência não costumam ter fechaduras' pensou observando o pequeno buraco sob seus dedos.
Convenceu Liam, sem muito esforço, de que a equipe responsável pela banda saberia como encontrar a chave das escadas. Nenhum deles estava completamente confortável com a ideia de deixar Zayn naquele andar escuro por mais tempo, mas sabiam que não havia nada que pudessem fazer sem aquela chave em mãos.
Assentindo num acordo silencioso, voltaram a caminhar pelos corredores em busca do anfiteatro no qual imaginavam estar os demais.
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♠️ Devil in my Brain • larry •
FanfictionBelfast, 2015. O cancelamento do único show da carreira da One Direction se deu sem maiores explicações. Histeria entre fãs deu espaço a especulações do motivo obscuro jamais dito em voz alta. Até hoje. Minutos antes de subirem ao palco as luzes se...