O4.

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O local não era nada mal. Além de ser bonito, era imenso. Havia uma enorme faixada no começo, escrito "Praia" com tinta de pichação por cima. Uma música animada rolava, enquanto era possível ouvir algumas vozes ou gritos.

Mas por mais que toda a entrada parecesse interessante, Yumi sentiu algo ruim a preencher, ficaria de olhos abertos a qualquer evento.

— Vamos. Preciso te levar até o Chapeleiro!

— Chapeleiro? - Juntou as sobrancelhas, totalmente confusa. Ele realmente era um chapeleiro ou era um apelido? Talvez ele gostasse de Alice no País das Maravilhas.

— Todo lugar tem seu chefe, ele é o nosso. - Respondeu, abrindo o portão e indicando para ela passar.

Yumi adentrou o local, e seu olhar ficou preso no tanto de pessoas que haviam alí. Claro que, era bem longe de ser a população de Tóquio, mas era muita gente para quem ficou tantas horas sem ninguém.

Sem contar que, as meninas usavam biquínis ou roupas curtas, e os meninos usavam bermudas. Era literalmente uma praia.

— Eles são bem receptivos. - Ouviu Chishiya falar próximo de si, recebendo a atenção dela.

— Deu para notar. - Soltou uma risada soprada, enquanto notava que muitos olhavam em sua direção, com certa curiosidade. Mas sendo sincera, não havia sentido qualquer mal naquilo.

Entraram dentro do enorme prédio, e a cada passo que dava, ela se encantava mais com a beleza do local.

Atravessaram o salão principal, com Yumi seguindo o platinado por um corredor.

— Parece que temos uma novata.

Uma voz irônica e ao mesmo tempo, carregada de malícia, soou atrás dos dois. Yumi observou Chishiya, esse que parou de andar e abaixou a cabeça.

A mulher se virou de vez, permanecendo com seu semblante sério e ao mesmo tempo, calmo. Cruzou os braços no mesmo momento em que o outro se virou atrás de si.

— Niragi.

— Chishiya, não vai me apresentar a nossa nova residente? - Notou que ele carregava uma arma consigo quando esse a pousou no ombro.

Sinceramente, se ele queria intimida-la com aquela arma e aquele sorrisinho, não estava rolando.

— Eu posso me apresentar sozinha. - Descruzou os braços, dando uma rápida olhada na direção do homem ao seu lado. — Sou Yumi e pelo que entendi, você é o Niragi, poupamos apresentações.

— Então você tem atitude. - Desceu a arma do ombro, dando um sorriso de canto. — A milícia adoraria te conhecer.

— Oh, claro. Qualquer dia marcamos um cházinho e você me conta sobre ela!

— Vou levá-la até o Chapeleiro antes que ele ache ruim, vocês podem conversar mais tarde. - Chishiya pareceu querer cortar aquela conversa o mais rápido possível, por mais que estivesse até gostando da troca de farpas de ambos.

Yumi demorou seu olhar em Niragi por uns segundos antes de se virar, voltando a caminhar ao lado de Chishiya.

Pararam na frente de uma porta, e antes que abrissem, o homem começou:

— Você sabe que poderia ter levado uma bala na testa por ter falado daquele jeito com ele, certo?

— Não. - Virou-se para ele, dando um sorriso sem mostrar os dentes. — Ele não atiraria em mim naquele momento porque não senti medo dele. Eu conheço o tipo, Chishiya. Eles só querem se sentir superior, quando acham alguém que bate de frente, eles recuam. É claro que nem sempre, mas eu não o ofendi, certo?

O homem a analisou por uns segundos, antes de girar a maçaneta e abrir a porta.

Um lindo cômodo fora revelado, o que capturou novamente a atenção de Yumi. Sempre adorou decorações, e as daquele prédio são magníficas.

— Vejo que encontrou alguém, Chishiya.

Uma voz suave soou de uma parte, fazendo ambos os jovens olharem naquela direção. Um homem com cabelos compridos até a altura do maxilar; o qual era muito belo, aliás. Estava apenas com um roupão estampado de tons vermelhos, deixando seu abdômen à mostra e como qualquer um alí, estava com roupas de banho.

Ele era um homem muito bonito para ser sincero, mas Yumi odiaria dizer isso em voz alta e inflar o ego dele.

E claro que ela observou o quanto já estava inflado demais. Ser o chefe daquilo tudo? As belas mulheres semi-nuas ao lado dele no sofá? Só dizer que ele era bonito não ia nem fazer cócegas no quanto ele já estava acostumado.

— Então estão recrutando? - A japonesa perguntou levemente debochada, erguendo uma sobrancelha.

— Tecnicamente, minha cara jovem. A praia é um lugar aberto para qualquer um que esteja buscando esperança no meio desse caos inteiro.

Um sorriso de canto surgiu em seus lábios, e Chishiya notou. Por isso, encostou sua mão de leve no braço da garota.

— Deve haver mais alguma coisa. - O platinado retirou sua mão após a fala da garota. Ou ele entendeu errado, ou ela entendeu o significado de seu toque.

O Chapeleiro encarou fixamente o rosto da garota, ainda com um sorriso preso nos lábios.

Até que esse se ergueu e colocou um pouco da bebida alcoólica em um dos copinhos. Se locomoveu até os dois mais novos e estendeu o objeto para Yumi, que o pegou sem hesitar.

— Vejo que é muito inteligente, senhorita. - Ele parou de falar, ainda olhando atentamente para a mulher. — Beba, não há veneno.

Uma risada soprada saiu dos lábios dela, que virou o copinho de uma vez e o estendeu para o Chapeleiro.

— E eu não saberei? Até que não me importo em saber, para ser sincera.

— Encontre-me amanhã, e eu te contarei. - Yumi revirou os olhos, desviando o olhar até ouvi-lo aumentar o tom e continuar: — Há três regras que você deve cumprir.

— Imaginei, o que é um lugar sem suas regras, certo?

— Exatamente. E a primeira regra é bem simples: todos precisam usar roupas de banho. - Abriu os próprios braços, mostrando a roupa que usava.

— Que agradável.

Chishiya se encostou em uma parede, cruzando os braços enquanto observava o homem contar as regras para a outra.

— Segunda regra é importantíssima. - Ergueu um dedo para falar, aproximando-se um pouco de Yumi. — A Praia ficará com todas as suas cartas.

— Entendo. Mas não é mais fácil conseguir um baralho em alguma loja? - Falou, com total deboche.

O Chapeleiro a encarou, respirando fundo.

— Não banque a engraçadinha, já tenho que suportar pessoas demais assim. - Seu tom saiu sério, o que fez o sorriso da mulher sumir.

— E o que farão com elas?

— Quem entregar uma maior quantidade de cartas boas, subirá de nível. E eu lhe disse, amanhã lhe contarei tudo.

— Então você me conta amanhã, e amanhã você pode pegá-las. É justo. - Ele pareceu ponderar sobre aquilo, mas não tinha com o que se preocupar mesmo.

— Sendo assim, saiba da terceira regra. - Ele se aproximou ainda mais, deixando seu rosto extremamente próximo do dela, Yumi não se moveu um músculo. — Os traidores morrem.

— Entendido, senhor.

— Agora troque de roupa e coloque isso. - Ele estendeu uma pulseira, prateada com azul; era bem feia, mas preferiu não reclamar.

Colocou a pulseira e o encarou.

— Chishiya, leve-a até um quarto.

E foi assim que o menino voltou a sair do lugar, indo até a mulher. Ambos deixaram a sala antes de qualquer outra fala do Chapeleiro.

Tinha realmente algo estranho naquele lugar, e Yumi iria descobrir.

RAINHA DE COPAS | Alice In BorderlandOnde histórias criam vida. Descubra agora