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Nas últimas semanas desde que deixou a Casa mais vigiada do Brasil, Sarah Andrade tinha conhecido um pouco do Céu e do Inferno.

Os quartos do hotel estavam agitados e isso não a deixava pensar tanto. Ela esteve rodeada de pessoas desde o instante que voltou ao mundo real, e, sinceramente, não sabia como reagiria caso enfrentasse uma solidão de verdade. Encarar sua própria consciência depois de tantos eventos perturbadores a assustava, e Sarah precisava se distrair ainda mais na tentativa de esconder de si mesma a vergonha de reconhecer o que acontecia: que ela estava claramente fugindo do que era e do que acreditava.

Tudo era muito maximizado. Enorme, com uma repercussão estrondosa. Um passo em falso e olhos muito atentos fariam o que fosse necessário para que ela caísse, e tudo isso pela mera satisfação de serem causadores de alguma ruína. Em contrapartida, Sarah tinha provado o sabor doce do que era ter fãs de verdade, e isso, de certa forma, trazia um senso de dever cumprido. Talvez não como ela queria, mas o suficiente. Para aquelas pessoas, Sarah parecia ser justamente o que elas queriam torcer e ter por perto, apesar das suas incontáveis pisadas na bola.

Mas como retribui-los se tantos deles carregavam expectativas quase ilógicas? Como poderia mostrar que estava grata se o que muitos queriam que ela fizesse residia longe demais do alcance das suas mãos?

Essa era, de certa forma, uma das piores sensações de impotência que ela já sentiu na vida toda. E Sarah seria a última pessoa do mundo a conseguir se acostumar com qualquer nuance que seja de estar impotente. Ela queria ser capaz de concretizar o gosto daqueles que agora a acompanhavam. Queria agradá-los. Dá-los o que queriam.

Talvez não só por eles, seus fãs, as pessoas que gostavam dela. Talvez ela mesma quisesse, também. A fama fazia você se sentir meio fora de si próprio, como se flutuasse bem longe da face da Terra, mas Sarah sempre foi muito certa acerca do que tinha vontade. Ela gostava da sensação bonita e inebriante do poder. Saber quais eram as suas cartas era muito fácil a quem era assim. Difícil mesmo era tirá-las da manga e exibi-las na mesa, mergulhando no jogo sem temer as possíveis repercussões das suas escolhas. Isso, sim, a apavorava.

Sua mesa estava bagunçada quando foi procurar pelo controle da televisão. A equipe de preparação deveria chamá-la a qualquer instante, mas ela estava com dor de cabeça e não se sentia afim de adiantar nada. Jogou-se na cama em um grunhido feio e encarou a tela preta, o controle em mãos, os pensamentos distantes. Nem apertou o botão de ligar. A ponta do indicador passeou pelas sobressalências das pequenas teclas, redondas e macias e disponíveis, testando se cederia e acabaria pressionando alguma delas. Encarou a parede, a boca franzindo em um muxoxo de tique-nervoso, e então ergueu as sobrancelhas. O quarto estava barulhento, mesmo que a televisão tivesse permanecido desligada e não houvesse nada ali além da sua cabeça que pudesse produzir a ideia de algum som, ainda que totalmente imaginário.

Sarah estava realmente exausta. Até rir da própria patetice parecia esforço demais a se fazer.

Aquele dia não era um dos melhores para se estar assim. Sua agenda se tornou rigorosa naturalmente nas semanas imediatas após sua saída da Casa e nunca realmente era possível sonhar com alguma liberdade, mas, nesse caso, era um dia D. E, para ser mais específico, era o Dia 101 do Big Brother Brasil 21. Faltavam poucas horas para que a pusessem, de novo, nos confinamentos onde esteve por mais de um mês. Ela não sabia como se sentir quanto a isso.

Ser profissional ajudava no processo de se achar menos anormal entre tantos holofotes. Era o conhecido processo de se forçar tanto a acreditar que estava bem, que se acabava convencendo o próprio corpo que tudo realmente estava bem. Não estava, óbvio. A realidade era muito diferente. Mas seu rosto conseguia enviar a mensagem certa e isso era o que bastava, ao menos por enquanto.

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⏰ Última atualização: May 27, 2021 ⏰

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