Selfish

three

Havia passado na entrevista, estava me segurando para não sair correndo e gritando pela casa. Já estava tudo certo, iria começar na semana seguinte, só precisava entregar os exames.
Lembro de ter ficado pelo menos cinco minutos tentando convencer - me de que aquilo não era um sonho e que sim eu havia conseguido o meu emprego dos sonhos.
Tirado do meus pensamentos pelo toque incessante da campainha, liberei a porta sem ver quem era, pois não precisava, era mania de Yoongi encher meu saco de uma forma diferente.

— Tem novidades? – falou o mais velho enquanto sentava no sofá.

— EU PASSEI! – Jungkook gritou alegre dando pulinhos

— Mentira! Sério? – Yoongi levantou rapidamente — PARABÉNS PIRRALHO – Deu um imenso abraço em Jungkook.

Yoongi e eu ficamos por horas conversando, ele sobre seus alunos, que segundo o mesmo, cada um dava dois de mim. Não sabia se considerava um elogio ou uma ofensa, preferi que fosse um elogio.
Eu estava falando sobre a faculdade e como me sentia nervoso para a apresentação do TCC.

— E o Taehyung? Não vai contar nada pra ele?

O coração quase saltou pela boca. Do nada Yoongi havia mencionado Taehyung, eu nunca estava pronto pra falar sobre ele. Apesar de que naquela época Yoongi só ouvia falar de Taehyung, pois ambos não se conheciam. O que poderia ter continuado assim por muito tempo. Mas nunca que eu iria prever o futuro, e se pudesse, nunca teria confiado tanto em ambos.
Eu era inocente demais, pensava que os dois queriam meu bem, independente de qualquer coisa, mas nem sempre foi assim, ou eu que nunca percebia. Acho que cai na minha própria ilusão de que era as amizades mais perfeitas que eu poderia ter.

— Jungkook? Tá no mundo da lua? Porquê você fica sempre assim quando eu pergunto do Taehyung? – Yoongi questionou ao ver que seu primo estava mergulhado em pensamentos.

— Nada – balançou a cabeça fazendo negação — Eu tenho medo de falar com ele sobre isso, não quero estragar nossa amizade.

— Você que sabe, mas eu acho que você deveria tentar – Levantou e passou as mãos na roupa para disfarçar o amassado — Eu preciso ir, tenho reunião na escola, pelo visto, não posso xingar meus alunos – Falou ironicamente.

— Você e esse seu temperamento – Jungkook riu e despediu-se de Yoongi.

Estava organizando minhas coisas pra ir até a faculdade entregar um trabalho e depois, iria dar uma volta no parque. Quando saí pra fora de casa, me deparei com Taehyung apoiado no poste olhando pra rua, assim que percebeu minha presença, deu um sorriso enorme e veio ao meu encontro.

— Achei que não ia sair mais de casa – Envolve Jungkook em um abraço

— Porquê não me ligou avisando que tava aqui?

— Esqueci o celular em casa – Deu de ombros

Taehyung as vezes aparecia assim, sem nenhuma explicação na frente da minha casa e me acompanhava até a faculdade, muitas das vezes ele ia até o portão e voltava pra casa, sempre o questionei, mas nunca me deu uma resposta decente. Depois de um tempo, apenas desisti de perguntar e só aproveitava o momento.

Estávamos quase chegando na faculdade, até lá, já havíamos conversado sobre várias coisas, era tão bom e tão confortável estar com ele, eu sempre me sentia bem, ou era o que achava que sentia.

— Hyung, consegui o emprego.

— Que bom!!! Você queria tanto, fico feliz por você – Taehyung falou sorrindo.

— Tô pensando em fazer uma festinha lá em casa pra comemorar, você iria? – Olha o velho a espera de uma resposta.

— Claro que sim Jungkook, que pergunta boba – Dá um pequeno empurrão em Jungkook

Eu costumava contar muita coisa pro Taehyung, sobre quase tudo, mas ele nunca contava nada pra mim, e o odiava por ser tão fechado comigo. Ele guardava tudo pra si, e eu me sentia mal por isso, o que me doía mais ainda. Queria ser o porto seguro, alguém que ele pudesse se apoiar e confiar, alguém que ele pudesse contar todas suas preocupações e sonhos, sem medo de ser julgado.
Então apenas contentava com o que eu achava que seria melhor pra ele, ao invés de pensar em mim mesmo, se aquela amizade era boa e saudável o suficiente pra continuar como estava, se ele me fazia tão bem o quanto achava que fazia. Hoje questões assim vem em minha cabeça, porque não me dei tanta importância? Uma pena ser tarde demais para pensar nisso.