Mais um dia! Mais um dia em que eu acordei com as mesmas dores, insuportáveis, por toda a extensão da minha coluna. Essas mesmas dores que sinto há, praticamente, dois anos. Ainda não acredito, hoje vai fazer um ano e nove meses em que vivo no inferno. Antes que se preocupem, não, não é literalmente o inferno, mas sinceramente até acho que é pior do que ele.
Antes de continuar, acho melhor apresentar-me. Chamo-me Hope Dawson e a menos de três meses completei 22 anos. Nasci na Geórgia, nos Estados Unidos da América.
Vivíamos uma vida bastante alegre. Não posso me queixar da vida que tinha, pois eu era muito mais feliz do que pensava. Vivia com os meus pais, William e Jade Dawson, e com os meus três irmãos.
Sebastian é o primogênito, ele é uma versão mais nova do meu pai. Sempre foi muito sério e bastante rude com os outros, mas quando estávamos só nós os quatro ele permitia-se relaxar e divertir-se um pouco mais. Até se a cada vez que queríamos fazer alguma coisa que fosse contra as "leis" do nosso pai, ele passava-se completamente. Mas acabava sempre por ceder quando era eu que pedia.
Quando Sebastian tinha 3 anos, a nossa mãe deu à luz ao Renato. O Renato é o oposto do nosso irmão mais velho, ele é aquele típico rapaz rebelde que faz de tudo para contrariar os país. Ele passa a vida a desafiar as regras do meu pai e a trazer, às escondidas, meninas para nossa casa. De vez em quando acho que ele só faz isso para chamar a atenção do Sr. William, pois o Sebastian sempre foi visto como um príncipe aos olhos do nosso pai. Mas sejamos sinceros, esta casa não teria piada se não fosse pelo Renato. Ele até pode passar a vida a fazer asneiras mas no fundo ele é muito protetor e sempre fez de tudo para alegrar os nossos dias e para pôr um sorriso na minha cara e na dos meus irmãos.
Por último, veio James, o membro mais novo da família. Eu só sou um ano e quatro meses mais velha que ele, mas até agora continuo com a impressão que ele ainda é o meu bebezinho. Ele sempre foi o mais carinhoso e o mais inocente de todos nós. Ele era aquele que ria, mas que nunca fazia nada, de todas as piadas que eu tentava fazer ao Renato e que sempre corriam mal, de quando o Sebastian corria atrás do Renato depois de uma das partidas que ele passava a vida a fazer-lhe ou de quando os dois mais velhos se juntavam para me fazer um dos seus famosos ataques de cócegas.
E no meio daquela rapaziada toda acabou por nascer uma pequena moreninha com os olhos, idênticos a uma esmeralda, mais belos de toda a América. Ou pelos menos é isso que os meus irmãos e a minha mãe sempre diziam, e sim o meu pai nunca me disse isso.
Eu acabei por me habituar ao facto de ele nunca me ter dito essas palavras ou nem me ter chamado por nenhum apelido fofo, pois ele passava a vida a tratar dos meus irmãos, a educá-los e a treiná-los para irem combater quando chegarem aos seus dezoito anos. Acho que deu para perceber que o meu pai tem uma forte ligação com tudo que tem haver com guerras. O Sr. William foi um grande Major para os EUA, e é graça a ele que a minha família nunca passou por dificuldades a nível financeiro. Desde a mais nova idade dos meus irmãos, o nosso pai começou a fazer, regularmente, treinos com eles para que pudessem seguir o mesmo caminho que ele.
Enquanto isso, eu fui educada pela minha mãe, já que o meu pai considerava que as mulheres só servem para se casar e criar seus filhos. Mas minha mãe nunca pensou dessa forma.
E foi graças a ela e a tudo que ela me ensinou que eu consegui realizar o nosso maior sonho, sim o "nosso", pois foi a minha mãe que me transmitiu a ambição de ser enfermeira.
A minha mãe é a senhora mais encantadora e a mais inteligente que conheci em toda a minha vida. Ela sempre sonhou em poder finalizar os seus estudos e prosseguir na área da saúde, Como por exemplo: ser enfermeira ou, pelo menos, ajudante em algum gabinete médico, já que nesta época as mulheres não podem ser médicas, é um trabalho que só pode ser praticado por homens. O que pra mim é a maior estupidez possível, pois as mulheres deveriam poder fazer os mesmos trabalhos que os homens e ter os mesmos direitos. Mas eu sei que um dia isso vai se tornar possível, estes últimos anos já conseguimos muitos progressos na sociedade. Então acredito que um dia nós, mulheres, vamos ser tratadas iguais aos homens. Mas continuando, quando a minha mãe tinha dezasseis anos, foi prometida ao meu pai. Quando se casou com ele acabou por ser forçada a parar com os seus estudos, para poder cuidar de nossa casa e de Sebastian que já estava presente dentro da sua barriga. Então, desde pequena, fiz a promessa à minha mãe que me tornaria enfermeira, por nós as duas.
Eu ainda não vos falei da minha personalidade, então vamos lá.
Eu sou, literalmente, uma mistura de todos os meus irmãos. Eu consigo ser tão carinhosa quanto o James, tão brincalhona quanto o Renato e tão séria e responsável quanto o Sebastian. Mas no fundo eu tenho o meu próprio caráter, como o facto de eu ser uma grande leitora e também de não ter medo de mostrar os meus sentimentos, duas coisas que os meus irmãos raramente faziam. Eu acho que nunca cheguei a ver os meus irmãos chorarem, sem ser o James. O James chorava bastante, como qualquer criança. Mas quando fez cinco anos, nunca mais vi uma única gota escorregar pela sua bochecha. Sempre suspeitei que aprenderam a esconder os sentimentos deles, ou pelo menos não demonstrá-los em público, por causa dos treinos do nosso pai. Até porque eles começam esses treinos quando completam cinco anos.
Mas os meus irmãos continuavam a mostrar os seus sentimentos, menos aqueles que eles identificavam como sentimentos de homens fracos e perdedores, quando estávamos, os quatro, a sós. Mas eu nunca me preocupei em chorar a frente deles, pois eles diziam que isso não era um defeito, quando se tratava de mim.
Eu sempre fui muito mimada pelos meus irmãos, eles deram-me o máximo de atenção, carinho e amor que podiam. Eles passavam as manhãs na escola e os inícios da tarde a treinar com o meu pai. Enquanto eu passava a manhã a fazer limpezas junto da nossa mãe e depois o almoço para toda a família. Depois da refeição a minha mãe dedicava todo o seu tempo a ensinar-me tudo que os meus irmãos aprendiam na escola, para eu poder saber tanto ou até mais que eles.
Mas o fim da tarde era sempre reservado a nós quarto. Brincávamos, gritávamos, corríamos, saltávamos, fugíamos, riamos...resumindo, fazíamos tudo o que queríamos. Algumas das tardes eu até pedia aos meus irmãos para me ensinarem a lutar, pois era uma das coisas para a qual o nosso pai os treinava. E foi com eles que eu aprendi o mínimo para me defender em caso de urgência, e posso dizer que isso me ajudou bastante em certas situações.
E este foi um pequeno resumo da minha família. Uma família normal e feliz. E isso é o que eu mais queria neste momento, poder voltar a esses tempos.
Mas por enquanto vamos esquecer disso e continuar com o resto da história.
Vou contar-vos tudo o que se passou estes últimos anos e como está a minha vida agora ou, pelos menos, contar-vos como ela vai acabar.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Enfermeira com destino marcado
Ficção HistóricaNa Geórgia, nos USA, vivia uma menina pequena de olhos verdes, com uma família alegre e com uma vida do que há de mais normal. Mas de um dia pro outro, tudo mudou. Os sorrisos foram trocados pelas lágrimas e pelos soluços. A felicidade já não reina...