Capítulo III - O fim.

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Foi aquela decisão! Foi aquela decisão que me fez ter a certeza que já não valia a pena viver, que eu já não sentia a necessidade nem a vontade de voltar a acordar.

E lá estávamos nós, uma semana depois, dentro de um barco que não parava de balançar sobre as ondas. Daqui a uns dias íamos chegar ao nosso destino, França. A França costumava ser considerada um belo país, mas nenhum de nós ia para observar as tão famosas paisagens. Enquanto que James iria fazer parte de algum dos pelotões, eu ia acompanhá-lo como enfermeira. Não iria acompanhar só ele como todos os homens que precisariam de cuidados médicos.

Nos primeiros meses tudo correu bem, dentro do possível. James tornava-se cada vez mais forte. Ele conheceu os seus novos companheiros e se tornou amigo de vários dentre eles. Eu também conheci várias outras enfermeiras, mas só uma é que eu posso, realmente, chamar de amiga. Eu nunca consegui confiar nas pessoas, sem ser na minha família, por isso nunca tive nenhuma amizade que durasse. Mas quando conheci Ardena soube logo que seríamos mais do que simples conhecidas. Foi ela que me ensinou como tratar de ferimentos de balas e de como era a vida durante a guerra.

À noite nós mal dormíamos, mas isso não foi problema no início. Vivíamos em trincheiras, o que não era nada agradável, mas, sinceramente, era a melhor opção para evitar as balas. Quando a enfermaria não estava tão cheia, o que era raro, nós íamos ajudar no refeitório. A comida era o mais insuportável e repugnante. Eu forçava-me a comer para poder me manter saudável mas a vontade diminuía todos os dias

Agradeço aos deuses por ter conhecido Ardena, pois sem ela e sem James eu não teria sobrevivido.

<< quebra de tempo >>

Já se passou pouco mais de um ano. James se tornou sargento e neste momento está numa missão na Itália. Eu não pude acompanhá-lo, mas ele prometeu-me que voltaria são e salvo, pois esta missão não era considerada perigosa.

Hoje, tinham-me comunicado que recebi uma nova carta. Era comum receber cartas pois Sebastian nunca perdeu o hábito de as mandar. Eu também tentava lhe responder, mas nem sempre tinha tempo.

James escrevia mais que eu, pois era o único método para ele conseguir esquecer tudo à sua volta. Eu nunca fui a melhor para escrever cartas, então só pedia para James deixar um recado da minha parte no fim de cada uma. Eu sempre gostei mais de ler, então guardava todas as cartas de Sebastian para poder lê-las sempre que tinha tempo livre.

Peguei na carta que me foi entregue e fui em direção ao refeitório, onde tinha um espaço mais reservado onde eu poderia ler em paz.

As cartas de Sebastian sempre alegravam os meus dias. Ele falava sobre o seu relacionamento com a Mariane, sobre o seu trabalho, sobre os seus novos projetos, sobre os seus dias e sobre como a casa ficava vazia sem nós.

Então abri a carta e comecei a ler. Na carta ele falava da sua semana e de como estava frio nos Estados Unidos. Mas ao chegar no meio da carta ele disse que tinha uma grande novidade. O meu coração parou de bater, a última novidade que recebi por carta tinha partido uma parte do meu coração. Tinha medo de continuar a ler. A morte de Renato ainda era muito recente e ainda me traumatizava, acho que traumatizaria me para sempre.

Juntei as minhas forças e direcionei o meu olhar à continuação da carta. Não podia acreditar.

Meu deus, eu ia ser tia!

Comecei a saltar a gritar "EU VOU SER TIA!" pelo refeitório todo. Ardena ao ver a minha situação e ao, finalmente, perceber o que eu estava a dizer, veio a correr em minha direção e começou aos saltinhos comigo. Depois de me acalmar e notar todos os olhares sobre nós as duas. Nós nos recompomos e voltamos para as nossas tarefas.

Enfermeira com destino marcadoOnde histórias criam vida. Descubra agora