Capítulo II

37 7 82
                                    

Lembrar-se de coisas passadas não é de todo o modo ruim. Mas para dona Louise era sim.

"querida, as coisas velhas já se passaram, eis que tudo se fez novo. não se lembre das coisas ruins do passado, ele pode interferir no seu presente e quem sabe, no futuro."

Mamãe era uma mulher bastante religiosa, e eu admirava isso nela. Deus havia tocado em muitas áreas da vida dela e continuava mudando.

Pelo pouco que eu conhecia, sabia que guardar rancor e mágoas era algo que Deus não recomendava para seus seguidores, a minha dúvida era do porquê, e do que tinha acontecido para mamãe não liberar o perdão e se esquecer do que acontecera no seu passado.

O barulho do sinal chegou aos meus ouvidos, o que me fez sair do banheiro e ir andando em direção a minha aula de língua inglesa.

Ao adentrar novamente na sala de aula revisto a sala a procura do garoto, e quando vejo percebo que ele também faz essa aula comigo. Em uma das várias atitudes desenfreadas que eu tinha, fui na direção dele, onde se sentava na cadeira que dava uma visão privilegiada da janela e do movimento lá fora.

- Desculpa sair daquela maneira, te deixando sozinho no corredor com as mãos atadas. - sussurrei um pouco envergonhada e me perguntei se ele havia ouvido o que tinha dito.

- Fica tranquila. Não deve ser um assunto fácil para você, e eu entendo isso. Eu que deveria pedir perdão por falar de um assunto tão delicado. - tentei sorrir. - O dia lá fora parece estar ótimo.

- Mais um dia quente de início do outono. Poderia ser inverno todos os dias.

- Nada dura para sempre, é necessário em tudo ter fases. A não ser o amor de Deus por nós, esse sim, durará para todo o sempre.

- Acho que a cada dia uma porção do amor de Deus se transforma em ira sobre os humanos. - digo e percebo ele olhar para mim e depois fixar os olhos novamente para a janela.

- É certo que Deus tem motivos de sobra para ter raiva de nós, mas Ele enviou o próprio filho para morrer pela humanidade, então, acho que o amor pela criação sempre será maior. - Alioth dizia com muita convicção.

Deixei de prestar atenção em mais coisas que ele dizia quando a professora entrou na sala, denunciando que ainda tinha muito tempo para ficar ali naquele lugar.

🪂

Junto com o fim da manhã, as aulas também acabaram, e era hora de andar pela cidade procurando um suéter novo para Isabela. Vai ser difícil agradar aquela ali.

Termino de guardar a última caneta na mochila e percebo que Alioth estava me esperando. Bom, esperando alguém, não dava pra saber se era por mim.

Passando pela porta eu sorrio para ele e sibilo um "até amanhã", porém, ele fica confuso e acaba por dizer um "até!".

Antes de ir para o estacionamento da escola, tiro uma caneta da mochila e escrevo "Elisa Lewis" no papel do curso de fotografia, e sigo para o estacionamento onde Isabela e Lívia me esperam pacientemente.

- Achei que você não fosse vim nunca. - resmunga enquanto abre a porta do carro e entra. - Lisa, a gente podia comprar o meu casaco na GAP, vi um modelo novo lindo lá.

Desato a rir do seu comentário, quem em plena consciência levaria a Isabela para comprar qualquer tipo de roupa? Sairíamos de lá carregando uma prestação de 24x. Com juros.

- Vocês vão ficar em casa ajudando a tia Stella a faxinar.

Percebo seu humor mudar completamente e ela me olha com uma cara de: você tá brincando comigo, né?

A Felicidade Sob EstrelasOnde histórias criam vida. Descubra agora