Capítulo VIII

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O relógio já estava quase terminando de completar sua maratona da volta completa em uma hora quando Alioth decidiu suspirar bem fundo e muito agoniado. Logo após, se ajeitou na cadeira e afirmou:

— Estou cansado.

Acordando do pequeno cochilo, olho para ele com a testa franzida. Estávamos na estrada a mais de uma hora.

— Estaciona o carro um pouco, deve ter algum posto de gasolina para a gente esticar as pernas... se quiser eu posso dirigir e aí você vai ser meu copiloto. — Respondo enquanto arrumo a postura e coloco a vasilha de torta - já vazia - no banco de trás.

Paramos em cima de uma pequena ponte, destravei o cinto de segurança, abri a porta e joguei minhas pernas para fora.

A sensação de alívio era grande, visto que o carro não era muito apropriado para viagens maiores que 30 minutos.

— Meu Deus. — Alioth exclamou levando as mãos ao rosto. — Como é bom pisar em terra firme.

— Isso porque a gente não está nem 5 horas dentro do carro. — Rio do exagero dele.

— Ei, parece que tem uma pessoa ali. — Ele aponta para um pontinho vermelho no final da ciclovia que ficava ao lado da ponte, e sai em direção da "pessoa".

— Alioth, espera, você nem sabe quem é. — Como previsto ele não me escutou e atravessou a pista. - Fala sério.

Atravesso a pista logo depois dele, procuro por alguma placa indicando que lugar era aquele. Se eu não tivesse dormido, teria visto.

Torço para que não seja um lugar perigoso. Alioth trancou o carro, se alguém roubar a chave dele estamos perdidos.

Enquanto nos aproximamos aos poucos, percebemos que realmente se trata de uma pessoa. Mais especificamente uma garota com pouco mais de 15 anos, usando um casaco vermelho alizarina muito maior do que ela. Sentada em cima da mureta que indicava o fim da ponte, sua costa estava escorada nos muros maiores.  

Estávamos a cinco passos de distância dela quando Alioth estacou, por pouco não bati o nariz na costa dele.

Me posicionei ao lado, o vento balançava o cabelo loiro da garota. Suas mãos seguravam forte a mureta, diria que talvez ela estivesse com vontade de pular, mas no íntimo da sua alma havia um medo.

— O que iremos fazer? — Pergunto virando o rosto para Alioth e percebo que ele está com os olhos fechados. — Me dá a chave do carro vou buscar o celular, precisamos ligar... — O rapaz me interrompe segurando meu ombro me obrigando a ficar quieta.

— Não precisa de ninguém. Temos o suficiente aqui, fecha seus olhos e ore pela garota. — Ordenou sussurrando.

Soltei um riso nasalado.

— O que vai acontecer se eu orar? Se a garota decide pular a gente vai presenciar a morte dela ao vivo. Eu não saí de casa para ver alguém se matar. — Exclamo sussurrando na mesma altura.

— Respondeu-lhes Jesus: Tende fé em Deus. Em verdade vos digo que qualquer que disser a este monte: Ergue-te e lança-te no mar; e não duvidar em seu coração, mas crer que se fará aquilo que diz, assim lhe será feito. Por isso vos digo: que tudo o que pedirdes em oração, crede que o recebereis, e tê-lo-eis. — Responde dessa vez em voz audível para ambos. Olho para ele com a testa franzida. Será mesmo que toda essa fé dele vai salvar a garota? —Tá escrito na Bíblia. Livro de Marcos. Eu tenho fé, e você?

A Felicidade Sob EstrelasOnde histórias criam vida. Descubra agora