Traumas

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La estava eu, apenas nove anos de idade, minha família estava comemorando a volta de meu avô, que havia sido preso a alguns anos, o motivo nunca me falaram qual era. Eu era apenas uma criança, crescida no meio dos meninos, filha única, e de fato nunca me faltou nada. Exceto carinho, respeito e uma relação saudável dentro de casa.


Meu avô, um velho nojento, apesar de nunca ter tentado nada, ele me assediava o tempo todo, poderia haver um espaço enorme para ele passar perto de mim, mas ele fazia questão de passar relando, ele sentia prazer naquilo, eu era apenas uma criança para poder entender ou gritar por ajuda. Mas mesmo sendo uma criança eu conseguia sentir o desconforto naquelas situações. Me recordo de uma vez, eu estava na sala brincando com uma de minhas bonecas favoritas, ele chegou, não havia outros adultos naquele momento, ele pegou a minha boneca e levou para o quarto, ele se masturbou na minha boneca e depois me devolveu como se nada houvesse acontecido, quando lembro dessa cena a única coisa que consigo sentir, é nojo.


— Ember, acorda! Ember! - que voz presunçosa é essa que ousa me acordar, eu estava no meio de um sonho com meu avô, estava quase chegando na parte em que o empurro da escada, mas alguém ousou em me interromper.— O que foi? Me deixa dormir! - respondi com um tom um tanto quanto ressaquiada. Era o cretino do Lúcios, parece uma babá atrás de mim.— Olha, se eu pudesse, deixava você dormindo ai pelo resto da sua vida, estou te acordando porque o chefe mandou, ele quer notícias sobre a tal tarefa que ele mandou você fazer. - Lúcios apesar da sua arrogância, se preocupava comigo de verdade, uma pena que nossos caminhos mudaram de rumo.

— Avisa Lorenzo que assim que eu tomar uma ducha e me estabilizar, irei ao encontro dele.

 Enquanto Ember tomava banho, os pensamentos dela iam até o passado cada vez mais, ela tocava em seu próprio corpo e todos o assédio sofrido na infância vinha a tona, ela lembrar que alguém de dentro da sua casa fazia isso com ela, faz com que Ember se sinta imunda, suja, as lágrimas começam a escorrer conforme a água do chuveiro cai sobre ela. De repente, seu semblante muda, ela acabará de lembrar que independente do que aconteceu no passado, ela precisa retornar ao presente pois há tarefas nas quais ela precisa focar. Ember se arruma, veste um vestido colado vermelho de cetim que vai até acima de seus joelhos, e dessa forma, vai ao encontro de Lorenzo em seu escritório.

 (toc toc)

— Entre, a porta está destrancada.

 — Lúcios dissse que quer falar comigo - Ember ao entrar na sala, se deparou com Lorenzo olhando para os papéis em sua mesa e concentrado demais para reparar em seu vestido de cetim.

— Sim, você descobriu alguma coisa ontem? - Ele nem se quer perguntou para Ember se ocorreu tudo bem, ele só quer saber de seus negócios e interesses.

— Lógico que não, como ele poderia confiar em mim em apenas uma noite que me conheceu? Eu preciso de tempo Lorenzo, e ai terá toda informação que quiser. -  ao ouvir tais palavras de Ember, Lorenzo se levantou de sua mesa, foi até ela e segurou em seu pescoço.

— Você não precisa de tempo vagabunda, você precisa ser mais profissional no que faz! - após dizer essas palavras, Lorenzo sentiu que precisava punir Ember por sua demora.

— Tire a roupa - a expressão de Ember mostrava um certo desconforto naquele pedido.

— O que? Eu não vou tirar a roupa.

— Está desobedecendo uma ordem minha? Tire a roupa, não estou pedindo, eu estou mandando!

— E eu disse não. - Ao desobedecer Lorenzo, Ember jurou para si mesma que ele iria mata-la ali mesmo, mas não, ele fez pior, Lorenzo além de enfiar um enorme tapa na cara de Ember, a trancou dentro do porão e disse que a deixaria ali três dias sem comer.

Quando ele me deu aquele tapa a minha mente entrou em um momento dissociativo, eu comecei a ter lembranças da época em que meu pai me agredia. Ele me batia com o cinto, chinelo, ou qualquer outro objeto. Com ele não havia diálogo, era tudo na base da agressão verbal e física, aquela situação me levou a ruína, eu não conseguia gritar, nem chorar, apenas me afundar nos traumas do passado. E quando a cena que passava pelos meus pensamentos passou, eu peguei a tesoura que estava sobre a mesa, e enfiei na barriga de Lorenzo, e aqui estou eu, trancada em um porão e sem comer.

três dias depois

Eu já não tinha forças para nada, nem mesmo para chorar.

— Ember, vim te soltar. Cara, você está muito mal, não é correto isso que ele fez, eu não vou admitir isso, não vou. - Lúcios estava zangado com a atitude de Lorenzo, mas o que ele poderia fazer, ele era só mais um dos capangas do mafioso.

 Eu não conseguia falar, estava fraca demais, Lúcios então me pegou no colo e me levou para cima, para meu quarto. Me deu banho, e me ajudou a comer, me vestiu e cuidou de mim.

— Ember, eu já te conheço faz tanto tempo e mesmo que não pareça, eu tenho um carinho enorme por você, por favor, me escuta, vai embora enquanto é tempo, você merece mais, você não tem que continuar sendo a escrava dele. 

— Obrigada Lúcios, eu fico grata com a preocupação mas, para onde eu iria? Eu não tenho ninguém.

— Se você quiser, eu posso fugir com você, a gente começa algo do zero, com nomes diferentes, eu só não suporto te ver dessa maneira.

E quando Lúcios estava prestes a me convencer, alguém bate na porta. Era a empregada da casa, Maria.

— Licença, senhorita chegou alguns presentes para você.

Lorenzo comprou vários buquês de flores e joias, peças de ouro e algumas de diamante, encheu todo meu quarto com os mais diversos presentes, vestidos de grife, flores, chocolate, perfumes importados.

— Mas o que é isso tudo? Quem mandou? - e antes mesmo que Maria pudesse responder, Lorenzo apareceu e pediu que todos saíssem do quarto.

— Meu amor, vim te pedir desculpas, eu não sei onde eu estava com a cabeça quando fiz tudo aquilo, você precisa entender meu lado, eu tenho essa autoridade pra lhe ensinar a ser forte. Olha pra você vê, você foi capaz de me enfiar uma tesoura, eu sou sua fortaleza, eu te deixo mais forte, sem mim o que sobra pra você? Você é forte ao meu lado, não vamos deixar esse probleminha afetar nós dois.

— Lorenzo, você me agrediu, você nunca tinha feito isso, eu não sei se serei capaz de perdoar.

— Ember, por favor, eu pensei que estivéssemos no meio do jogo que sempre fazemos, você sempre pede para que eu bata em você no sexo, achei que era um jogo de sedução. Minha anjinha, eu interpretei mal, me perdoa, você me desapontou também, e mesmo assim eu lhe perdoei. Eu te dei uma missão e você ainda não concluiu. Não descobriu nada, você também errou.

A forma como o mafioso Lorenzo conseguia manipular Ember é perspicaz e doentia, ele consegue facilmente projetar a culpa de todas as atitudes desumanas dele nela, fazendo com que ela se sinta culpada e como se ela houvesse uma dívida com ele.

— Tudo bem, está perdoado. - ele a abraça e com mentiras diz a ela que nunca mais fará novamente, é notório seu semblante de um manipulador.

— Agora que você está melhor baby, você precisa resolver uma coisa que você mesma provocou.

— Do que você está falando?

— Mharessa encontrou seus pertences que por algum motivo, você deixou no bar de Xavier, nele tinha um telefone de emergência, o meu. Ela mandou um SMS dizendo estar com suas coisas e quer te encontrar, você está estragando seu disfarce com esses seus conflitos pessoais, espero que concerte e não me desaponte mais.

— Eu não irei lhe desapontar.

Ember se via em uma situação de dependência de Lorenzo, e ao mesmo tempo lembrava de seu rígido pai, que sempre que a humilhava, agredia fisicamente e verbalmente, chegava com presentinhos em seguida para se redimir. Não dava carinho a ela, não pedia desculpas, era tudo voltado apenas para uma coisa, bens materiais. 

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⏰ Última atualização: Mar 25, 2021 ⏰

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