Capítulo 1
O futuro e eterno rei do futebol de botão
– Vamos lá... Letra “A”. Valendo!
Ele voltou sua atenção para a folha de caderno, assim como os outros alunos da 7ª “B”. O papel estava dividido em colunas verticais, seguindo o modelo em que o professor substituto dividira a lousa usando giz. No alto de cada coluna, fora escrito o nome da categoria que representava na brincadeira: “CEP”, “Rei/imperador/presidente”, “Acontecimento histórico”, “Monumento histórico”, “Arma ou veículo de combate”, “O Hitler é...” e “Total”.
Era a terceira vez que o professor de História do colégio faltava naquele mês, e talvez a décima no ano – justo porque História era a matéria que Aurélio mais gostava. Como sempre, o substituto que mandavam não sabia patavina da matéria, e Júlio, o representante de sala, propusera mais uma vez o jogo de “Stop Histórico”, ensinando ao confuso professor como brincar daquilo com os alunos. Aurélio até gostava do passatempo, mas jogá-lo pela quarta vez em aula enquanto o professor poderia estar ensinando sobre a época em que o Brasil fora colônia de Portugal – a parte da matéria em que deveriam estar, a julgar pelo livro que a escola dava – já deixava o garoto nervoso. Além do mais, estava certo de que não conseguiria preencher todas as colunas com palavras e nomes iniciados com “A”. Dar “stop” era muito mais fácil quando caíam letras consoantes.
Em “CEP”, sigla que significava “Cidade, Estado ou País”, Aurélio colocou “Antártida”, certo de que a maioria da sala escreveria “Alemanha” ou “Argentina” e tiraria menos pontos por isso na hora da contagem de fim de rodada. Precisava considerar que “Antártida” era um continente, não um país; mas na rodada anterior a Mariana, que sentava no fundo da classe, colocara “Oceania” como CEP da letra “O”, e o professor substituto considerara correto. Ser bom de Geografia e gostar de folhear Atlas se mostrava útil em momentos como aquele. Era possível lembrar locais do mundo que a maioria nem sequer sabia que existia – havendo como lado ruim, no entanto, desconfiarem que se estava inventando, e para piorar muitas vezes nem o próprio professor tinha certeza se já ouvira falar do tal lugar.
Em “Acontecimento histórico”, colocou “Aclamação de Amador Bueno”, um fato que vira de relance no livro de História antes de a aula começar, quando São Paulo proclamara seu próprio rei, ou coisa parecida. Avançou para “Monumento histórico” e escreveu “Avenida Rio Branco” tão rápido que quase quebrou a ponta do lápis – o que o teria automaticamente eliminado da rodada pelo tempo que gastaria com o apontador. A avenida não era um ponto histórico em si, mas estava cheia de marcos e memoriais, como se lembrava da última vez que estivera nela. Caso o substituto implicasse, responderia aquilo. Não precisava se preocupar em contrariá-lo e deixá-lo talvez bravo com isso: era provável que depois daquele dia nunca mais voltasse a ver o sujeito.
Em “Arma ou veículo de combate”, Aurélio registrou “Avião a jato”, para diferenciar-se do resto da turma, que muito provavelmente só colocaria “Avião”, e por isso empataria. Logo em seguida partiu para “O Hitler é...”, e colocou “Amigo”. Por mais contraditório que parecesse, Hitler tinha de ter sido amigo de alguém, nem que fosse do Mussolini, conforme lera nos livros. Na verdade, aquela categoria estava gerando grande número de palavrões – mas o professor substituto não parecia se importar muito a respeito, a não ser por uma leve recomendação para que os alunos suavizassem o vocabulário.
Restava apenas o nome de um rei, imperador ou presidente. Aurélio viu-se pego num branco. Que nome colocaria ali começando com “A”? Desesperado para acabar primeiro, escreveu simplesmente “Amador Bueno”, imaginando se o professor implicaria com o fato de ele, de certa forma, ter se repetido. Mas o tal Amador Bueno não fora aclamado rei de São Paulo, nem que por pouco tempo? Então valia. Respirou fundo e, soltando o lápis sobre a carteira, exclamou, erguendo um braço:
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O Legado de Avalon: O Garoto, O Velho e A Espada - DEGUSTAÇÃO
FantasyQuando a lenda termina... a aventura começa. Desde que a feiticeira Morgana Le Fay passou a perseguir e aniquilar os poucos descendentes do Rei Arthur, a Ordem de Excalibur encarregou-se de espalhá-los pelas colônias e países amigos do antigo Imp...